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KL Jay reúne um time de peso para homenagear o rap nacional em "A Mensagem"

Jeff Ferreira
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A Mensagem de KL Jay é um soco no estômago e um afago na alma, o tipo de disco que chega pra te lembrar de onde viemos e pra onde vamos. Numa era onde o rap se transformou, ganhou novas caras e sonoridades, KL Jay, o alquimista dos toca-discos e a espinha dorsal do Racionais MC’s, decide botar os pingos nos 'is' e mostrar que a essência continua viva, que o espírito do Hip Hop permanece insurgente.


O álbum é uma ode aos clássicos, mas não se limita a ser apenas nostálgico. Inspirado por "The Message" de Grandmaster Flash, aquela faixa icônica de 1982 que não deixou dúvidas sobre o poder do rap, KL Jay traz à tona uma homenagem aos sons que moldaram a quebrada nos anos 90 e 2000. O DJ resolveu mexer na caixa preta do rap nacional, pegou as relíquias de Planet Hemp, Rappin’ Hood, GOG, 509-E, Clã Nordestino e tantos outros e entregou essas joias para uma nova geração lapidar.


KL Jay não chegou pra dizer que o rap de antes era melhor do que o de agora. Pelo contrário, ele propõe uma ponte, uma espécie de túnel do tempo em que as vozes de outrora e os gritos do presente se encontram, trocam ideia e se fortalecem. Cada faixa é um encontro de gerações. É Dina Di renascendo na voz de Clara Lima e Ashira, que deixam "Mente Engatilhada" pronta pra disparar de novo. É Zudizilla e Karol de Souza tomando posse de "Minha Cultura" e trazendo aquele calor gaúcho que só Da Guedes sabia transmitir. É Rael e Kayode ressignificando a saudade do 509-E e mostrando que o rap ainda pode ser um abraço apertado, mesmo na distância.


O disco é caleidoscópio de beats e produções, com nomes como Xis, Laudz, Kamau e Rincon Sapiência segurando o bastão com firmeza. Mais de 20 artistas botaram a mão na massa, de MCs a beatmakers, criando uma tapeçaria sonora que é, ao mesmo tempo, familiar e nova. E o resultado é um mosaico onde cada peça tem algo a dizer, seja na batida pesada de "Não Seja Mais um Pilantra" com Jota Ghetto, Arnaldo Tifu e Dow Raiz, ou na fumaça lírica de "Fogo na Bomba", onde Tasha, Tracie e Júpi77er reacendem as chamas do De Menos Crime.

"É o Crime" chega com força, com Murica Sujão ocupando o microfone e mostrando que os gritos de revolta continuam ecoando nas quebradas. A produção de Iuri Rio Branco e o beat de B No Beat criam uma atmosfera sombria, pesada e urgente mantendo o discurso contundente do poeta do rap nacional, o GOG. Já em "Nós Somos Pesados" temos a reunião da energia vibrante de James Ventura, Mano Will e Stefanie, sob a batuta do DJ Luciano e com os graves certeiros do beat de DJ Novest. O resultado é uma celebração de força e resistência, como o Sistema Negro fez em 1995, no disco Bem Vindos ao Inferno.


"Na Locomotiva da Figa" é um passeio poético e ao mesmo tempo visceral, conduzido por RAPadura e Nego Gallo. A produção de Pupillo (Ex-Nação Zumbi) e o beat de Dr. Drumah criam uma trilha que envoca om novo Clã Nordestino, os cearenses, pernambucano e baiano fazem uma baita homenagem aos maranhenses do Clã Nordestino - sobretudo o saudoso Preto Ghóez - e o disco A Peste Negra de 2003. Esse é um som que reverbera a força das raízes e, ao mesmo tempo, a urgência de se seguir em frente, mantendo a cabeça erguida.


"Mantenha o Respeito" vem com Akira Presidente mostrando que a palavra tem poder e que o respeito é a base de tudo, no rap e na vida. Sob a produção de SAIN (Stephan Peixoto, filho de Marcelo D2) e os beats precisos de Renan Samam, a faixa tem aquele peso que te puxa pra perto e mantém o respeito das versões anteriores, seja a original, de 1995 no álbum Úsuario do Planet Hemp ou na versão de 1998 no disco Eu Tiro É Onda, do Marcelo D2.


"Rap Du Bom" é o encontro de Amiri com a essência pura do Hip Hop. Com DJ Will (filho de KL Jay) na produção e O Adotado no beat garantem que a base seja sólida, com batidas que te fazem balançar a cabeça involuntariamente assim como Rappin Hood fez originalmente nesta canção. A Mensagem se encerra de forma brilhante com "Rap Du Bom", pois essa música é uma ode ao rap nacional, homenageando diversos grupos dos anos 90 e 2000, assim como KL Jay propêm neste álbum.


