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Essa É Pra Tocar No Baile | BNegão e os Seletores de Frequência Sintonizam Lá

Jeff Ferreira
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Essa é pra tocar no baile!

Sabe qual é a diferença de uma festa bacana para uma festa de bacana? Nesse segundo episódio de BNegão e Os Seletores de Frequência, disco que sucede o aclamado debute Enxugando Gelo, os cariocas dão a letra. Sintoniza Lá é um caldeirão de influências temperado por funk, soul, rap, dub, rock e samba. Nesse álbum, Bernardo e sua banda se mostram inquietos e sem vontade alguma de permanecer em uma zona de conforto. É como se os selectas entraram na frequência ideal da boa música e agora fazem o convite para os ouvintes: sintoniza lá!

Com produção do baterista Pedro Garcia, hoje membro do Planet Hemp, o disco abre com a faixa “Alteração (Éa!)”, um funk groovado que desencadeia em um verdadeiro bailão, com letra que aborda as propriedades terapêuticas da música:

“A música gerada pra gerar alteração positiva

Equipe de construção na ativa, na estiva

De espírito pra espírito, de alma pra alma

Sigo convicto na tentativa de manter a calma

Mesmo tando no olho do furacão

Mesmo quando o coração aperta

Mesmo com o planeta em estado de alerta

Seguindo no desafio de manter a mente quieta

A espinha ereta e a cabeça no lugar”

Na sequência temos a faixa “O Mundo (Panela de Pressão)” e como o título sugere trata-se de uma análise do cotidiano nos tempos em que vivemos. O disco foi lançado em 2012, 10 + 1 anos atrás, mas segue como se essa letra tivesse sido escrita na manhã de hoje. O baixo potente  e os metais hipnóticos dão o tom dançante a letra reflexiva de Bernardo:

"Desde que o mundo é mundo ele nunca foi brinquedo

Enquanto uns choram outros se apressam pra vender o lenço

Isso nunca foi segredo

Te vendem remédio, plano de vida 

Especulando com seus medos

Nos livros Sagrados já tava escrito a muito tempo 

Qual vai ser a desse enredo, até o final. 

O mundo. 

O mundo, Panela de Pressão."

A terceira faixa é uma continuação direta da anterior: “Reação (Panela II)”. A construção musical inicia-se com um dub e reggae raiz, hora caindo para o ragga até se assumir como um riddim hipnotizante. 

"Se a panela tá apitando

Se as coisas tão esquentando

Se os trovões tão batucando

E os raios tão caindo perto

Se a panela tá apitando

Aqueles tempos tão chegando

As crises se proliferando

Como a sede no deserto"

Seguindo temos “Proceder/Caminhar”, um funk cheio de balanço com um instrumental à la Tim Maia. Uma faixa com cara de Planet Hemp. Com um ritmo forte e pulsante, essa música fala sobre a importância de seguir em frente e agir, mesmo diante das dificuldades e do medo.

“A informação é o alicerce

Sigo na fé, sigo na prece

Enquanto chega mais um teste, irmão

Agricultura orgânica, agricultura celeste

Enquanto a ignorância cresce

Enquanto o gelo se derrete”

Vamo!”, é a favorita de muitos. Um dub-jazz suingado com baixo potente e letra que fala sobre os ensinamentos da vida  e como essa de ser vivida e evoluída.

“Pois é, se tu tá no maior Saara

Tomando sopa de garfo com o bico seco

Morando em cima do sapato ou não

Tá na hora de recarregar as baterias

Energizar as ideias e partir pra cima

Partir pra vida

Seguindo na missão

Na missão evolução, irmão

Conserve a esperança viva dentro do seu coração”

A mais dançante do álbum, “Essa É Pra Tocar No Baile”, nos transporta para um baile funk dos anos 80 na periferia carioca e como título entrega, fala sobre a importância da música como uma forma de unir as pessoas e de celebrar a vida, com BNegão convocando o público para dançar. Uma homenagem aos bons ouvidos:

“Essa é pra quem fica à vontade dentro das frequências

Pra quem se mexe à vontade na verdade, da frequência grave

Essa é pra quem soma no groove

É pra quem faz a sua micro parte pra que alguma micro coisa no mundo mude

Em qualquer lugar ou dia da semana

Quem conhece não se engana

Eu disse essa é pra quem sabe

Que a diferença entre uma festa de bacana e uma festa bacana

Não é mero detalhe”

Tem hardcore também no meio do groove! A pancada vem em “Subconsciente”, uma faixa instrumental que destoa do tom do disco, mas que serve para lembrar o caldeirão de influências que o disco Sintoniza Lá  é. Aqui é posta à prova a versatilidade dos Seletores de Frequência.

