Vamo que vamo! Hoje vamos para o Grupo C da Copa do Mundo, formado por duas escolas pesadas do Hip Hop Latino: Argentina e México, além de uma curiosa cena na Arábia Saudita e uma contundente movimentação na Polônia. Então, confira como surgiu e se desenvolveu o Hip Hop na Argentina, México, Polônia e Arábia Saudita. Confira:
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Arábia Saudita
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Rapper Klash um dos pioneiros do Hip Hop saudita |
No mundo árabe, o Hip Hop, assim como outras manifestações artísticas, sofreu censura, perseguição e muitas vezes proibição. Isso fez com que o rap e demais elementos se desenvolvessem de forma mais lenta nessa região. Na Arabia Saudita o Hip Hop ganha força em 2003 (tendo registro nos anos 90, mas sem força) emergindo-se de de comunidades on-line onde aspirantes a rappers faziam batalhas de letras e pouco a pouco foram postando suas produções, mesmo que caseiras e simplistas.
Mohammad Al-Ghamdi, mais conhecido como Klash, é um dos primeiros rappers sauditas. Através de suas letras diretas e estilo pesado logo se destacou na cena da Arábia Saudita e, consequentemente, no mundo árabe. Klash fazia rap com os amigos do bairro, suas primeiras composições eram focadas em questões sociais como desemprego e nepotismo. A medida que foi se popularizando, Klash passou a suar suas letras para denunciar o racismo. Um fato que fez com que Klash ganhasse fãs foi o de ser atacado em um diss, o rapper respondeu e em seguida outros MC's lhe fizeram diss. As faixas diss de Klash atraíram grande público. Esse ponto levou a sociedade jovem a adotar esse estilo que fez a fama de Klash.
No entanto o Hip Hop saudita teve problemas para se firmar como cultura no país. Depois de muitos debates, a secretária de Sociedade de Cultura e Artes da Arábia Saudita, em Jeddah, incluiu o Hip Hop como parte dos vários programas de arte que a cidade oferece, desde que o movimento seja respeitoso e consistente com as leis e regulamentos da Arábia Saudita.
O Hip Hop saudita ganhou popularidade quando os MC's encontraram meios de integrarem sua arte à cultura local do país. Isso foi alcançado pela fusão de músicas e letras de Khaleeji - um tipo de música do leste da Arábia, nos estados árabes do Golfo Pérsico - com o bumbo, caixa e scratches proveniente do rap. Os primeiros artistas da cena saudita, obviamente, eram amadores, porém o movimento ganhou dimensão profissional através de talentos como o de Qusai Kheder. O MC nasceu em Riyadh e foi criado em Jeddah. Fã de Hip Hop desde a infância, Kheder iniciou sua carreira aos 15 anos, como DJ quando começou a se apresentar e tocar. Aos 17 anos, em 1996, Qussi mudou-se para a América do Norte a fim de formar-se na University of Central Florida, em Orlando. No berço do Hip Hop mundial, Kheder começou a se desenvolver no rap e lança sua primeira música "Jeddah (My Hometown City)", a qual fala sobre lugares em Jeddah e o cotidiano da juventude saudita. A música integrou deu primeiro álbum independente, o The Life of a Lost Soul, trabalho que incentivou a cena em sua cidade natal e pouco a pouco surge novos artistas.
Argentina
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Mike Dee, um dos pioneiros do Hip Hop argentino. Começou como b.boy e depois formou o grupo Bola 8, com o DJ Magic |
A cena do Hip Hop argentino é muito vasta e muito rica e, em muitos aspectos, bastante similar a do Brasil, porém ao mesmo tempo bem distante. No Brasil havia os bailes blacks que serviram de apoio para e molde para o Hip Hop, na Argentina quem fez esse papel foi o rock local.
Porém antes da música veio a dança. No começo dos 80 os argentinos não foram exceção e bailarán o breaking, os filmes, videoclipes e falta de informação fizeram parte do contexto. Em 1983, com o fim da ditadura militar, começam a exportar a moda e discos.
