Banner do seu site

COPA RAP: O Hip Hop nos países do Grupo D da Copa do Mundo: Tunísia, Austrália, Dinamarca e França.

Jeff Ferreira
By -
0


Hoje vamos para o Grupo D da Copa do Mundo, formado por Túnisia e seu rap revolucionário, Dinamarca e seu rap contundente, Austrália com seu rap vigoroso e França com um rap velha escola e defensor da classe trabalhadora. Confira:

Se você ainda não conferiu os artigos anteriores, clique nos links abaixo:

Tunísia

Hamada Ben Amor, o rapper El General

O Hip Hop na Tunísia ganhou força no final dos anos 2000, ainda que no underground e explodiu após a Revolução de Jasmim, em 2010-2011.  Uma curiosidade tunisiana é que o país não dispõe de muitos videoclipes com milhões de visualizações no YouTube, mas os poucos que existem são de rap. Esse fato comprova a força do estilo entre os mais jovens e utilizado como voz que reflete sobre as questões do país. 

A cena tunisiana é formada praticamente por homens, além disso, o discurso é machista e bebe de uma masculinidade tóxica. As mulheres, nas letras do rap da Tunisiana, são retratadas de forma pejorativa, como um espelho da cena estadunidense. No entanto, há a resistência, as poucas minas que fazem rap no país usam sua voz para combater o machismo e preconceito.

O rap tunisiano também conseguiu um feito que outras cenas ao redor e mundo invejam: um rap se tornou hino da nação e conseguiu derrubar um ditador.

Em 7 de novembro de 2010, o jovem de 22 anos, Hamada Ben Amor, conhecido no rap como El General, postou a música "Rais Lebled" em sua página no Facebook e fez o rap se tornar o hino da Tunísia. Em tradução livre o título da música significa "Presidente do País" e data de lançamento se trata de um feriado do país, o qual se comemora o final bdo reinado de 30 anos de Habib Bourguiba, através de um golpe de estado sem derramamento de sangue e que colocou   o primeiro-ministro Zine El Abidine Ben Ali no poder, como primeiro-ministro, em 1987.

A música de El General é direcionada a Ben Ali e diz: "Senhor. Presidente, seu povo está morrendo” com rimas ásperas e raivosas e protesta contra a brutalidade policial, as políticas anti-islâmicas e a cleptocracia institucionalizada.

Ao som de "Rais Lebled" os tunisianos foram às ruas para protestar contra os alto preços dos alimentos, o desemprego, a corrupção e a falta de liberdades civis. No entanto as manifestações foram reprimidas pelas forças de segurança do Estado responderam com cassetetes, bombas e gás lacrimogêneo.

El General foi detido e conduzido ao Ministério do Interior em Tunís, a capital da Tunísia. Lá passou três dias sendo interrogado. A ideia era silencia-lo porém familiares e amigos divulgaram sua prisão e "Rais Lebled" virou uma espécie de novo hino nacional gerando um pressão popular ainda maior que culminou na queda de Ben Ali, que fugiu do país em 14 de janeiro de 2011.

Nessa mesma época, Mohamed Jandoubi, outro rapper do underground alcançou a fama. Conhecido com a alcunha de Psyco M. lançou o single "Manipulation" uma diss de 15 minutos sobre uma conspiração global contra o mundo muçulmano. Usando a internet, Psyco M. atacou atores, diretores e jornalistas proeminentes da Tunísia, acusando-os de fazer parte dessa conspiração, de lutar contra o Islã e de se afastar dos valores muçulmanos conservadores.

Essa foi uma fase que o rap da Tunisia era usado para divulgar ideologia islâmica, como alternativa ao regime considerado secular e anti-islâmico. Isso gerou conflitos dentro do movimento no pós-revolução, pois palavras como democracia, secularidade e sharia (o direito islâmico) eram usadas por todos, em todos os lugares.

