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A História de Mag, o Fundador do Facção Central

Jeff Ferreira
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O Facção Central é conhecido por seu texto cru e direto, um dos grupos que mais impactaram o rap nacional. Com grande ascensão na vira dos anos 1990 para os anos 2000, até hoje os versos entoados por Dum Dum e Eduardo Taddeo inspiram e influenciam rappers por todo país.


Apesar dos dois MC's citados serem os mais famosos na entidade chamada Facção Central, o grupo não começou com eles e sim um um jovem que atendia pelo vulgo de MC Nego.


MC Nego, hoje conhecido como Mag, montou um grupo de rap com Jurandir, Haysten e alguns amigos dos bairros da região central de São Paulo como Aclimação, Glicério e Cambuci e o batizou de Facção Central, isso em 1989. Os parceiros de Mag, todos de classe media alta, não botaram fé no projeto e a coisa não decolava. Paralelo a isso, o jovem Washington Roberto Santana, que atendia pelo apelido de Dum Dum - dado por sua avó, devido a um personagem negro dos gibis -, tentava o rap após se encantar com o estilo ao ver um show do Racionais MC's. Dum Dum rimava no grupo Fator Extra e também tinha parceiros que não levavam a sério a parada. Mag viu verdade em Dum Dum, então o chamou para integrar o Facção Central, logo após Jurandir deixar o grupo.


Depois, em 1994, Haysten deixa o Facção Central e Eduardo Taddeo chega ao bonde. Carlos Eduardo Taddeo teve seu primeiro contato com o rap quando um familiar roubou um toca-fitas, o qual havia uma K7 com o som de Thaíde e DJ Hum. Inspirado na dupla, Eduardo começou a escrever suas letras e integrou o grupo Esquadrão Menor. No entanto esse projeto de Taddeo não decolou e Mag, assim como fez com Dum Dum, convidou Eduardo para ingressar no Facção.


Foto de 1993 com DJ Garga, Eduardo Taddeo, Mag (na época MC Nego) e Dum Dum

Em entrevista para o portal Movin' Up, Mag declara:


"Aliás, fui eu que descobriu os 2 [Dum Dum e Eduardo] e o público só veio a confirmar o que eu já havia visualizado anos mais tarde. Acho que levo jeito pra coisa! (risos)"


Coletânea Movimento Rap e a Música "Cor"

Capa da coletânea Movimento Rap II, lançada em 1993 pela Rhythm And Blues

O Facção Central começava a se destacar no início dos anos 90. O selo Rhythm And Blues lançou em 1992 a coletânea Movimento Rap trazendo os grupos RPW, Filosofia de Rua, Zona Negra, Fatos Reais, Negros Conscientes e The Brothers Rap. O disco foi um sucesso e ajudou a divulgar o rap. Em 1993 a Rhythm And Blues lança um segundo volume desse projeto, o Movimento Hip Hop 2 com os grupos Conflito Negro, Rap Boys, Quadro de Vida,  Redação Rap, Master Moving, D + do Rap, Dobow T e Facção Central.


Com composição de Mag, o MC Nego, o Facção debuta com a música "Cor":


"Se imponha, sendo negro ou branco porque vergonha?

Vocês não sabem o quanto eu me orgulho por ser negro

e honro a minha cor.

Se eu fosse branco certamente eu teria o meu valor.

Indiferentes somos, independente de raça, 

mas racismo é moda que não acaba e não passa".


"Cor" é uma canção com a atmosfera do rap brasileiro da virada da década de 1980 para 1990. Um música distante dos versos sangrentos que o Facção iria entoar anos mais tarde, mesmo assim um rap de "ataque" com letra direta e instrumental pesado caracterizado por riffs de guitarra e scratches.


Aqui é necessário um parenteses sobre esse período da história do Facção Central. Eduardo em entrevista para o Gringos Podcast (veja aqui - aos 23 minutos) comentou sobre sua primeira experiência em estúdio e revelou que no dia da gravação de "Cor", o produtor deu a letra para o grupo: "os mano ali é da hora, mas o branquinho não é do bagulho não". Eduardo estava em um nível bem abaixo dos demais e até foi sugerido que na parte dele todos cantassem ao mesmo tempo para abafar a voz "ruim" de Taddeo. Como resultado, Eduardo participou somente do refrão, não vemos sua icônica voz na nessa canção.