O Hip Hop argentino é uma cena que tenho bastante apreço e deixo aqui como indicação duas obras literárias: Rap de Acá - A História do Rap na Argentina, do pesquisador e amigo Martín Biaggni, e com edição em português pela editora Dando a Letra, e o Los Años Dorados del Hip Hop Argentino, do Ralph 74 DJ, também dá Dando a Letra, porém sem versão em nosso idioma. Ambas as obras narram os primeiros anos da cultura no país vizinho, a primeira em forma de documentário literário e a segunda através de entrevistas com.os personagens da época.
Alguns nomes têm que ser citados, como do Jazzy Mel, um uruguaio que teve a família exilada na Argentina, lá conheceu o breaking e os demais elementos. Assim como no Brasil, que em meados dos anos 80 o breaking se esvazia e só sobra os verdadeiros, na Argentina ocorre o mesmo, mas de forma mais radical, com a dança quase que se extinguindo. Jazzy Mel queria continuar vivendo a coqueluche e soube que aqui no Brasil a onda continuava forte. Em nosso país, o uruguaio-argentino gravou dois discos com a TNT, cantando em inglês, lançados em 1989 e 1990.
Los Adolfos Rap é uma banda de funk rock com flerte ao Hip Hop, um dos pioneiros em rapear no país. Assim como as bandas The Coprófagos Rap, Cumbiatronic e Club Nocturno, grupos que vinham da música eletrônica e rock até mergulharem no rap. Em 1991 o duo Dante Spinetta e Emmanuel Horvilleur formam o grupo Illya Kuryaki and The Valdderramas e lançam o álbum Fabrico Cuero. No ano seguinte desponta o Sindicato Argentino del Hip Hop, que em 2001 conquista o Grammy Latino na categoria Melhor Álbum de Música Urbana, com o álbum Un Paso a la Eternidad, vencendo conterraneo DJ Kun, os espanhóis do 7 Notas 7 Colores, e os brasileiros do Planet Hemp e do Faces do Subúrbio. O Sindicato Argentino del Hip Hop também foi indicado para a categoria de Artista Revelação.
Bola 8 foi um importante duo formado por Mike Dee, afro-argentino e b.boy da primeira geração, um dos primeiros rappers do país, e o DJ Magic, que junto de outros icônicos grupos como o Encontra del Hombre, que vinha do Hardcore e experimentava trip hop e dub, Libres Bajo Palabra, A.M.C., Tumbas, Super A e Sindicato Argentino del Hip Hop participaram da primeira coletânea de rap da Argentina, o álbum Nación Hip Hop, de 1997.
Outro importante e folclórico grupo argentino é o Actitud María Marta, formado por Malena D'Alessio e Alicia Dal Monte, uruguaia com nome artístico de Alika. O grupo tem influências culturais e musicais latino-americanas e jamaicanas e suas letras são cíticas ao sistema capitalista. Desde que surgiu, o Actiutde María Marta esteve ligado a diferentes reivindicações sociais e organizações de direitos humanos, como a associação Madres de la Plaza de Mayo, que buscam por seus filhos desaparecidos. Com a saída de Alika, o grupo passou a contar com a colombiana Ivonne Guzmán Grisales.
Em 1998 surge na cena argentina Gustavo Adolfo Aciar, mais conhecido como Mustafá Yoda, vencedor das duas primeiras batalhas nacionais de Freestyle Argentino (2002 e 2003) em Córdoba. Com o grupo La Organización, em 2000, Yoda lançou o disco La diferencia. Em 2002, Mustafá Yoda deu outro grande passou e montou o selo Sudametrica, uma crew que tinha o intuito de reunir vários freestylers da América do Sul. A Sudamérica lançou três albuns de Yoda antes de publicar uma coletânea. Os discos solos de Mustafá foram Cuentos de chicos para grandes, de 2004; Prisma El Elemental, de 2006; e Imaquinar, de 2008. Já a coletânea foi intitulada de Sacando agua del desierto e foi lançada em 2009.