Após a queda do regime, o rap explodiu. Passou de um movimento que raramente era exibido na televisão convencional para algo onipresente. O rap apareceu em canções patrióticas, shows políticos e até em um comercial de iogurte. O país vivia uma onda de liberdade de expressão, e os rappers, como muitos outros artistas, a usavam para se expressar sem nenhuma objeção perceptível das autoridades.

Essa liberdade, no entanto, durou pouco. Os rappers foram presos novamente já em fevereiro de 2012, principalmente por uso de maconha. Mas foi só quando Weld el XV lançou uma música chamada "El Boulicia Kleb" ("Policiais são Cães") que o confronto direto começou. Como o título sugere, a música é um ataque direto à polícia, denunciando a corrupção e usando detenções relacionadas à maconha como pretexto para silenciar os rappers. Trecho da letra diz: "No próximo Eid sacrificarei um policial em vez de um cordeiro". O Eid al-Adha é um feriado muçulmano que possui um titual de sacrificio animal.

A música se tornou viral e foi vista mais de 3 milhões de vizualizações, antes de ser retirada do YouTube. "El Boulicia" trouxe consequências para Weld el XV, o rapper foi preso. Depos de cumprir pema, o rapper se mudou para a França. Marwen Douiri, também conhecida como Emino, seguiu um caminho diferente. O jovem rapper, que também foi julgado por ter sido citado na mesma polêmica música, foi condenado a dois anos de prisão. Mesmo tendo cumprido apenas dois meses, seu tempo na prisão o mudou para sempre. Antes famoso por sua música "Burn", na qual celebrava o álcool, as mulheres e o dinheiro, o rapper renunciou ao passado, foi para a Síria e se juntou ao grupo Estado Islâmico (EI). Ele foi morto em um atentado a bomba em Mosul, no Iraque, em 12 de novembro de 2016.

Os confrontos entre os rappers e as autoridades não pararam por aí. Canções foram lançadas denunciando políticos, a polícia e a mídia. Todos foram considerados parte de um sistema com o qual a juventude está nitidamente decepcionada. Em sua música "Al Ghadhab" ("Raiva"), lançada em fevereiro de 2017, Klay BBJ, um dos mais proeminentes rappers da Tunísia, sintetiza isso. Klay BBJ acusa a mídia de difamar o rap e os políticos e a polícia de uma campanha em andamento para silenciar os MC's para não desafiar um status quo corrupto. A música já foi vista mais de 6 milhões de vezes no YouTube.

Desta vez, a resposta não veio dos tribunais. Em vez disso, a polícia se recusou a garantir a segurança de qualquer show em que Klay BBJ se apresentasse. Isso levou ao cancelamento de 18 de seus shows pelo país, inclusive no Festival de Cartago, o maior festival da Tunísia. Os organizadores disseram que a decisão foi tomada por questões de segurança, mas o próprio Klay BBJ insiste que a polícia e o Ministério da Cultura pressionaram os festivais a cancelar seus shows. Isso levou a uma onda de apoio de outros rappers, incluindo Balti, que cancelou alguns de seus próprios shows em solidariedade.

Austrália

Rappers da cena australiana de Hip Hop

O Hip Hop australiano tem suas origens no início dos anos 1980, mais precisamente em 82 quando a rede de televisão australiana, a Sound Unlimited, exibiu o clipe "Buffalo Gals", de Malcolm McLaren e fez com que toda uma geração de australianos começasse a copiar os movimentos dos b.boys. O breaking despontada no país.

Em Melbourne, capital costeira do estado de Victoria, no sudeste da Austrália, em 1986, surge o grupo Mighty Big Crime, formado pela dupla Julien Lodge, a.k.a. Tricky J e A Phillips a.k.a. Gumpy. O produtor britânico David Courtney viu os MC's se apresentando em pub e os convidou para assinar com uma grande gravadora. Desse modo, em 1987 é lançado o primeiro disco do rap australiano, o 16 Tons, pela Virgin Records. O álbum foi um single duplo com a faixa título de um lado e a música "Humber Mania Time".

