Submundo do Som - Como surgiu o coletivo Família 051? Vocês sempre imaginaram que o grupo tomaria essa direção de abordar a realidade das ruas?
DIMC - O coletivo surgiu de forma natural, depois de uma colaboração entre mim, DIMC, e o MC Lodi na faixa "Inabaláveis". A amizade entre nós foi se fortalecendo. Eu e o Alliás JMR já tínhamos uma conexão de 17 anos, com várias músicas juntos. Daí veio a ideia do som "Diss pro Ego", uma colab entre nós três. Nossa sincronia e fluidez trampoando juntos criaram o coletivo. As letras seguem esse caminho espontaneamente, porque todos nós vivemos as ruas e nossas canetas refletem isso naturalmente.
Alliás JMR - O coletivo se formou de maneira bem espontânea, mas sempre com o foco em abordar a realidade das ruas. Isso fala muito sobre nossas experiências de vida.
MC Lodi - O coletivo nasceu depois do lançamento do single "Diss pro Ego", que contou com a participação do MC Lodi, Alliás JMR e DIMC. O projeto teve um retorno positivo e, a partir disso, a ideia de criar um coletivo ganhou força. Assim nasceu a Família 051, já com o intuito de lançar vários trabalhos em diferentes estilos, mas todos com o mesmo objetivo: mostrar a realidade das ruas, tanto na favela quanto fora dela.
Submundo do Som - Vocês falam muito sobre desigualdade social e violência nas letras. Quais mudanças na sociedade vocês esperam ver com a mensagem das suas músicas?
DIMC - Olha, eu, DIMC, não me coloco na posição de Oráculo, tá ligado, Jeff? Estamos sempre passando por transformações como seres humanos. Já tive fases em que meu som era mais voltado a conselhos. Mas cada um tem suas peculiaridades, suas cicatrizes e experiências. Hoje, me vejo como um narrador da vida, mostrando seu contexto, nuances e complexidades. Claro que tenho responsabilidade com a caneta, porque sei que o rap tem um poder de impacto e influência enormes. Acredito que, escrevendo nossa verdade de forma honesta, sempre haverá quem se identifique e tire proveito da mensagem para a sua própria realidade. Desigualdade social e violência são temas constantes na nossa vida, onde moramos e de onde viemos, então é natural que estejam presentes nas letras do rap.
Alliás JMR - Eu realmente acredito que o Movimento Hip Hop, através do rap, pode transformar a sociedade. Cada vida impactada é uma mudança que já está acontecendo.
MC Lodi - Com a música, meu objetivo é salvar vidas, alertar, motivar e inspirar principalmente a nova geração. Quero mostrar que é possível fazer a diferença praticando o bem, sem precisar sujar as mãos de sangue, e trabalhando honestamente.
Submundo do Som - Cada integrante do grupo traz uma perspectiva única. Como essas diferentes visões se complementam na criação das músicas?
DIMC - Geralmente, um de nós lança a ideia, uma guia, e cada um compõe sua parte pela sua própria lente. A complementação é surreal, porque as ideias sempre se conectam.
Alliás JMR - Cada um traz suas vivências e, conforme os temas propostos nas músicas, a diversidade de visões cria uma uniformidade em cada projeto.
MC Lodi - Nossas músicas são criadas a partir de temas que refletem a realidade. Cada um expressa seus sentimentos, opiniões, ideias, vivências, sonhos, expectativas e, o principal, sua fé em forma de poesia.
Submundo do Som - O coletivo utiliza uma linguagem crua e realista nas letras. Qual a importância de ser direto ao abordar temas como pobreza e violência?
DIMC - Eu sou um MC que usa muitas metáforas na minha escrita, mas na Família 051, como abordamos temas urgentes, prefiro uma linguagem mais direta, que não exige muito tempo para ser absorvida. Ouviu, já sacou, tá ligado? Pobreza e violência são mazelas que precisam de atenção urgente, então a importância de ir direto ao ponto é vital.
Alliás JMR - A pobreza e a violência estão presentes no nosso dia a dia e trazem um senso de urgência. Precisamos ser diretos para causar impacto onde quer que nosso som chegue.
MC Lodi - Não podemos medir palavras quando o assunto é pobreza, violência e criminalidade. É só olhar em volta para perceber o quanto o povo pobre sofre com a violência nas favelas, dominadas pelo crime. Todos os anos, mães perdem seus filhos por falta de segurança, oportunidade e educação. Essa é a realidade no Brasil.
Submundo do Som - Os videoclipes de "Super Ação" e "Família 051 Na Matina" são impactantes. Qual o papel do audiovisual no trabalho de vocês e na transmissão da mensagem?