Polônia
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Liroy, anteriormente conhecido como PM Cool Lee, autor do primeiro disco do rap polonês |
Com influências punk rock, rock alternativo, disco e funk polonês dos anos 1980, o Hip Hop da Polônia surge no início dos anos 1990, por meio da popularidade do rap estadunidense. Em terras polacas, os adpetos do Hip Hop o chamam de "czarna muza", que significa “musa negra”. O termo é aplicando tanto a cena estudunidense como para a polonês. Muza vem de “musa” e neste contexto quer dizer “uma inspiração” e também é a forma abreviada de "muzyka" (música).
O primeiro disco polonês de rap surgem em 1992 com PM Cool Lee com East on the Mic, contendo duas faixas no idioma local. PM Cool Lee surgiu em Kielce e em 1992 lança o álbum East On Da Mic (as P.M. Cool Lee) e em 1995 lançou o disco Alboom, com o hit "Scyzoryk". Parecia que Kielce se despontaria como o berço do rap polonês, mas pouco tempo depois Varsóvia se destaca como centro da cultura no país.
Varsóvia começou a ter destaque quando a estação de rádio Kolor iniciou o atrativo Kolor Shock, com apresentação de Bogna Świątkowska, DJ Volt, a londrina Sylvia Opoku e Paul Jackson, um expatriado afro-americano. O DJ Volt fundou o primeiro selo independente do Hip Hop polonês, a Bater recordes, responsável pelo lançamento de grandes artistas como os grupos Trzyha e Molesta. Outro trabalho de destaque é da cidade de Poznań de onde surgiu o elogiadissimo álbum Zakazane Piosenki (Canções Proibidas) do rapper PH Kopalnia
Agora conhecido como Liroy , o ex-primeiro-ministro Cool Lee lançou Alboom ainda o álbum L, em 1997; Dzień Szakala (Bafangoo Cz.2), em 1999; Bestseller, em 2001, e L Niño vol. 1, de 2006. Liroy é o artista do Hip Hop polonês que mais vendeu discos em seu país, suas vendagens contabilizam 850.000 copias.
A cena polonesa ainda contém rappers de destaque como article: Polish hip hop, AbradAb, Emade, Kaliber 44, L.U.C, Magik Małolat, O.S.T.R., Onar, Paktofonika, Peja, Pezet, Płomień 81, Popek, Sokół e Tede.
No graffiti, a Polônia tem uma tradição de usar uma tag como símbolo de protesto e resistência. O famoso logotipo “Solidarność”, palavra polonesa para “solidariedade”. No breaking o país tem o Be-Bop, fundado em 1986, e considerado a primeira crew da Polônia. Outros pioneiros são os grupos de dança Broken Steps, de Szczecin, e Scrap Beat, de Włocławek.
O Hip Hop tornou-se a voz de uma geração em que mesmo os mais talentosos e enérgicos não conseguiram deixar a sua marca devido à prolongada recessão económica. Artistas como Hemp Gru, Molesta, Pezet, Warszafski Deszcz (com Tede), WWO, ZIP Skład, DJ 600 V (todos de Varsóvia), Slums Attack com seu líder Peja, Nagły Atak Spawacza, Gural (todos de Poznań), tornaram-se reconhecidos nacionalmente. Grande sucesso nacional foi alcançado pelo álbum Księga Tajemnicza. Prolog ("A Mysterious Book. Prologue") do grupo silesiano Kaliber 44 (Magik, Joka e Abradab) que exemplificou o hardcore-psycho rap (um tipo psicodélico de rap polonês), mas o gênero não atraiu seguidores proeminentes.
México
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O icônico grupo Control Machete |
A primeiras asserções do Hip Hop no México vieram com os subgeneros da música disco. Os passos nos salões e algumas fraseas rapeadas. Isso na transição dos anos 70 para os anos 80. Assim como em demais países latinos, os mexicanos não tinha acesso a cultura de rua vinda do país vizinho, isso acontecia somente quando familiares atravessavam a fronteira ao norte e retornavam com a novidade. Porém, era uma minoria que se mostrava interessada nesse movimento.
Nos anos 1980 veio o breaking e os concursos de dança que ajudaram na divulgação da cultura, fazendo o Hip Hop chegar à televisão mexicana. Um famoso concurso foi o Full-Range, televisionado por uma emissora que acabara de se instalar no México, TV Azteca. No entanto, a TV só levava os personagens que julgava vendável, com estética comercial. Não apostava no underground, mas em um desses eventos o tiro saiu pela culatra já que entre os finalistas de um determinado concurso estava o lendário coletivo VLP Viva La Paz, grupo do qual fazia parte Gogo Ras, hoje integrante de um dos grupos mais importantes do Hip Hop mexicano, o La Vi.