A música de número oito é “Na Tranquila” e desacelera o álbum (para acelerar novamente na faixa seguinte). Nesse instrumental com baixo marcante, guitarra envolvente e metais únicos que se fundem a uma bateria gostosa que deixa tudo na tranquila, se opondo ao hardcore ouvido anteriormente.

Outro bailão é “Chega Pra Somar No Groove”, suingado por riffs e metais vibrantes e baixo que rasga no grave. Groovão classudo com destaque para o coro feito pelos Seletores de Frequência que contrasta com a voz rouca de BNegão. Um ode ao groove:

“Na versatilidade do som, na qualidade

Na comunidade ou em comunidade, cumpadi

No campo ou na cidade é assim

Seja em dia de sol ou dia de tempestade

Cada som é parte plena da soma

Na medida no dom na qualidade

Cada dom é parte plena da soma

Cada um, cada som, cada ser

Cada som é parte plena da soma”

A penúltima faixa é “Bass Do Tambô”, um funk rápido groovado e cheio de suingue com sopros que homenageiam os tambores. Bernardo fala sobre o som ancestral dos tambores e como a música possui propriedades medicinais enquanto divide seu vocal entre o rap, o dub e o punk:

“Canta pra subir, sobe lá pra ver

Decidir pra ver qual vai ser

Sente a vibração nascida do som

Canta pra subir, ergue pra seguir

Segue pra viver, sente o tempero

Os metais em brasa faiscando

O som tá na panela e o fogo tá aceso

Bastou uma fagulha e tava acesa a lenha

Bate o tambor que do baile ela tem a senha

Tem mais informação, buscando inovação, real revolução”

Fechando o disco vem a faixa-título. "Sintoniza Lá" é um reggae raiz que se inicia com riffs cadenciados e bateria marcando – performada por Bruno Buarque -, até o sopro dos metais roubarem a cena. Em seguida entra a voz de BNegão cantando sobre a importância de sintonizar com o mundo ao nosso redor e estar consciente das mudanças sociais que precisam ser feitas.

“Bota as ervas pra queimar

Pra defumar o ambiente

Surfando pelas vibrações do mundo

Eu sigo na batida, sigo no assunto pertinente

Mantendo o mistério por intermédio das suas caixas de som

Isso é barulhinho bom saindo do seu estéreo

Mantenho o bom humor mesmo quando eu falo sério”

Formado por Fábio Kalunga no contrabaixo, Robson Riva na bateria, Pedro Selector no trompete e teclados, Fábio Moreno na guitarra e Bblack vulgo BNegão na voz e produção executiva, o disco Sintoniza Lá foi gravado e mixado pelo Pedrinho Garcia que ao lado de Gustavo Lenza assina a mixagem do álbum enquanto Fernando Sanches foi o responsável pela master. Para conceber o projeto, a banda passou por quatro estúdios: Boombox, Superfuzz, Canto Do Trilho e o YB Music.

A variedade de ideias para instrumentais e arranjos, sempre dentro desse tempero do funk, e ode à black music, ao baile e música ancestral faz com que Sintoniza Lá seja um álbum poderoso e engajado, com forte mensagem social e política, ao mesmo tempo em convida os ouvintes a dançarem e celebrarem a vida. 

BNegão e os Seletores de Frequência mostram uma grande habilidade na criação de músicas que misturam diversos elementos musicais, criando uma atmosfera envolvente com o gingado e a confusão urbana e que em muito relembra uma celebre frase de Chico Science: “Diversão levada a sério”.

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