Em uma fusão inusitada e criativa, o Submundo do Som presta uma homenagem histórica ao primeiro registro fonográfico do Hip Hop no Brasil, Hip Hop Cultura de Rua. Lançada originalmente em 1988, a coletânea marcou época e abriu caminho para a cena nacional, dando voz a MCs e DJs que transformariam a cultura urbana do país. Agora, em 2024, o tributo ganha uma nova versão, desta vez com roupagem punk, refletindo a ligação profunda entre esses dois movimentos underground.
O projeto reimagina as oito faixas originais do álbum, mesclando a atitude contestadora do punk rock com a essência das raízes do Hip Hop. Cada faixa foi recriada por inteligência artificial, numa proposta ousada que busca capturar o espírito das ruas e as histórias que ressoam nas batidas e nas guitarras distorcidas. A ideia não é apenas homenagear os artistas do disco original, como Thaide & DJ Hum, Código 13, O Credo e MC Jack, mas também reverenciar o movimento punk, que, muito antes de o Hip Hop dominar a Estação São Bento, já era uma forma de expressão nas periferias paulistanas.
De São Bento ao Cemitério de Automóveis: A Conexão Punk-Hip Hop
A década de 1980 viu a ascensão de duas cenas paralelas em São Paulo: o punk e o Hip Hop. Embora surgidos de influências diferentes, os dois movimentos compartilharam raízes nas periferias e uma essência de inconformismo diante do sistema. A Estação São Bento, considerada o berço do Hip Hop paulistano, foi um espaço onde o rap emergiu como linguagem de resistência. Porém, antes disso, as ruas da cidade já pulsavam ao som do punk, com letras raivosas e críticas afiadas que ressoavam entre os jovens marginalizados.
O tributo do Submundo do Som à coletânea Hip Hop Cultura de Rua destaca essa relação entre os movimentos, mostrando que o espírito de revolta e a luta por voz sempre foram comuns. “Corpo Fechado”, “Centro da Cidade”, “Gritos do Silêncio”, entre outras faixas icônicas, ganharam versões punk que transportam a energia das letras para riffs de guitarra e vocais viscerais, mantendo viva a essência rebelde dos anos 80.
Uma Releitura Sem Limites Comerciais
O projeto não tem fins lucrativos e foi criado como uma forma de preservar e reimaginar a história do punk e do Hip Hop no Brasil. Ao utilizar a inteligência artificial para recriar as músicas, o Submundo do Som busca propor uma nova abordagem às releituras musicais, questionando os limites do que é original, mas sem perder de vista o respeito às obras e aos seus autores.
Esse tributo punk ao Hip Hop Cultura de Rua não é apenas uma viagem ao passado; é uma reflexão sobre o presente e o futuro. Se na década de 1980 o grito de resistência estava nas rimas e nos acordes sujos das guitarras, hoje ele continua presente nas batidas eletrônicas e nas vozes que surgem dos becos e vielas das periferias. É uma celebração de dois movimentos que, embora distintos, compartilham o mesmo DNA: a necessidade urgente de se expressar e de ser ouvido.
O tributo punk do Submundo do Som é um convite para redescobrir a história do Hip Hop e do punk no Brasil, num encontro que desafia os puristas e estimula o diálogo entre os estilos. Afinal, a cultura de rua sempre foi feita de hibridismo e resistência. E, como dizem as vozes da sabedoria, "o som das ruas nunca morre".
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