Gumpy, além de rimar, tocava guitarra e Tricky J manuseava os sintetizadores. O disco foi gravado no Metropolis Studios e Pig Pen Studios, e receberam o selo da Criteria Productions, de David Courtnry. A música "16 Tons" é uma versão rap da música "Sixteen Tons", de Merle Travis. Tricky J também tocou na banda de funk rock I'm Talking, e junto de Gumpy e da atriz e apresentadora de TV Sophie Lee, no saxofone e voz, formou a banda  Freaked Out Flower Children em 1991.

Duas bandas da Austrália Ocidental, o Def Threat e o Gangstarr, lançaram álbuns em 1987. O Def Threat, com o EP Girls Never Learn, alcançou a quarta posição nas paradas musicais. O Def Threat fez vários shows nos 12 meses seguintes e depois se separou. Gangstarr sobreviveu por mais alguns anos.

No entanto, muitos pesquisadores apontam que o Mighty Big Crime, o Def Threat e o Gangstarr não eram genuinamente artistas ligados ao Hip Hop e sim a algo mais pop. Gerry Bloustein escreveu no livro Musical Visions que o primeiro lançamento do "original Hip Hop" foi o single duplo "Combined Talent" / "My Destiny", de 1988, do grupo Just Us, formado por Maltese DJ Case e Mentor.

Também em 1988, foi lançada a primeira coletânea do rap australiano, o álbum Down Under by Law, pela Virgin Records e reuniu os artistas Westside Posse, Swoop, Sharline, Fly Girl 3 e o Mighty Big Crime.

No final dos anos 1980, a Sound Unlimited Posse assinou com a Sony Music e se tornou o primeiro grupo de rap australiano a fazer parte do casting de uma grande gravadora. Em 1992 é lançado o álbum A Postcard from the Edge of the Under-side. Aos 16 anos, em 1992, KIC, da capital Sidney, assinou contrato com a Columbia/SME Records e lançou seu primeiro single, "Bring Me On", o qual foi muito popular no país, além de ser muito executado em Singapura e Hong Kong. Também em 1992, a gravadora independente Random Records lançou o álbum Knights of the Underground Table do Def Wish Cast . Depois de 1992, CDs e fitas independentes foram lançados por vários artistas, principalmente dos subúrbios ocidentais de Sydney, uma área amplamente habitada por imigrantes e conhecida como uma área de classe trabalhadora, desprivilegiada e dominada pelo crime.

MC Opi (também conhecida como Opi Nelson) foi uma artista underground de rap e dancehall que alcançou sucesso nacional após sua performance em uma participação no single "Last Train", de Christine Anu e Paul Kelly, indicado ao ARIA em 1994. Antes disso, MC Opi co-produziu Women on the Rhyme, o primeiro documentário de rádio nacional sobre artistas australianas do Hip Hop, criado na Australian Broadcasting Corporation (ABC).

Quando Christine Anu lançou seu primeiro disco, o Stylin' Up, em 1995, MC Opi participou novamente em "Last Train". O álbum alcançou o status de platina na Austrália e ganhou o prêmio ARIA de Melhor Álbum Indígena. Anu convidou MC Opi para se apresentar com ela na primeira "Australian Jail Tour" como parte da Semana NAIDOC (Comitê Nacional de Observância do Dia dos Aborígenes e Ilhéus) em 1993.

Outro importante pilar do Hip Hop australiano é o grupo 1200 Techniques, Melbourne, formado em 1997 pelo graffiteiro e b.boy old-school DJ Peril, membro fundador da crew Melbourne Island Boys. DJ Peril ficou com a percussão, seu irmão Kemstar na guitarra e o MC N'fa nos vocais. Em 2001 o grupo lança o EP Infinite Styles com a gravadora independente Rubber Records. O 1200 Techniques lançou um dos primeiros sucessos do rap australiano com o hit Karma, do disco Choose One, de 2002. A música gerou o primeiro prêmio ARIA para o Hip Hop da Austrália, Anos depois o ARIA criou uma categoria para a cultura.