DIMC - O audiovisual é imprescindível para alcançar as mensagens. Um videoclipe atinge muito mais vidas do que só um áudio. Além disso, valoriza o trabalho, especialmente quando bem executado. No nosso caso, contamos com o grande Leandro Montiel, da Selo Verde, que tem assinado os trabalhos do coletivo.
Alliás JMR - O papel do audiovisual é fundamental para retratar, através das imagens, a realidade que queremos abordar.
MC Lodi - É extremamente importante, pois traz mais inspiração para apresentarmos nossos trabalhos com total qualidade e profissionalismo, atingindo o público não só com a mensagem das letras, mas demonstrando que não somos personagens, e sim artistas reais trazendo conteúdo verdadeiro.
Submundo do Som - MC Lodi, suas letras são conhecidas por serem motivacionais. Como você lida com a responsabilidade de inspirar as pessoas com suas rimas?
MC Lodi - Eu encaro essa responsabilidade de inspirar as pessoas como uma promessa feita a Deus. Ele me deu uma segunda chance de viver e demonstrar o real valor da vida através do meu talento. Vou continuar motivando e inspirando o próximo até o fim da minha passagem por aqui, pois essa é a minha missão nesta terra.
Submundo do Som - Em "Diss pro Ego", Allias JMR mostra versatilidade ao se adaptar a diferentes estilos. O quanto a diversidade musical é importante para vocês no processo criativo?
Alliás JMR - Pô, mano, eu venho do hardcore e do punk rock. Na música, minhas referências vão muito além do rap na hora de compor e produzir. Isso faz toda a diferença e enriquece demais nossos trampos.
Submundo do Som - DIMC, você tem uma trajetória de superação. Como essas experiências pessoais influenciam suas letras e a maneira como você se conecta com o público?
DIMC - É aquele lance de a caneta refletir a sua realidade, saca? Minhas experiências pessoais sempre estão inseridas no meu som. Isso é minha característica. Acredito que essa é a melhor maneira de me conectar com pessoas que se identificam com a minha história, e essas são as que vão caminhar lado a lado contigo nas agruras da vida e também nos momentos de alegria.
Submundo do Som - Quais artistas ou grupos inspiram o trabalho de vocês? Existem influências que vão além do rap?
DIMC - Artistas que curto e me inspiram são vários, irmão. Atualmente, tenho escutado muito Dina Di, Eminem, Nirvana, Tech N9ne, Suicide Boyz, Consciência Humana, Mv Bill.
Alliás JMR - Tenho muitas influências de outros estilos musicais, como reggae, samba, gospel, MPB, punk rock, hardcore, black music e muito rap gringo e nacional.
MC Lodi - Somos inspirados em diversos artistas de diferentes estilos: Sabotage, Racionais, RZO, Charlie Brown Jr., Marcelo D2, Tim Maia, Mano Brown, Eminem. No funk, temos referências como Felipe Boladão, Hariel, MC Kadu, Menor do Chapa e outros.
Submundo do Som - A música "Família 051 Na Matina" retrata a dura realidade das periferias. O que motivou vocês a escrever essa letra e quais foram as principais inspirações?
DIMC - Esse som surgiu no estúdio. Fomos até a Zona Sul de Porto Alegre, na Vila Cruzeiro, gravar um som chamado "Perseverar", que é um funk de mensagem. O Múltiplo, que estava lá, sugeriu que fizéssemos algo em boombap. Na hora, cada um canetou sua parte. Combinamos de escrever sobre os perigos noturnos, e o som fluiu em menos de duas horas. As principais inspirações foram as vivências pessoais de cada um. O beat nos levou a viajar pelo clima da noite, da madrugada, da periferia na sua essência, e assim surgiu a obra.
Alliás JMR - Esse tema surgiu dentro do estúdio. Quando fui escrever, a principal motivação era trazer a realidade nua e crua, sem massagem.
MC Lodi - A principal inspiração foi o alto índice de mortalidade nas favelas, onde a maioria das mortes ocorre à noite. O crime predomina na madrugada, onde o filho chora e a mãe não vê.
Salve! O Submundo do Som trocou uma ideia com o coletivo Família 051, grupo formado por DIMC, Aliás JMR e MC Lodi, rappers que usam as rimas para transformar vivências em mensagens poderosas. Na entrevista, eles compartilham um pouco das histórias que moldaram o estilo e a identidade do coletivo, abordando desde as dificuldades enfrentadas como artistas independentes até as inspirações musicais que vão do rap ao punk passando pelo fun consciente. Com uma linguagem crua e realista, a Família 051 revela o que os motiva a seguir firmes na missão de inspirar e fortalecer quem vive na linha de frente da realidade das periferias. Segue o papo completo, trazendo reflexões sobre resiliência, esperança e a importância de dar voz àqueles que mais precisam. Vida longa ao Submundo do Som e à Família 051!
