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Testamos o Chat-GPT! O que a A.I. sabe sobre o Rap Nacional?

Jeff Ferreira
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Chat-GPT, já ouviu falar, né? O termo inundou a sociedade em 2023 e só se fala nisso e nas polêmicas que a tecnologia traz. Mas afinal, o que é isso? O Chat-GPT é uma A.I., ou seja, uma inteligência artificial voltada para o usuário final e, como o nome entrega, é um chat, igual aos das saudosas salas de bate papo da UOL ou mesmo nosso WhatsApp. O usurário interage com o GPT, através do chat, fazendo perguntas e o algoritmo as responde. Então é uma espécie de Google? Mais que isso, o Chat-GPT pode entregar ao usuário linhas de código programação, fórmulas de modelagem matemática, scripts para aplicações, composições de músicas e artigos e matérias jornalísticas sobre determinados assuntos.


Assustador, não? O avanço de tal tecnologia abre discussão para inúmeros debates acerca do tema, um debate mais ou menos parecido com o uso do sample e da autoria de composições. Veja, um produtor musical usa três loops, cada um de cinco segundos, sampleados de uma canção qualquer. Essa nova produção terá ao menos quinze segundos de uma música original, além disso, os timbre de bateria, baixo e Fx vêm de samples, de alguém que em outrora tocou essas instrumentos. Então o produtor atuou mais como um arranjador sequenciando todos esses elementos. Independente das afirmações acima serem verídicas ou de não fazerem sentido na concepção de muitos, essa é uma discussão que existe, vide o caso Ed Motta.


Com o GPT é similar, pois o resultado que o algoritmo traz é uma busca pela internet. Se pedirmos para o Chat escrever um artigo, apesar de tentar seguir à risca o tema, o que nos será apresentado serão fragmentos de textos escritos pelas mais diversas fontes, um Frankenstein de frases que podem, ou não, dar sentido ao que se foi pedido. O ponto de discussão é: o texto final é de autoria de quem? Pode parecer uma dúvida tola, mas no dia 05 de março o site português Público apurou que na Amazon existem ao menos 200 livros escritos por inteligência artificial e estão à venda. Note, que o esforço por parte desses pseudos criadores de conteúdo é zero e isso fere diretamente nós que viemos da escola orgânica. Depois de copiar e colar releases a "produção" de conteúdo atingiu um novo patamar, bastando uma frase e um chat.


Tá, mas e o que o algoritmo sabe sobre o nosso rap? O rap brasileiro? 


Ok, eu quis testar a tecnologia e a queria para algo não ortodoxo. Pedi para o Chat-GPT listar os 5 piores discos do rap nacional e para minha surpresa (ou não!) o chat retornou dizendo que "como modelo de linguagem, não tenho opiniões pessoais e não sou programado para julgar ou classificar o trabalho de artistas. Além disso, rotular um trabalho artístico como o "pior" é subjetivo e pode ser ofensivo para os fãs e os próprios artistas. É importante lembrar que a música é uma forma de expressão artística e pode ser apreciada de diferentes maneiras por diferentes pessoas. O que pode não ser agradável para alguns pode ser amado por outros. O melhor é respeitar as diferentes opiniões e gostos musicais". Isso é interessante, pois do mesmo modo que alguém pode assinar um texto de A.I., o contrário também pode ser feito: o camarada escrever um texto pejorativo e e dizer que foi escrito pelo GPT. Acho que essa foi uma forma que encontraram de brecar os haters que não assumem suas tretas.


Se o Chat-GPT não podia listar os 5 piores, tentei então com os 5 melhores e voilá! Um artigo foi escrito mostrando os "cinco melhores discos do rap nacional". No entanto, esse experimento aconteceu em duas etapas, usando duas versões da mesma tecnologia, primeiro com o Chat-GPT e depois com o GPT-4, uma evolução mais assertiva desse primeiro. Veja os resultados:


Jogo dos 7 Erros


Como uma das manifestações culturais mais importantes do mundo, o rap tem ganhado cada vez mais espaço no Brasil. Desde o final dos anos 80, quando o estilo começou a se popularizar por aqui, muitos artistas se destacaram e mostraram todo o potencial do gênero. E para celebrar a riqueza da nossa produção, selecionamos os cinco melhores discos do rap nacional.


"Sobrevivendo no Inferno" – Racionais MC's (1997)

Não dá para começar uma lista sobre rap brasileiro sem falar dos Racionais MC's. E "Sobrevivendo no Inferno" é, sem dúvida, o disco mais importante da carreira do grupo. Lançado em 1997, ele é um retrato contundente da realidade das periferias brasileiras, abordando temas como violência, racismo, pobreza e desigualdade social. As letras, escritas principalmente por Mano Brown, são uma mistura de poesia, denúncia e militância, e continuam atuais até hoje.