Hoje, o Hip Hop australiano ainda é lançado principalmente por meio de gravadoras independentes, que geralmente pertencem à artistas do meio. A cena vem se fortalecendo com nomes como The Kid LAROI, Manu Crooks, ONEFOUR, Iggy Azalea, Hilltop Hoods, Bliss n Eso e Youngn Lipz. 

Dinamarca

Sista Livingstone e Zambone, o duo No Name Requested

O Hip Hop dinamarquês vem crescendo nos últimos anos. O rap vem ganhando espaço para fora das fronteiras do país, principalmente nos últimos quinze anos. Na Dinamarca o Hip Hop chega no início dos anos 80 com o breaking e se inspira nos filmes icônicos sobre a cultura. O rap tem experiências nessa mesma década, mas se inicia de modo contínuo em 1990. Dope Solution, Kidnap e a dupla de MC’s No Name Requested – duas das primeiras mulheres a fazer rap na Europa – são os pioneiros dinamarqueses do rap, porém usavam o idioma inglês para se expressarem. Somente no final dos anos 90 que o estilo passou a se popularizar na língua local, muito se deve ao rapper Jokeren e seu grupo, o Den Gale Pose. Auxiliando nessa empreitada de fomentar o rap no idioma dinamarquês surge o selo Funky Fly Records que aposta nesta quesito. No entanto, MC’s dinamarqueses que rimam na língua inglesa se tornaram mais conhecidos no exterior do que em sua pátria como os rappers Static and NATiLL, duo de Aarhus, na Dinamarca, mas de origem alemã.

A dupla No Name Requested foi formada em 1990 no sul de Copenhague por Sista Livingstone e Zambone, são pioneiras do rap dinamarquês e chamaram a atenção da cena logo no início ao fundir o reggae e ragga com o peso do bumbo e caixa do rap, isso bem antes dos artistas contemporâneos. No Name Requested  assinou com a gravadora Mega Records e lançaram dois hits “Colours” (“Colours Of My Mind”), de 1992 e “Come Ina De Dance”, de 1993.

A cidade de Arhus, na costa este da península de Jutlândia, é um dos locais onde o rap bate forte na Dinamarca. O rapper Johnson, oriundo da periferia da cidade, é considerado a lenda da festa de Arhus e junto de seu parceiro Århusiano U$O, outro nome forte da cena, vem atuando a mais de uma década. O MC Liam O'Conner, também chamado de LOC, é o artista de maior discografia do país com 10 álbuns e 3 mixtapes, se tornou popular por causa de sua ampla gama de gravações, que também permitiram que ele encabeçasse os maiores festivais do país. Arhus também é palco do MC's Fight Night, uma batalha anual de rap, de onde vem Jøden (Judeu) um dos veteranos do Hip Hop local e que vem colaborando com outro MC das antigas, o Ålborg Jonny Hefty, em várias gravações, programas de TV e diversas outras coisas.

Da capital Copenhague vem a maior parcela da contribuição do Hip Hop dinamarquês. Terra do rapper Jokeren, fundador do grupo  Den Gale Pose e do Madness 4 Real. Jokeren tem quatro álbuns e vários hits. Nik og Jay, dupla dos subúrbios de Copenhague, é um dos ícones absolutos da música dinamarquesa. A capital também possui aquele que talvez seja o maior grupo de Hip Hop do país, o Suspekt. Formado por Orgi-E, Bai-D e Rune Rask, apresntam letras e produções corajosas e contundentes, abordam temas sociais e tecem críticas ao governo da Dinamarca, o que fez com que muitos fãs se identificassem logo na primeira audição. 

Compenhague ainda abriga os artistas Pede B, também veterano do Fight Night do MC, Ukendt Kunstner, formado pelo rapper Hans Phillip e o produtor Master Jens Ole McCoy,  Sivas, Kesi e Gilli, o BFL (Brian For Life), Marvelous Mosell e o DJ Tue Track, Raske Penge (professor de escola pública e que se aventura no dancehall) e Pato Siebenhaar, responsável pela gravadora Black Cheese.

