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ZULU VOL.2: De César a Cristo — Zudizilla tá no mundo, mas ele é nosso.

Nathiele Saraiva
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“Lembra que eu vim ser mais
Entenda que vim ser mais
Perceba meus ideais”

Percebi. E o ano era 2011 em Pelotas, Rio Grande do Sul, em alguma festa local — posso chutar, talvez, Amnésia, Dogtown, Quintal, ou quem sabe até uma sexta comum no Wong Bar — a primeira vez que parei pra assistir ao show do Zudzilla e lembro exatamente da sensação como se fosse ontem e não há mais de 10 anos, pois é a mesma sensação que tenho ao ouvir cada trabalho dele desde então. E foi a mesma sensação com seu mais novo álbum ZULU Vol. 2: De César a Cristo, lançado no dia 13 de março.

“Eu tenho que provar pra esses cu que talento tem de onde eu sou

Tenho que provar pra esses cu que eu cresci sabendo onde eu vou” […]

Eu não sabia explicar pra amiga que estava comigo no show se era voz, as letras, as referências, a postura ou tudo isso junto que fazia ele ser diferente. Mas lembro de sempre repetir que ele era grande demais e, que a hora que saísse daqui seria grande. A hora chegou, ele foi e continua sendo grande.

“Conta pro meu filho caso eu falhe/ conta que eu tentei juntar as esquinas/ me promete que vai contar pro meu filho/ que virei lenda na esquina de uma cidade em que ninguém nos vê.”

Zulu é como aquele filme clássico que todos conhecem e quem nem todos assistiram, mas que todos sabem que é bom e que mesmo falando sobre algo que já foi falado, mostrando algo que já foi mostrado, se difere e surpreende em alguma coisa.

Em De César a Cristo ele é Zulu da guabi; do Wong; da Sweet home; amigo do Guido, do Pok, do Brum, do Micha e do Fill; e que também é o marido da Luedji, pai do Dayo; tá com o Coruja e com o Emicida; mas tá também com a B.Art, com o Eduardo Freda e o Serginho Moah. Entende? Conseguem ver como isso é grandioso e emocionante?

E consegue, mais uma vez, mostrar que ele é tudo isso. Ao longo do álbum podemos vê-lo critico como na faixa Matrix, apaixonado em A Hora Dourada, o cara das referências como em RA UN NEFER, o da Sweet Home em Salve, o que chegou lá em Sonhos Imperais e o cara que sabe aonde vai chegar como em TUDO AGORA… no entanto, o que mais me chamou atenção, me emocionou e, mais uma vez, confirmou a impressão que tenho desde o show de 2011, foi como ele começou e finalizou a obra.

“… que ano que vem eu possa te tirar desse trampo ai. Eu vou cuidar de ti e vai dar tudo certo. E ano que vem a nossa realidade vai ser completamente outra…”

Começando com a faixa “Afortunado” que inicia com uma fala de sua mãe que emociona qualquer um que já passou ou passa pela mesma situação.

A história dele é só dele, mas ele sabe que também é a de muitos que estão no lugar de onde ele veio. Ele sabe disso e faz questão de mostrar e compartilhar isso, por essa ser a história dele, mas por ser a nossa também.

A faixa OYA, que fecha o disco, dedicada à sua mãe, complementa não só a Afortunado, mas todas as outras

“Eu tô em paz e nunca tive tão bem

Consegui nesse trampo esquecer as dores que eu tenho

Eu coloquei meu empenho e minha arte tá no leilão

Porque eles não sabem quanto vale o que vem do coração

Eu só vou por essa canção porque eu demorei pra caraca

Pra me ligar que ser eterno nessa porra não é nada

Em épocas de efêmeras, sistêmicas, polêmicas, jogadas, preferi te eternizar em palavras…

Se descrevesse as cenas que tenho em mente guardadas e fizesse um filme, colocaria o público inteiro em lagrimas.

A minha dedicatória ainda é quase nada pra dizer: obrigada, mãe….”

Apesar de ser uma dedicatória pra sua mãe, também é uma confirmação sobre quem ele é como artista. Há alguns dias escrevi sobre o álbum “Quantas Vezes Você Já Foi Amado” do Baco Exu do Blues e sobre como cantar sobre o amor é revolucionário e é exatamente o que Zulu faz nessa música e além de fazer, deixa bem claro isso. Ele sabe que há muitas coisas sendo ditas e que há muitas coisas para serem ditas, mas PREFERIU (como ele mesmo diz) falar de sua mãe; da importância dela em sua vida e sua trajetória como o guri do fragata, o rapper da Sweet Home, o pai, o marido, o artista… pois ele sabe o peso e o poder da sua narrativa, da sua história. Ele sabe que é um exemplo — um dos poucos — e, por isso, é importante falar além do que já ouvimos por aí. De César a Cristo é analítico, é referência, é família, é favela, é raiz, é passado, é presente e é futuro ; é hip hop, é Pelotas, é sobre Luz, é sobre Fazer a Coisa Certa e é o Zudizilla

e mostrando pra todos, mas, principalmente pra nós, que é possível.

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