Já o rap ganha a TV no inicio dos anos 1990 com o programa Sabadazo que promovia o freestyle e fez estilo ficar popular no país. Assim como no Brasil, o primeiro mexicano a fazer rap não foi um artista de dentro do Hip Hop, e sim um comediante. Memo Ríos, através de personagem MC Aplausos, fazia paródias de raps estadunidenses que faziam sucesso. Também como no Brasil, foi em cima do instrumental de "Rapper's Delight", do Sugarhill Gang, que em 1980 Memo Ríos gravou "El Cotorreo" e ajudou a difundir o rap.
A indústria fonográfica percebeu que a cultura Hip Hop, e principalmente o rap, o elemento musical, er algo que poderia lhes reder e então apostou no estilo. Para isso, criou personagens para transformá-los nas principais estrelas daquele momento - alguns a original cena do Hip Hop mexicana rejeita até hoje - como o grupo Caló, importante na fase inicial do movimento, pois aravés desses jovens o rap começou a ocupar espaços.
O rap no México cresce principalmente nas periferias onde o amor pelas principais quebradas do país moldaram as caracteristicas do rap chicano. Jovens produziam e gravavam em suas casas e apresentavam as primeiras mixtapes da cena. Foi dessa forma que surgiram grupos lendários como o Sindicato Del Terror, Cuarto Tren, Crimen Urbano, Viva La Paz, Rappaz, Speed Fire.
Na capital mexicana, a Cidade do México, se concetra a maior posse da cena local, a Proyecto La Vieja Guardia, onde se reúne Petate Funky, do grupo Big Metra, um dos mc's mais habilidosos e caracterizado pelo seu speedflow; Cabinho e Dj Freaky Ranks; Reyes del Lung, formado por Mc Luka, Gogo Ras e Colmillo que vêm de Viva La Paz; Sabotaje Mexica com Dj Aztek; Cartel Aztlán com Sepulturero e Homie GMC; depois juntou-se a Banda Bastön de Baja California, que é formada por Mü e Dr. Zupreeme; e o MC Youalli G.
No final dos anos 90 surge projetos como o Life Style, o qual participou JRedd (Akil ammar), Speedy One (Boca Floja), Yak Mag (Dr Young), Zqualo (Tibu One), Codak e Zaque. E o Magisterio, grupo com Ximbo e Van T, oriundos da Sociedad Café de Nezahualcóyotl, Estado do México, que a princípio, como muitos outros grupos, começou recusando os samples que vinham dos Estados Unidos.
Outros grupos surgiram em todo o país, como Caballeros del Plan G, Los Soldados del Reyno e Padre Anderson, que mais tarde formou Ceiba Flava no sudeste do México. Estes fazem parte dos grupos que aos poucos forjaram e fortaleceram o movimento por todo o país, muitos dos quais ainda permanecem e são parte fundamental na construção desta cultura.
Em 1996 surge o disco que colocaria o rap mexicano em outro patamar, a começar começando pela produção. O Control Machete, da fronteira norte, em Nuevo León, lançava o álbum Mucho Barato e se tornou o primeiro grupo a vender 100.000 cópias no México e perto de 400.000 na América Latina. Em 1999, o Control Machete, formado por Tony, Pato e Fermín lançaram o álbum Artillería Pesada, e fizeram turnê pelo Brasil junto do grupo RZO de Pirituba. Artilharia Pesada derivou em projeto de mesmo nome que juntava vários grupos emergentes na primeira década dos anos 2000, populando o rap mexicano com diversas produções.
No ano 200 é lançado o filme “Amores Perros”, dirigido por Alejandro Gonzales Iñárritu. A obra incluia em sua trilha sonora a música "Sí senhor", do grupo Control Machete. Foi a primeira vez que um filme mexicano de grande porte incluiu um rap em sua trilha sonora, colocando o movimento em um novo panorama.
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