Submundo do Som - A colaboração com Bushido em "Super Ação" trouxe uma nova dimensão ao trabalho de vocês. Como foi essa experiência e o que vocês aprenderam com ela?
DIMC - Esse trampo foi uma bênção para nós. O Bushido já é um parceiro de longa data; ele trouxe o beat e a participação na rima. Posso dizer que ali lapidamos nosso trabalho em equipe, pois éramos quatro rappers e o produtor do clipe, cada um com suas ideias. O resultado foi um belo trabalho em equipe. Também estiveram conosco na gravação a irmã do Bushido, o cunhado dele, meu filho e minha esposa, então todos de alguma forma contribuíram, tá ligado, irmão?
Alliás JMR - Falar sobre superação e contar com a presença do Bushido nesse projeto foi fundamental; isso agregou demais. Creio que esse tema retrata a vida de todos nós, pois a história de cada um traz um testemunho vivo de superação.
MC Lodi - "Super Ação" foi uma experiência inspiradora, sendo o primeiro trabalho lançado oficialmente e dando início ao coletivo FAMÍLIA 051. A grande colaboração do Bushido na produção e na participação do projeto, com a composição da sua parte e sua apresentação bem-sucedida, foi essencial. Aprendi com esse trabalho que a união faz a diferença quando ela é verdadeira.
Submundo do Som - Vocês mencionam frequentemente a resiliência e a esperança em suas músicas. O que essas palavras significam para o coletivo?
DIMC - Como nós três somos considerados literalmente sobreviventes do campo de guerra da vida, essas palavras são indispensáveis para nós. A resiliência nos ajuda a nos reerguer sempre que necessário, e a esperança nos move com fé em melhores dias, não só para nós, mas principalmente para quem nos acompanha e se identifica.
Alliás JMR - Resiliência e esperança significam muita vida e muita fé, pois somente assim conseguimos vencer os desafios diários e buscar alçar voos ainda maiores, tanto como coletivo quanto individualmente.
Submundo do Som - Quais são os maiores desafios que o coletivo enfrenta para divulgar seu trabalho, especialmente considerando o apoio limitado dos meios tradicionais?
DIMC - As dificuldades são as de sempre para artistas independentes, principalmente quando as ideias vão na contramão do que está em voga atualmente, né, mano? Mas, graças a Deus, o trampo tem sido bem recebido por muita gente, e o feedback tem sido pra lá de positivo. Então, essas dificuldades são pequenas perto do retorno que estamos recebendo; a mensagem está indo, como a sabedoria da água, contornando os obstáculos.
Alliás JMR - Infelizmente, vivemos entre algumas bolhas e muito ego envolvidos. Às vezes, quando começamos a fazer algo relevante, sentimos que os espaços estão ainda mais fechados, talvez porque alguns nos vejam como adversários, o que está totalmente equivocado.
MC Lodi - Nossos maiores desafios são a falta de oportunidades. Não temos apoio financeiro, muito menos algum estúdio ou produtora parceira aqui no Sul. Somos artistas independentes, e tudo que fazemos sai do nosso bolso; não temos lucro com a música. Nós mesmos divulgamos nossos trabalhos através das redes sociais, enviamos para colegas de trabalho, amigos, irmãos e etc.
Submundo do Som - Quais são os próximos passos para a Família 051? Vocês já estão trabalhando em novas músicas ou colaborações?
DIMC - Sim, meu mano! Estamos com a música "Perseverar" praticamente pronta no estúdio; faltam apenas detalhes para começarmos a gravar o clipe. E já estamos trampando em uma letra nova também. Logo nas ruas, meu irmão! Gratidão pela oportunidade, meu querido irmão Jeff Ferreira! Vida longa ao SUBMUNDO DO SOM!!!
Alliás JMR - Sim, já estamos trabalhando em novos projetos. A ideia é seguir impactando a vida do nosso público com uma mensagem crua e real, com muita fé e esperança.
MC Lodi - Sim, já estamos com um trabalho em andamento, sendo produzido pelo Múltiplo Nus Beats, na pegada do funk consciente. Esse é o primeiro trabalho do coletivo nesse estilo. Além disso, temos outros projetos já saindo do papel, com participações especiais e feats.
Vim pela entrevista da família 051 não conhecia a página parabéns a todos pelo belo trabalho
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