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O F.UR.T.O.: O Renascimento de Marcelo Yuka e a Reinvenção Musical

Jeff Ferreira
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Após sua saída tumultuada d’O Rappa, Marcelo Yuka passou por um período de reclusão e reconstrução pessoal. Mas a inquietação criativa do músico não poderia ser contida por muito tempo. Em 2005, ele fundou O F.UR.T.O. (Frente Urbana de Trabalhos Organizados), um projeto musical ousado que unia sua visão artística a uma postura política transformadora.

A banda surgiu como uma resposta à necessidade de Yuka de canalizar sua dor, sua experiência e sua força em algo que ressoasse tanto musical quanto socialmente. Com um lineup talentoso, O F.UR.T.O. era formado por Jam da Silva (guitarra), Maurício Pacheco (teclados), Garnizé (percussão) e Alexandre "Batata" Rodrigues (bateria), além do próprio Yuka, que assumiu os vocais pela primeira vez.


Um Som Único com Propósito Social

A sonoridade d’O F.UR.T.O. era uma fusão de ritmos que refletiam as influências diversas de Yuka e seus parceiros. Misturando rock, reggae, dub e música brasileira, a banda trouxe um som orgânico e visceral, carregado por letras que eram verdadeiros manifestos.

O álbum homônimo, lançado em 2006, foi produzido com o apoio de Tom Capone, amigo de longa data de Yuka e uma figura-chave no cenário musical brasileiro. As músicas abordavam temas como violência urbana, desigualdades sociais e as dificuldades enfrentadas por Yuka após o episódio que o deixou paraplégico. Mais do que apenas um disco, o projeto era um testemunho das vivências do músico e uma chamada à ação para mudanças sociais.

Destaques do álbum como “De Onde Vem a Calma” e “Movimento da Massa” mostram a força lírica de Yuka, com versos que misturam poesia e denúncia, sempre acompanhados por batidas hipnóticas e arranjos ousados.


Dificuldades e Resiliência

Embora artisticamente poderoso, O F.UR.T.O. enfrentou desafios significativos. A expectativa do público e da crítica de que a banda rivalizasse com O Rappa gerou uma pressão que nem sempre correspondia à proposta do grupo. Além disso, as limitações logísticas de se apresentar com Yuka, que dependia de suporte médico constante, complicavam a agenda de shows.

Outro obstáculo foi o cenário musical da época, que favorecia fórmulas comerciais mais previsíveis, enquanto O F.UR.T.O. navegava em territórios mais experimentais e combativos. Apesar disso, a banda conquistou respeito no meio alternativo, criando um público fiel que reconhecia sua autenticidade.


Um Encerramento Natural



O F.UR.T.O. encerrou suas atividades sem rupturas ou ressentimentos. A necessidade dos integrantes de buscarem novas oportunidades financeiras, aliada às dificuldades operacionais, levou a banda a uma pausa definitiva. Ainda assim, o projeto deixou uma marca indelével na carreira de Yuka e no cenário musical brasileiro.

Yuka sempre falou com carinho do trabalho com O F.UR.T.O., considerando o disco da banda como um dos pontos altos de sua trajetória como compositor. Para ele, o projeto foi uma oportunidade de expressar sua melhor poesia, livre das amarras comerciais que por vezes limitam artistas em grandes bandas.


O Legado do F.UR.T.O.

Embora breve, a história d’O F.UR.T.O. representa um momento singular na vida de Marcelo Yuka. A banda foi um símbolo de sua capacidade de resiliência e reinvenção, uma plataforma para continuar sua luta por justiça social por meio da música.

Hoje, O F.UR.T.O. é lembrado como um projeto inovador que desafiou as convenções e provou que a música pode ser mais do que entretenimento: pode ser uma ferramenta de transformação. A jornada de Yuka com o grupo não apenas inspirou novos artistas, mas também reforçou seu legado como um dos músicos mais engajados e visionários de sua geração.




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