"Nada Como um Dia Após o Outro Dia" – RZO (1995)

Formado por Sandrão, Helião, DJ Cia e Negra Li, o RZO é um dos grupos mais importantes do rap paulista. E "Nada Como um Dia Após o Outro Dia" é, sem dúvida, o disco mais marcante de sua carreira. Lançado em 1995, ele tem como tema principal a vida na favela, com letras que falam sobre a violência, a falta de oportunidades e a resistência do povo negro. O trabalho também é marcante pelos samples de música brasileira, como os de Jorge Ben Jor em "Paz Interior" e "O Trem".


"Tempos Difíceis" – Sabotage (2001)

Assassinado em 2003, Sabotage deixou um legado enorme para o rap brasileiro. E "Tempos Difíceis" é o disco que melhor exemplifica sua genialidade. Com letras que misturam poesia, crítica social e humor, Sabotage criou um dos discos mais importantes do rap nacional. Temas como violência, pobreza e desigualdade social são abordados de forma contundente em faixas como "Respeito é pra quem tem" e "Cocaína". Além disso, o disco tem participações de nomes como Instituto, Thaíde e DJ Hum.


"Ritmo e poesia" – Haikaiss (2013)

Formado por Spinardi, Qualy e SPVic, o Haikaiss é um dos grupos mais populares do rap atual. E "Ritmo e poesia" é um dos melhores discos de sua discografia. Lançado em 2013, ele tem como temas principais a rotina da cidade grande, a crítica social e as relações amorosas. O disco traz letras muito bem escritas e complexas, em um estilo que mistura o rap com outros gêneros, como o rock e o jazz. Faixas como "A Praga" e "Ponto de Vista" são destaque no trabalho.


"Boogie Naipe" – Mano Brown (2016)

Após o fim dos Racionais MC's, em 2012, Mano Brown se dedicou a sua carreira solo. E "Boogie Naipe" é o melhor disco dessa fase. Com uma sonoridade que mistura o rap com o funk e o soul dos anos 70, o trabalho é um retrato do Brasil daquela época. As letras falam sobre a vida nas periferias, as festas, as conquistas e as perdas, com uma narrativa que mescla a ficção e a realidade. O trabalho conta com participações de nomes como Seu Jorge, Hyldon e William Magalhães.


Esses são os cinco melhores discos do rap nacional, mas é claro que a lista poderia ser bem maior. O rap é um gênero que se renova constantemente, e novos artistas e discos sempre surgem para enriquecer a nossa cultura. Mas uma coisa é certa: o rap brasileiro é rico, diverso e fundamental para entendermos a nossa história.


Não é preciso citar as gafs que a A.I. cometeu, né? Mas para quem não se ligou, veja o gabarito do jogo dos 7 erros: O RZO não tem um disco chamado Nada Como um Dia Após O Outro Dia (1), este é trabalho Racionais e tampouco fora lançado em 1995 (2), o disco do grupo de KL Jay é de 2002. O RZO lançou Todos São Manos em 1999, em 1997 lançou uma coletânea homônima, em 1996 o single O Trem/Pirituba, antes disso, em 1993, o álbum Vida Brazileira, ou seja, a Rapaziada da Zona Oeste não lançou trabalho em 1995. Sabotage não tem um álbum chamado Tempos Difíceis (3), essa é o nome de uma música do Edi Rock, lançada no primeiro disco do Racionais. Provavelmente a A.I. queria se referir ao disco Rap É Compromisso, e erra ao citar as participações, Thaíde & DJ Hum e o Instituto não estiveram nesse álbum (4). O Haikaiss não lançou disco em 2013 (5) e nem tem um álbum chamado Ritmo e Poesia (6). Por fim a informação que o Racionais acabou em 2012 (7), o algoritmo não acompanhou as notícias mais recentes dos quatro pretos mais perigosos do Brasil como a turnê 3 Décadas, o documentário da Netflix ou a revelação de um novo álbum com 30 faixas!


Uma nova tentativa


Agora testando uma versão melhorada o da inteligência artificial, o Chat-GPT 4, pedi novamente que o algoritmo escrevesse um artigo sobre Os Melhores Discos do Rap Nacional. A nova versão trabalhou e entregou um texto mais assertivo de que seu antecessor. Vamos a ele:


Com o crescimento do rap no Brasil nas últimas décadas, o país se tornou uma potência no gênero, com artistas de destaque em todo o mundo. Muitos álbuns marcantes foram lançados ao longo dos anos, e selecionar apenas cinco pode ser um desafio, mas aqui estão os cinco melhores discos de rap nacional que você não pode deixar de ouvir:




"Sobrevivendo no Inferno" - Racionais MC's (1997): Este álbum é considerado um dos maiores clássicos do rap nacional. O Racionais MC's retrata com honestidade e crueza as lutas e desafios enfrentados pelas pessoas negras e pobres nas favelas do Brasil. Com letras poderosas e batidas inovadoras, este álbum se tornou um marco na história do rap nacional.