Na cidade de Aalborg, localizada na Região Jutlândia do Norte, também se destaca como um dos berços do Hip Hop dinamarquês onde podemos citar nomes de destaque como Niarn, Lord Siva, Jonny Hefty.

Entre os veteranos do Hip Hop dinamarquês temos Rockers By Choice, vindo dos anos 90 e o primeiro grupo do país a aparecer na MTV. Fundado por um dos maiores produtores da época, Chief-1, o grupo foi realmente o primeiro ato de Hip Hop na Dinamarca. O Malk de Koijn é um dos grupos mais antigos da cena que ainda seguem na ativa. O Bikstok Røgsystem é um dos mais icônicos grupos e se consolidaram com a mistura de rap e ragga. 
Já a cena atual tem nomes que também se destacam e honram o Hip Hop, como a banca Pizzagang, de Copenhagen, formada por Ceasar, Lil Hawaii, Baby Albino, ASKEKNEPPERDIG, Lil Luksus, Young Turbo, Mr. Yung Polo e Bob, e os produtores Olympic Sport e Dem 'Hunnit's. Tem também a banca Yung Coke, dormada por Lille Høg, Guacamole Niller, Lille Swag, Lille Nasty e Ung Nissan. Aina vale citar Gulddreng, Jamaika, Jimilian, Blak, Benal e Vild Smith.

França

DJ Dee Nasty, pioneiro do rap francês


A França é uma das pioneiras do Hip Hop. Depois dos EUA, os francês foram os primeiros a abraçarem a música, isso em 1979, assim que o rap explodiu do outro lado do oceano. O sucesso do rap e Hip Hop em terras francesas se deu graças a comunidade africana do país. Em 1982 a França já contava com diversas emisoras de rádio focadas na fomentação do Hip Hop. Duas das mais emblemática foram a Rapper Dapper Snapper e BA Crew, onde o DJ Dee Nasty fez suas primeiras apresentações.

Também em 1982 acontece na França um grande evento, o New York City Rap, patrocinado pela Europe 1 e contou com a participação de Afrika Bambaataa, Grandmixer DST, Fab 5 Freddy, Mr Freeze e a Rock Steady Crew. 

O Rap francês se desenvolve nos chamados banlieues (subúrbios) de grandes cidades como Paris, Marselha, Lyon, Nantes, Lille, Estrasburgo, Caen, Le Havre, Rouen, Toulouse, Grenoble e Nice. As letras do rap francês são focadas no status social e político dos grupos minoritários que vivem no país.

Na frança, o Hip Hop chega através do smurf e do breaking, o que mostrou aos franceses a existência de uma cultura. Em 1982 a cantora Valli Kligerman, mais conhecida como Valli, e o cantor Grégory Ken, lançam "Chacun fait (c'qui lui plaise)", considerado por muitos o primeiro rap francês que vinha em uma pegada similar a "Rapper's Delight", do Sugar Hill Gang.

Daniel Bigeault, mais conhecido como DJ Dee Nasty, da cidade de Pierre-Plate, em Bagneux, nos subúrbios ao sul de Paris, é reconhecido mundialmente como pioneiro do Hip Hop francês. Hoje é “Grão-Mestre” da Nação Zulu na França. Em 1984, Dee Nasty lançou seu primeiro álbum, o Paname City Rappin', pela Funkzilla Records e Cabana Music. Influênciados pela música afro-americana, sobretudo o rap estadunidense, os primeiros MC's e DJ's da franceses se desenvolveram à margem da indústria fonográfica, e no underground de Paris fundaram as bases do Hip Hop da França. Esses artistas promoviam festas chamadas "Noites Negras", onde as discotecadas tocavam somente black music. Estações de rádio, como a Rádio Nova, e a imprensa underground, como a revista Actuel, apoiaram os primeiros oassos do movimento, cuja visibilidade permanecia baixa fora da Ile-de-France, região que engloba as cidades de Paris, Versalhes, Évry, Pontoise, Melun, Nanterre, Bobigny, Créteil, Montmorency, Mantes-la-Jolie, Saint-Germain-en-Laye, Rambouillet, Palaiseau, Étampes, Meaux e Argenteuil.

