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Morra de Inveja, Eu sou Favela marca a estreia do o rapper potiguar Cafuzo da Baixada

Jeff Ferreira
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 Rapper potiguar explora sonoridades e progresso das comunidades em seu primeiro álbum.

Ilustração: @rastagustavo


Mônis Barros


Quando penso em favela hoje em dia, penso na expressão mais plural de uma das tecnologias ancestrais de sobrevivência em um território que na teoria nos declara humanos, entretanto, nas ruas e quebradas existir durante a ronda deles é crime. Mas ao contrário do fetiche colonial no qual as comunidades vivem a escassez, o rapper potiguar Cafuzo da Baixada (José Kleber Alves Lima, 33) como um bom filho de Xangô e juiz das ruas da Baixa do Cão, zona oeste de Natal, mostra que favela é prosperidade, responsa e ancestralidade.


‘Morra de Inveja, Eu sou Favela’ é um álbum carregado de um futurismo favelado o qual tem sua própria estética e usa dela como código no campo de guerra da apropriação; que, em vão, tenta afetar a autoestima de quem é cria. A camisa de time é código para superação financeira e acima disso: lealdade às raízes. Ou como é mais bonito no dialeto favelado, “não troco minhas áreas”. O álbum produzido mais uma vez em parceria com Walter Nazario, grande beatmaker do Rio Grande do Norte, traz o espiral de sonoridades do qual emana dos muros coloridos da comunidade; Grime Brega Funk, Trap, Funk e um espaço para o nosso Arrocha.


Imagem: Lucas Bastos (@aquelebastos)


E o que me chama a atenção é que a organização sonora das mensagens cantadas parecem um desfile, Favela Hi-Tech e Fashion Week invadem os ouvidos e o corpo, nos convidando a celebrar a autoestima, como diz Cafuzo em ‘Din Din’, terceira faixa do disco “Com Meus Irmãos Vou Dividir”, mostrando que hi-tech mesmo é dividir.


Brasil Core? Acho que não. Posturado e sincero, Cafuzo bate o martelo e mostra que elementos como a marquinha, Kenner e o loiro pivete são muito bem demarcadas e são da favela, enquanto a indústria representada na música como um playboy vê e copia. De referência na lírica, de pernambucano para potiguar, Cafuzo é um verdadeiro mangueboy, com a mesma marra dos Racionais MCs em Cores e Valores, com as pratas refletindo o brilho e proteção da alma, voando de nave pelas encruzilhadas com a ginga e malícia; que para mim não refletem violência, mas resiliência e discernimento herdado.


 Falar de dinheiro e ostentar? SIM!


O flow e rimas de toneladas que Cafuzo reuniu nas participações de Dinizk9, Rapentista, Leozinho do BA, Cazasuja e Apenas Um Oliveira, é o verdadeiro Potiguar Grime Show; dinheiro na mão de favelado, como cita Ice Blue no filme Racionais: Das Ruas de São Paulo para o Mundo, “é alforria”. Oficializar a liberdade e libertação da escravidão moderna que não aceita o poder aquisitivo de quem está no corre, e o corre é sonhar, crescer, sustentar e realizar o luxo da matriarca, vemos isso bem desenhado nas faixas ‘Bailão’ e ‘Corre’.


Mas nem tudo do tecnológico vai para a conquista do financeiro, na faixa ‘Rima de Sacanagem’ temos intimidade, romance, sensualidade e exaltação da mulher preta torna o luxo uma expressão da lealdade e abundância. Amor afrocentrado, favelado e subversivo.


Imagem: Lucas Bastos (@aquelebastos)


Uma obra de arte, só consigo sentir uma coisa: Zona Oeste, é nossa vez! O futurismo favelado não vai nos deixar desistir de vencer. Isso é favela, isso é Natal, isso é Brasil.


O disco é resultado de um projeto aprovado no edital de Economia Criativa 2022, do Sebrae-RN, capa e contracapa de Rasta Gus (@rafagustavo), design de Jônatas Barbalho e belíssima fotografia de Lucas Bastos (@aquelebastos).


O lançamento dessa obra chegou em boa hora para valorizar a malandragem dos ‘cria’ que é feliz vestindo camisa de time. Você pode ouvir ‘Morra de Inveja, Eu sou Favela’ de Cafuzo da Baixada nas plataformas digitais de música e acompanhar o seu trabalho pelo Instagram @cafuzodabaixada.

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