Foto: divulgação.


Com direção artística do próprio KL Jay, A Mensagem não é apenas uma homenagem; é uma chamada para o futuro, um sinal de que o rap ainda tem muito chão pra percorrer. É um disco feito pra lembrar que a missão do Hip Hop sempre foi dar voz aos que a sociedade silencia, e que, enquanto houver algo a ser dito, haverá rimas para incendiar o sistema. O rap nasceu pra ser o futuro e, mesmo quando revisita o passado, aponta pra frente.


A capa do álbum, assinada pela grafiteira @jakedoobiest, é um grito de arte urbana que traduz toda a essência do projeto: uma homenagem às ruas, ao povo e à cultura que fizeram do rap brasileiro o que ele é hoje. E para os próximos 50 anos, KL Jay deixa claro que a mensagem precisa continuar ecoando, atingindo os corações que ainda não ouviram. O Hip Hop nunca foi só música; é movimento, é revolução. E enquanto a mensagem estiver sendo passada, o rap seguirá cumprindo sua missão.


KL Jay assume a direção de A Mensagem. Foto: Victor Balde


Embora o rap seja um gênero profundamente pessoal, intimista e, muitas vezes, visceral, ele é também um espaço de conexão coletiva. É aí que entra o valor das regravações, algo que ainda é novidade no Hip Hop, especialmente no Brasil. Enquanto em outros gêneros, como o samba ou o rock, revisitar e reimaginar canções clássicas é comum, no rap essa prática ainda está se consolidando. Regravar no rap não é apenas cantar os mesmos versos com novos vocais; é trazer uma nova perspectiva, com o olhar e a vivência de quem cresceu ouvindo aqueles sons e agora tem a chance de contribuir para a evolução deles. KL Jay, ao reunir mais de 20 artistas e produtores no álbum, explora justamente essa ideia: o rap é vivo e plural, feito para ressoar através das gerações.


Ao reimaginar clássicos, o álbum também dá ao rap algo que muitos outros gêneros já possuem: um repertório de reinterpretações que amplia o alcance da mensagem. No rap, regravar não é sobre suavizar a dureza da realidade, mas sim sobre ecoar as mesmas verdades de maneiras novas. Afinal, o rap é uma forma de arte que fala das dores, mas também das vitórias, das lutas individuais e coletivas. E quando a geração mais recente toma para si a missão de resgatar esses clássicos, eles estão dizendo que as lutas de ontem ainda ecoam hoje. Estão afirmando que a cultura precisa ser cultivada e que suas raízes continuam a dar frutos.


“A Mensagem” não é apenas um álbum, mas uma confraternização, um ponto de encontro entre o passado, o presente e o futuro do rap. KL Jay utiliza seu peso e relevância para manter acesa a chama do movimento, reunindo uma turma de mais de 20 artistas para celebrar não apenas o som, mas o espírito revolucionário que sempre impulsionou o Hip Hop. É como se ele dissesse: “Estamos todos juntos nisso. O rap não é só um gênero musical, é uma plataforma de vozes.” E ao reunir essa constelação de talentos, ele nos lembra que o Hip Hop não tem fronteiras de tempo ou espaço. Ele é atemporal.


Nesse disco, o passado encontra o futuro e juntos gritam que a cultura Hip Hop segue viva. A missão não é fácil, mas como diz KL Jay: “A mensagem continua a mesma – e essa é a nossa missão, perpetuá-la.” Que venham mais 50 anos de rima, batida e revolução.


Ouça A Mensagem:

 

Track List

1. Mente Engatilhada – Clara Lima, Ashira (Prod. Xis, Beat: Ashira)
2. Não Seja Mais um Pilantra – Jota Ghetto, Arnaldo Tifu, Dow Raiz (Prod. Kamau)
3. Minha Cultura – Zudizilla, Karol de Souza (Prod. Laudz, Beat: Cabes)
4. É o Crime – Murica Sujão (Prod. Iuri Rio Branco, Beat: B No Beat)
5. Saudades Mil – Rael, Kayode (Prod. DJ Nato PK, Beat: Rafa Jazz)
6. Fogo na Bomba – Tasha e Tracie, Júpiter (Prod. Rincon Sapiência, Beat: Skeeter Beats)
7. Nós Somos Pesados – James Ventura, Mano Will, Stefanie (Prod. DJ Luciano, Beat: DJ Novest)
8. Na Locomotiva da Figa – RAPadura, Nego Gallo (Prod. Pupillo, Beat: Dr. Drumah)
9. Mantenha o Respeito – Akira Presidente (Prod. SAIN, Beat: Renan Samam)
10. Rap Du Bom – Amiri (Prod. DJ Will, Beat: O Adotado)

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