Outro ponto sobre a música "Cor" é que no final dela o Facção Central canta sua formação citando seus integrantes: Nego (Mag), Dum Dum, DJ Garga e F-7. Repare que Eduardo Taddeo não é citado, mesmo ele estando em estúdio com os parceiros de grupo. Porém, um tal F-7 é mencionado, nada se sabe desse integrante, poderia ser apenas alguém do estúdio, como também poder ser um nome artístico que Eduardo tinha, mas isso é apenas uma hipotese e não uma afirmação. Se alguém souber mais algum detalhe, deixe aí nos comentários.


A Saída de Mag

Mag em foto divulgação. Extraída do blogspot Gangsta Hip Hop

Apesar de faixa gravada em coletânea, o rap não era capaz de sustentar os músicos. A pressão na casa de Mag para que ele levantasse uma grana era grande. Por esse motivo MC Nego deixa o Facção Central. Em entrevista para o portal Movin' Up o artista revela o que houve:


"Naquela época eu era praticamente uma criança e os problemas que eu passava dentro de casa traziam cobranças implacáveis. O rap não dava dinheiro e eu precisa levar grana pra casa e quando não levava era um inferno".


Quando Mag sai do Facção Central para tocar sua vida, ele deixa o grupo e o nome nas mãos de Eduardo Taddeo e Dum Dum, que junto de DJ Garga seguem com a proposta de protesto e denuncia em forma de rap. Em 1995, pela Discovery G1, o Facção lança o álbum Juventude de Atitude, onde a música "Artistas ou Não" dialoga com esse momento que culminou na saída de Mag, falando justamente do fato de pessoas ligadas ao rap e Hip Hop não serem tratadas como artistas e como consequência não conseguirem se sustentar com sua arte.


O Destino de Mag

Mag, foto extraída do blogspot Gangsta Hip Hop

Pois bem, o caminho traçado pelo Facção Central todos conhecemos, afinal o grupo se tornou uma das maiores escolas do segmento gansta. Mas e Mag? O que o artista fez desde que deixou o grupo? Em mesma entrevista para o Movin' Up, Mag revela que:


"Eu estava precisando de paz. Adorava o rap mas fui percebendo com o tempo que gostava muito mais da minha vida, e largar o Facção Central foi a sensação de missão cumprida e depois respirar na estrada aquela brisa com cheiro de mato molhado".


A primeira mudança foi no nome, MC Nego passou a atender por Mag e seguiu fazendo música. No entanto, Mag foi para outro caminho, e digamos que até oposto ao do Facção Central, o artista também comenta sobre isso para o Movin' Up:


"Acredito também que o rap estava me deixando meio 'pancada da cabeça', pois assuntos tão radicais exigiam muita cobrança dos que viviam ao meu redor".


Duas composições de Mag ficaram muito conhecidas. Uma delas no pagode, "Patricinha do Olho Azul" foi gravada por vários artistas do segumento, entre eles Lucas Morato e o grupo Bom Gosto. "Patricinha do Olho Azul" foi composta como um rap em 1997 e entregue ao grupo Bom Senso, o vocalista da banda de pagode, o Mug, em entrevista para o Portal R7 contou sobre o episódio:


"Quase que a gente não gravou Patricinha De Olho Azul. Quando ela chegou até a gente, gostamos logo de cara, mas eu não estava conseguindo interpretar direito a música porque não sou do rap e não estava conseguindo me encontrar. Depois, consegui achar minha maneira de cantar".


Um trecho de "Patricinha do Olho Azul":


"De black ou nagô, relógio paraguaio

Eu já 'to quase atrasado pra sair com ela

Tênis do camelô, um perfume de caô

Sem dinheiro na carteira pra sair com ela

Eu preciso de um favor"


A outra música fez sucesso na voz de Mag. No estilo rap maromba, "Quer Tomar Bomba?" se tornou um hit entre os paraticantes de musculação e abriu as portas para Mag na cena do rap que foge dos dilemas periféricos eflerta com as desaventuras da classe média. Veja um trecho da canção:


"Vagabunda me critica

Fala que faz mal

Mas quando passa um bombado, é a primeira a dar moral

Dizem que ela vai pro fígado, fode o coração

Deixa brocha, estressado

Mas também tem o lado bom"


Outro depoimento importante de Mag é sobre não se sentir bem no Facção Central, outro motivo que explica sua saída e sua virada de chave nas composições. Mag também reforça que nunca usou o nome do ex grupo para conseguir alguma vantagem e que recomeçou do zero:


"Quando saí do grupo senti que fiz a coisa certa. Fundei o grupo mas não queria mais aquilo para minha vida e como tudo que faço até hoje, fui e não voltei mais, deixei o nome com o Eduardo e Dum-Dum e segui meu caminho. Fico feliz de nunca ter utilizado o nome do grupo para crescer como Mag".


É bem verdade que Mag não precisou usar o nome do Facção para seguir sua caminhada na música. No entanto, o artista faz questão de ser lembrado como o criador do FC. Em seu perfil no Spotify, Mag inicia a citação aos seus atributos frisando que é "fundador do grupo de Rap + polêmico do País, o 'Facção Central'”, porém, por irônia do destino, o Fação se tornou um grupo polêmico  depois que Nego deixou o projeto. De fato Mag é o criador do Facção Central, mas não o Facção peitou o sistema e sim um embrião do que viria a ser a contundência em forma de rap com os locutores do inferno.


Para finalizar, um trecho da entrevista do Dum Dum no Az Ideia Podcast, o rapper fala muito bem do Mag e da sua importância para a formação do grupo. Dum Dum também explica que perdeu o contato com o amigo que ficou um tempo fora do país.



Abaixo o texto extraído na íntegra do perfil de Mag no Spotify, onde o rapper afirma revolucionar várias frentes da nossa música e aponta dados sem fontes e que minimamente mereciam uma explanação melhor antes de serem divulgados. Leia e tire suas conclusões sobre a trajetória (ou autoestima de Mag). Na música "Fênix Pros Faladores" Mag dispara:


"Se eu quiser eu faço média com o rap original,

Antes do rap ser o rap eu era Facção Central .

Minha levada nesse fogo e pra lembrar o Mano Brown

Pra te mostrar que se eu quiser tenho talento e faço igual"


Perfil do Mag no Spotify:

Facção Central: Eduardo Taddeo, Dum Dum, DJ Garga e Mag. Foto extraída do Last.fm


"Multistrumentista, Produtor Musical, fundador do grupo de Rap + polêmico do País, o “Facção Central”, Mag é o criador dos “Maiores Fenômenos dos anos 2000 no Brasil a nível de comportamento e linguagem inspirando assim + de 70% dos conteúdos hoje disponibilizados no Youtube e Plataformas Digitais. O 1º Artista no Brasil a utilizar a Internet e mencionar temáticas como o Universo dos “Esportes Radicais”: Encontros de Carros, Motos, Lutas, Skate, Futebol Freestyle, Academias, Streeball ... Autor de Obras dentre as + executadas do País Mag inovou o “Funk Carioca” o “Pagode (Samba)” o “Rap” e o Arrocha (Sertanejo - Paredões) e hoje se mantem entre os autores + interpretados do Brasil onde 60% dos Artistas e Celebridades de Prestígio Nacional e Internacional o interpretam de forma espontânea. A temática aplicada pelo artista Mag em suas criações hoje já é considerada a + plagiada do Brasil e continua inspirando toda a geração dos Anos 2000 inovando assim a linguagem do País de forma definitiva. Mag retorna a cena musical no ano de 2020 e assume uma militância contra “Racistas” que legitimam “Pseudo artistas charlatões” que se apropriam das criações do “Homem e da Mulher Negra” subestimando-os na sua capacidade de percepção em relação à descaracterização de seu legado tal como suas criações para o enriquecimento ilícito, fomentando assim a “Escravidão e a Exploração Moderna” através da “Apropriação Cultural e Regional” nas Plataformas Digitais e no Mercado Artístico".


Em 2020 Mag subiu na plataforma de streaming um álbum, intitulado Mag, com 10 faixas, todas bem elaboras e com execelente produção (o que não quer dizer que o trampo é bom!), além de muitas vizualizações e com grande volume de ouvintes mensais. Se liga:


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