os anos 90 são marcados por uma virada de chave no rap francês. Agora o estilo passava a ter maior visibilidade na mísia hegemônica. As letras falavam das dificuldades da periferia e das revoltas urbanas. Porém, a classe artística francessa considerava o rap como um fenômeno estrangeiro associado à música afro-americana e não à tradição da canção francesa. A música era difundida principalmente entre jovens da classe trabalhadora e imigrante que habitava os guetos das grandes cidades. 

Em 1989 surge o Suprême NTM, no departamento de Seine-Saint-Denis. Formado pelos MC's Joeystarr (Didier Morville) e Kool Shen (Bruno Lopes), o grupo marca o início do rap na década de 1990 na França. Joeystarr e Kool Shen vêm da periferia do departamento 93 e colavam na crew de graffiteiros 93 NTM, daí vem o nome do grupo, como uma forma de representar suas origens."NTM" é uma abreviação de "Nique Ta Mère", onde "Nique" é uma derivação do verbo "fornicar", ou seja, em tradução livre seria algo como "Fornicando com Sua Mãe", o equivalente a "Fuck Your Mother". A primeira aparição do Suprême NTM foi na Rádio Nova no programa Deenastyle apresentado por Dee Nasty e Lionel D. Em 1991 o grupo lança seu primeiro álbum, o Authentik, pelo selo Epic Records da Sony.

Outro importante grupo da cena francesa é o IAM, formado em 1989 em Marselha. O grupo é composto por Akhenaton (AKH; Philippe Fragione), Shurik'n (Geoffroy Mussard), Khéops (Éric Mazel), Imhotep (Pascal Perez) e Kephren (François Mendy). O nome IAM tem vários significados, incluindo Invasion Arrivée de Mars ("Invasão de Marte"; Marte é freqüentemente usado como uma metáfora para Marselha nas canções do IAM). Outro significado é Homem Imperial Asiático, enquanto AKH frequentemente se refere a L'homme Impérial Asiatique. Em 1991 o grupo debuta com o disco ...De la planète Mars, produzido por Sodi. O álbum recebeu criticas por ter faixas em inglês.

A partir de 1991 surgiram posses dedicadas à atividades relacionadas ao rap ou ao Hip Hop. Sob a influência da lei de 1994 que estabelece uma cota de 40% das canções de língua francesa nas ondas do rádio, o rap francês se beneficia de uma melhor exposição no rádio. Em 1996, a Skyrock se posicionou como "Premier sur le rap" e desenvolveu sua programação musical para transmitir 80% de rap. 

Em 1996 é lançada a coletânea Rapattitude onde os grandes nomes da cena francesa se reuniram. O álbum contou com Assassin, Tonton David, Saliha, Saï Saï, Dee Nasty, A.L.A.R.M.E., Suprême N.T.M., Daddy Yod, E.J.M., New Generation MC, Daddy Nuttea, B Love, Keas 2, MCM 90, Côte Obscur, MC Janik, Créateurs Unique, IAM, Don Lick Shot, Prophètes Du Vacarme e Siria Khan.

A produção de álbuns de rap em francês era controlada pelas gravadoras. Os discos tinhas estrututas similares e as músicas na estetica que alternava versos e refãos. A partir de 1994, as gravadoras perderam espaço para os selos independentes, como Jimmy Jay Production, Secteur Ä ou Unik Records. As colaborações entre os rappers – as participações  – se desenvolvem, chegando a representar 30% das canções de 1997.




Postar um comentário

0Comentários

Postar um comentário (0)