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Atenção, Creuzebek! Mamonas Assassinas: O Filme - Uma Homenagem Incompleta

Jeff Ferreira
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Finalmente, o filme que prometia trazer de volta a nostalgia dos anos 90 e a loucura dos Mamonas Assassinas chega às telonas! A Brasília Amarela que transportava Dinho, Bento Hinoto, Samuel Reoli, Sérgio Reoli e Júlio Rasec estacionou nos cinemas, mas faltou combustível para uma homenagem "quantia alegria".

Sob a batuta de Edson Spinello, a aguardada suruba, disfarçada de filme, carrega consigo a promessa de relembrar a ascensão meteórica e o trágico fim da banda que marcou uma geração. Protagonizando o quinteto que conquistou o Brasil, os atores até que fazem bem o roda, roda e vira, com Alberto Hinoto, que já entrega no sobrenome, o cara é sobrinho de Bento e interpreta o tio no filme; Robson Lima é Júlio, Adriano Tunes é Samuel, Rener Freitas é o Sérgio e Ruy Brissac dá vida ao icônico vocalista e frontman do grupo.

Homenagem ou Dissonância?

Atores caracterizados como Mamonas

Muitos são os problemas dessa cinebiografia, a começar pela bagunça no tom do filme. Às vezes, fica difícil saber se é comédia, drama ou paródia. A caracterização exagerada, especialmente de Dinho, deixa a desejar, alternando entre parecer real e caricato. Já Adriano Tunes e Rener Freitas, como os irmãos Reoli, salvam a trama com atuações mais sólidas.

Por falar em atuações... quem se recorda da série Malhação (TV Globo, de 1995 a 2020) tá ligado nos péssimos diálogos e atuações forçadas. Alguns como Dinho, no meio da rua e sozinho, gritando: "vocês vão ver, eu ainda vou ser famoso", é digna do folhetim global. Para ser sincero, poderia até ser comparado a algo pior, como as novelas da TV Record, afinal, o filme dos Mamonas nasceu lá! Isso mesmo, o filme começou como uma minissérie na Record e parece ter sido espremido para caber na tela grande. A pressa em contar tudo faz a narrativa parecer o causo do Jumento Celestino, não dando tempo para saborear direito cada momento da trajetória dos Mamonas.

A ideia é boa, o filme se propõe a contar como a banda Utopia se transformou no fenômeno Mamonas Assassinas e colocou Guarulhos no mapa. Porém, o plano é muito mal executado, como se roteirizado pela molecada que repetia a 5ª. Não tempos a dimensão da amizade entre os integrantes da banda, Dinho entra meio que por acaso na Utopia e é isso. Não há o conflito de uma banda que fazia composições sérias como: "mergulhando no sonho me transporto para um mundo de falas verdades que só eu habito, vagando entre as nuvens em caminhos que nem eu acredito" se rendeu a letras banais como: "esse tal de Chópis Cêntis é muicho legalzinho, pra levas as namoradas e dar uns rolêzinhos". Não é qualquer músico que toparia essa mudança, faltou o filme abordar essa virada!

Outro ponto que a película peca é na péssima retratação dos anos 90. Não fosse um ou outro objeto de 30 anos atrás, a obra poderia se passar em qualquer ponto da história da última década. Além disso, participações histórias em programas como do Gugu e do Faustão foram deixadas de lado, o que faz todo o trabalho perder o peso.

A narrativa com, pouco mais de 100 minutos de projeção, deixa várias lacunas e a sensação de que toda a história é contada às pressas, meio que acompanhando a trajetória meteórica da banda, cuja fama durou apenas 8 meses, até o fatídico acidente que vitimou os Mamonas. A velocidade com que os acontecimentos são abordados não permite a devida imersão na jornada do quinteto, evidenciando a necessidade de um desenvolvimento mais amplo dos eventos e dos personagens.

Como surgiu o nome da banda e como nasceram as mais icônicas músicas é ensaboada com o sabão crá-crá. Tudo é mal explicado e tende a ser engraçado, mas acaba sendo constrangedor e triste. Por exemplo, quando o filme mostra pela primeira vez "Pelados em Santos" é quando a banda Utopia está no estúdio de Rick Bonadio gravando as faixas para o disco homônimo do grupo. Rick está detestando o empenho dos meninos e pede uma pausa para respirar. E aí, como se houvesse uma intervenção divina, Dinho e companhia entoam "Mina, seus cabelos é da hora. Seu corpão um violão...", com todos conhecendo a letra e a notas da música. Rick curte e dá aquele estalo: "é isso, vamos gravar!". A forma como o filme mostra, a música foi gravada e entrou no LP Utopia, de 1992. Porém a música não consta nesse disco que é composto pelas canções: "Horizonte Infinito", "Utopia", "Inconsciência", "Outro Lado", "Joelho" e "Sabedoria". Uma versão realmente foi gravada pela banda Utopia, intitulada "Mina" e com arranjos à la Reginaldo Rossi, versão que esteve no disco póstumo da Utopia, lançado em 1997, com as músicas do álbum de 1992 e outras gravadas no período que antecedia os Mamonas Assassinas.

E dessa forma, bem cabeça de bagre, que é contada a história de algumas composições. Outras sequer são mencionadas. O nome da banda sai em menos de um minuto, em coro todos decidem por Mamonas Assassinas do Espaço. O motivo do sobrenome "do espaço" ter sido removido é um mistério, assim como o da criação do logo da banda e várias outras coisas que circundam o grupo.

Mamonas Assassinas: O Filme

Música e Memória

As músicas do grupo foram regravadas para o filme, mantendo a essência sonora dos Mamonas Assassinas. Apesar da fidelidade instrumental, a ausência das performances caóticas e lendárias em programas de TV como Domingo Legal e Domingão do Faustão é uma lacuna que compromete a experiência, privando o público de momentos emblemáticos da banda.

Ao final, a ausência da representação do trágico acidente que ceifou a vida dos integrantes é uma escolha respeitosa, porém, de certa forma, priva a narrativa de um fechamento impactante. A sensação é de que o filme, embora uma homenagem, não captura totalmente o peso do sucesso e a história interrompida dos Mamonas Assassinas.

O longa nos leva para uma viagem cheia de altos e baixos na trajetória da banda, mas parece que a montanha-russa passa voando pelos fatos mais importantes. Fica aquele sentimento de que estamos num voo panorâmico, só vendo a paisagem, sem mergulhar de fato na história desses caras que conquistaram o Brasil.

"Mamonas Assassinas: O Filme" tenta capturar o furacão que foi a banda, mas acaba sendo uma trilha rápida por alguns momentos. É como um álbum com as músicas que amamos, mas faltam alguns acordes e refrões para nos deixar completamente satisfeitos. A homenagem é bacana, mas não completa a sensação de nostalgia e saudade que esses caras deixaram para trás.

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