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Cólera: A Resistência do Punk Rock Brasileiro que Nunca Silencia

Jeff Ferreira
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O Cólera é mais do que uma banda punk do nosso rock; é um grito de resistência. Uma voz ativa que atravessa gerações e permanece ecoando nas ruas e nos palcos. Fundada em 1979, o grupo surgiu em meio ao caos urbano e à efervescente cena punk da Vila Carolina, Zona Norte de São Paulo. Inspirado pelo espírito contestador do movimento punk, a banda rapidamente se consolidou como um dos pilares do gênero no Brasil, influenciando não apenas a música, mas também o ativismo social e político.


Início Rebelde e Formação da Identidade Punk




Tudo começou no final dos anos 70, quando Redson Pozzi, um jovem apaixonado por música e já influenciado pela estética punk, decidiu formar uma banda que traduzisse sua insatisfação com a sociedade. A primeira formação contava com Redson na guitarra e vocais, Valdemir Pinheiro (Val) no baixo e Pierre Pozzi na bateria. O nome "Cólera" foi escolhido com a intenção de causar impacto: expressava não apenas o sentimento de raiva diante das injustiças sociais, mas também carregava uma conotação universal que ia além das fronteiras linguísticas.


Nos primeiros anos, o Cólera explorou diferentes sonoridades e estilos, mas foi com o punk rock que encontrou sua verdadeira identidade. Com o lançamento do álbum Tente Mudar o Amanhã (1984), a banda se consolidou como uma das principais vozes do movimento punk brasileiro, abordando temas como paz, ecologia e igualdade social. Diferente de muitos grupos da época, que optavam por letras mais agressivas e nihilistas, o Cólera adotou uma postura pacifista e otimista, buscando promover a mudança por meio do ativismo.


Ascensão, Protesto e Paz: Os Anos 80 e 90




Durante os anos 80, o Cólera conquistou cada vez mais espaço na cena musical. Participações em compilações como Grito Suburbano (1982) e festivais lendários, como O Começo do Fim do Mundo, ajudaram a cimentar a banda como uma referência no punk nacional. O álbum Pela Paz em Todo o Mundo (1986) foi um marco não só para a banda, mas para o movimento punk como um todo, sendo um dos primeiros álbuns do gênero a tratar de questões ambientais e promover uma mensagem de paz.


Mesmo com sua postura engajada, o Cólera não fugiu das polêmicas e enfrentou críticas tanto de dentro quanto de fora do movimento punk. Para alguns, a mensagem pacifista e de "mudar o mundo" parecia ingênua, mas para a banda, era exatamente essa utopia que os movia. "Nós sempre quisemos mudar o mundo. Por que não sonhar grande?", dizia Redson, com seu carisma habitual.


A turnê europeia de 1987, que gerou o álbum ao vivo European Tour '87, foi outro grande feito para a banda, levando suas mensagens para além do Brasil e consolidando uma carreira internacional. Dividindo o palco com grandes nomes do punk mundial, o Cólera não apenas representava o punk brasileiro, mas o próprio espírito contestador do país.


A Tristeza com a Morte de Redson e o Recomeço


Redson


A morte inesperada de Redson em 2011 foi um duro golpe. A perda do vocalista, compositor e fundador deixou não apenas os fãs, mas também os membros da banda, em um estado de luto profundo. Muitos pensaram que o Cólera havia chegado ao fim. No entanto, a chama do punk e a mensagem de Redson ainda ardiam com força. Val e Pierre decidiram que o legado do Cólera não poderia morrer com seu fundador e, em um ato de resistência, seguiram em frente.


Com Wendell Barros nos vocais, a banda voltou aos palcos e entrou em estúdio para gravar o álbum Acorde! Acorde! Acorde! (2018), que marcou o retorno oficial do Cólera. A nova formação trouxe um frescor necessário, enquanto mantinha intacta a essência e a mensagem original da banda. "Ópera do Caos", uma das faixas do álbum, é uma declaração poderosa contra a opressão e demonstra que, apesar de tudo, o Cólera ainda tinha muito a dizer.


A Relevância Atual: Punk Rock em Tempos de Mudança




Nos dias de hoje, o Cólera continua relevante e sua mensagem permanece tão atual quanto há 40 anos. As letras da banda, que antes tratavam de temas como guerra, pobreza e destruição ambiental, hoje ressoam como profecias cumpridas. A crítica social feroz que o grupo sempre defendeu ainda encontra eco em uma nova geração de fãs, que vê no punk um instrumento de luta e transformação.


O cenário do rock nacional pode ter passado por altos e baixos, mas o Cólera continua na ativa, sendo um farol de resistência para outras bandas. Val, sempre com uma visão realista, afirma que o punk ainda tem muito a contribuir: "O punk nunca foi só música, sempre foi uma maneira de ver o mundo. E o mundo ainda precisa de muitas mudanças." Em suas apresentações, é comum ver jovens de vinte e poucos anos dividindo espaço com fãs mais antigos, todos cantando juntos as letras que nunca envelhecem.


Uma Discografia Que É História




A discografia do Cólera é um verdadeiro compêndio do punk rock brasileiro. Álbuns como Verde, Não Devaste! (1989) e Caos Mental Geral (1992) são considerados clássicos não apenas pela sonoridade crua e energia pulsante, mas pela relevância das mensagens que trazem. A luta pela paz, a defesa do meio ambiente e o protesto contra as injustiças sociais são temas recorrentes que conectam o passado com o presente, mostrando que o Cólera não perdeu sua essência ao longo das décadas.


Além dos álbuns de estúdio, a banda também é conhecida por suas performances ao vivo eletrizantes e pelos lançamentos ao vivo que capturam a energia e o espírito inigualável de suas apresentações. O álbum Ao Vivo Hangar 110, lançado em parceria com a banda Olho Seco, é um exemplo dessa vitalidade.


Legado e Futuro: Cólera Como Símbolo de Resistência




O Cólera transcendeu a música. Tornou-se um símbolo de resistência, uma voz que não se cala diante das injustiças. Mesmo em meio às mudanças e perdas, a banda nunca deixou de lutar, seja nos palcos, seja nas ruas. Com uma história marcada por altos e baixos, o Cólera mostra que o punk não é uma fase ou um estilo passageiro, mas um compromisso de vida.


Para aqueles que cresceram ouvindo os clássicos da banda, o Cólera é a trilha sonora de uma luta constante por um mundo melhor. Para os jovens que os descobrem agora, a banda representa a continuidade de uma tradição de rebeldia e contestação. O Cólera é, e sempre será, um lembrete de que é possível resistir e sonhar, mesmo quando tudo parece perdido.


Nunca Esquecer, Sempre Acordar


Se existe uma mensagem que o Cólera deixa, é a de que nunca é tarde para acordar. A luta pela paz, pelo meio ambiente e por um mundo mais justo é eterna, e o punk rock é um dos caminhos para expressá-la. O Cólera não é apenas uma banda, é um chamado. E enquanto houver injustiça, opressão e desigualdade, haverá uma voz gritando: "Acorde! Acorde! Acorde!".




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