"Rap É Compromisso" - Sabotage (2001): Lançado após a morte trágica do rapper Sabotage, este álbum é um testemunho do legado que ele deixou para o rap nacional. O álbum apresenta letras poéticas e um estilo vocal inconfundível que deixou uma marca duradoura no rap brasileiro.




"Boogie Naipe" - Mano Brown (2016): Mano Brown, líder do Racionais MC's, lançou este álbum solo em 2016 e surpreendeu a todos ao se afastar do rap e se aproximar do funk e da soul music. O álbum apresenta letras emocionantes e batidas contagiantes que mostram a habilidade de Mano Brown em criar músicas que transcendem os limites do rap.




"O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui" - Emicida (2013): O rapper Emicida lançou este álbum em 2013 e rapidamente se tornou um dos mais aclamados do rap nacional. Com letras que falam sobre desigualdade social, racismo e resistência, Emicida demonstra habilidade em misturar o rap com outros gêneros musicais e criar algo único.




"Bixa" - Liniker e os Caramelows (2019): Embora não seja um álbum de rap tradicional, "Bixa" de Liniker e os Caramelows é um dos mais inovadores álbuns brasileiros da última década. Com letras sobre amor e aceitação, Liniker mostra como é possível criar música com uma mensagem positiva e poderosa.


Estes são apenas cinco dos muitos álbuns incríveis que o rap nacional produziu ao longo dos anos. Cada um desses álbuns tem seu próprio estilo e mensagem, mas todos demonstram a habilidade e a criatividade dos artistas brasileiros. Se você ainda não ouviu esses álbuns, recomendamos que você os escute o mais rápido possível.


Nesse novo exemplo o GPT foi bem melhor, quase gabaritou. Não fosse ter vacilado no último álbum, ao errar o nome do disco da Liniker. Em 2019 a artista e os Caramelows lançaram Goela Abaixo, de forma independente, um trabalho com 13 faixas. Destaque para a A.I. ressaltando que esse não é um álbum de rap tradicional.


Considerações finais


"Poesia concreta, nesse mundo de concreto

Onde janelas não se abrem

Como as que abrem nos programas de computador

Será que um NS5 realmente sabe o que é o amor?

Será que linhas como essa serão escritas por algum robô?"


O trecho acima é de Secreto (Mzuri Sana) na música "Farpas Pregos Nuvens Orações" e retrata bem esse momento que vivemos, apesar de lançada em 2006, quando nem sonhávamos com Chat-GPT. Nos dois exemplos acima, mas principalmente o segundo, que foi mais assertivo, o algoritmo foi para a internet e copiou trechos de resenhas sobre os trabalhos, talvez buscou até em sites como o Bocada Forte, Oganpazan, Submundo do Som ou algum outro parceiro, portais que não ganham créditos. 


Creio que Sobrevivendo no Inferno, independente de qualquer coisa e da posição, apareceria em uma lista de melhores álbuns do nosso rap. O mesmo vale para o Maestro do Canão, ainda mais quando falamos de clássicos. Boogie Naipe, por envolver Mano Brown, também é compreensivo de aparecer no pseudo artigo. Emicida, goste ou não, é um dos maiores artistas desse país e, emergido do e no rap, ultrapassou a bolha e tem tentáculos em outros seguimentos da música brasileira e latina. Isca fácil para o algoritmo. O mesmo vale com a Liniker, seu nome cresceu muito nos últimos anos e chegou a faturar o Grammy Latino de Melhor Álbum de Música Popular Brasileira em 2022. 


Saca como o algoritmo trabalha? Ele vai pescar onde tem peixe, quanto mais se "bomba" um nome da internet, mais fermento é posto na massa, ele cresce e afoga outros nomes de menor expressão nesse oceano da web. Obviamente uma A.I. nunca escutou uma fita K7 no fone chiando dentro do busão lotado. Ela jamais terá todas as informações necessárias para criar um ranking. Apesar de curtir todos os artistas listados pelo Chat-GPT, convenhámos, essa lista foi baseada na popularidade dos MC's na rede.


Sinceramente? Não me preocupa o avanço da inteligência artificial, mas me preocupa o retrocesso da inteligência orgânica. Nesse momento, algum perfil que ultrapassou os 10 mil inscritos através de robôs que, pagando bem, dão seguidores, logo estão fazendo posts carrocel com algum top 5 criado - mesmo que erroneamente - pelo GPT e os blogs que antes só replicavam releases agora podem gerar conteúdo "original". Bem vindos a 2023.

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