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COPA RAP - O Hip Hop nos países do Grupo B da Copa do Mundo: Inglaterra, Irã, País de Gales e EUA

Jeff Ferreira
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Seguindo com a série que visa passar – mesmo que superficialmente – pela história do Hip Hop dos países que participam da Copa do Mundo de 2022, nesse artigo vamos para o grupo B, formado por Gales, Irã, Inglaterra e Estados Unidos.

 

Inglaterra

 

Hip Hop On The Tube, Inglaterra 1982

Também conhecido como Brit-hop, termo cunhado e popularizado pela revista Vogue britânica e pela BBC, o Hip Hop britânico surge a partir do graffiti e do breaking, logo acrescido pela cultura dos DJ’s que tocavam ao vivo nas festas e casas noturnas e por fim com a popularização do rap, com o MC Dizzy Heights e música "Christmas Rapping" (Polydor, 1982) e o MC Newtrament com "London Bridge" de (Jive Records, 1983). Apesar de cações dos primeiros anos da década de 80, esses não foram os primeiros raps da cena britânica, a dupla Allen & Blewitt, no single 7” Chip Shop Wrapping, lançado em 1980, há a faixa homônima que usa da melodia e instrumental de “Rapper's Delight”, do Sugarhill Gang. Também de em 1980 foi lançada a música “Money (No Love)” do artista Bo Kool, cujo seu instrumental, produzido por Tony Williams, membro do Funk Masters, influenciou diversos DJ’s de Nova York por usar elementos do dub.


Aliás, a cena na Inglaterra e em todo Reino Unido, tem bastante influência da Jamaica, não só no Hip Hop, mas também no punk e reggae. Imigrantes do Caribe, sobretudo jamaicanos, chegavam ao país através dos navios cargueiros e na bagagem traziam a cultura dos Sounds Systems, a exemplo dos EUA com o pioneiro Kool Herc. No entanto, diferentemente da América, a Inglaterra possuía diversos grupos étnicos que não viviam segregados (como nos EUA) e isso fez com que a cena do Hip Hop britânico fosse multirracial desde seu início.


Artistas de fora do Hip Hop se incursionaram pelo rap em sua fase inicial na Inglaterra, o que ajudou que o estilo fosse difundido. Em 1979 Ian Dury and the Blockheads foram influenciados pelo Hip Hop e colocaram isso em seu som, na música “Reasons to Be Cheerful (Part 3)”. Adam and the Ants lançou “Ant Rap” pela CBS, em 1981; o Wham! Lançou “Wham Rap! (Enjoy What You Do)”, pela Inner Vision, em 1982; a banda punk The Clash também se aventurou pelo rap com a música "The Magnificent Seven" no disco Sandinista!, pela, em 1980. A experiência com o rap foi positiva e o The Clash, no ano seguinte, apostou novamente no estilo com o single “This Is Radio Clash”. Porém o grande nome do Hip Hop inglês, vindo de outro estilo, é o de Malcolm McLaren, empresário da banda punk Sex Pistols. Através de “Buffalo Gals”, lançado pela Charisma, em 1982) Malcolm McLaren introduziu a muitas pessoas o scratch.  


Na primeira metade dos anos 80 o rap na Inglaterra ainda era underground e com poucos lançamentos. Destacaram-se os artistas: Ruthless Rap Assassins, The Rapologists e Grandmaster Richie Rich’s. As rádios mainstream executavam o rap britânico de forma esporádica, através de espaços conseguidos por nomes como Dave Pearce, Tim Westwood, Steve Barker e John Peel, DJ’s que se destacavam no circuito.


Os primeiros rappers do Reino Unido, como o londrino Derek B e suas canções “Goodgroove” e “Bad Young Brother” ambas de 1988, emulavam a forma de cantar dos rappers estadunidenses, inclusive copiando seus sotaques. Outro londrino, o MC Rodney P, membro da London Posse, foi o pioneiro em cantar com o sotaque britânico, o que imprimia as características locais na também local cena que conseguiu fazer o caminho inverso e penetrar no circuito estadunidense do rap.


Irã

Rapper Hichkas, fundador do grupo 021

Em 1979, no Irã, acontece a chamada “Revolução Islâmica” que destituiu a monarquia e instaurou a república islâmica no país. Desse modo, o Irã tem um história recente de abertura para o mundo e o Hip Hop iraniano surge na década de 2000, em Teerã, a capital. Também conhecido como Hip Hop persa, suas raízes remontam ao Hip Hop do continente americano e com o decorrer dos anos incorporou elementos da música e cultura iraniana contemporânea.


O primeiros, do circuito underground iranianos, começaram a gravar suas mixtapes e fitas demos, o material circulava entre os jovens e o estilo foi se popularizando nesta camada da sociedade. Um dos primeiros rappers do Irã é Sorush Lashkari, mais conhecido pelo seu nome artístico Hichkas, fundador do grupo 021, um dos primeiros a lançar disco. O primeiro álbum foi o Jangale Asfalt (Selva de asfalto), produzido e lançado de forma ilegal, já que o rap era censurado no país, onde em várias ocasiões estúdios foram fechados, sites bloqueados e artistas presos. Apenas algumas obras foram oficialmente aprovadas pelo Ministério da Cultura e Orientação Islâmica. Apesar de abordar temas sociais, Hichkas tem um estilo lírico único, teísta e nacionalista, o que o faz evitar palavrões e outras palavras acidas em suas letras. O disco incorporou fusões com harmonias persas tradicionais e rendeu reconhecimento das comunidades iranianas. O 021 também contava com os rappers Yashar e Shayan, que atualmente seguem carreira com o grupo underground Vaajkhonyaa. Por outro lado, o 021 segue com Hichkas, Mehrak Reveal, Reza Pishro, Ali Quf, Ashkan Fadaei e Mahdyar Aghajani.


Já o primeiro grupo de rap gangsta do Irã surge com o Zedbazi. O grupo rapidamente ganhou popularidade entre os jovens por apresentar letras explícitas e munidas de palavrões, além de abordarem temas como o sexo e o consumo de drogas. A partir do Zedbazi a música iraniana iniciou uma nova fase.


O rapper Nouraei , que já foi preso pelo governo iraniano, foi listado como uma das "50 pessoas mais influentes da cultura no Oriente Médio" pela HuffPost em agosto de 2012. Entre seus raps mais famosos está a música “Inja Irane” ("Aqui é o Irã"), o qual a revista Rolling Stone descreveu como uma “crítica pungente do país”. Yas foi o primeiro rapper iraniano a ser autorizado a se apresentar no Irã. Sua fama em todo territorio nacional se deu a partir do hit “CD ro Beshkan” ("Break the Disk"), escrita sobre uma atriz iraniana protagonista de escândalo de gravações íntimas que foram vazadas.


A cena iraniana, devido sua política e cultura islâmica, impõe severas restrições às mulheres na música, sobretudo no Hip Hop. A Salome MC é uma das primeiras minas a rimar no Irã, ela iniciou sua carreira como backing vocal do Hichkas e hoje é considerada por veículos como a MTV e a Time como uma artista influente e revolucionária.


No dia 18 de março de 2022, 39 rappers de todas as 31 províncias do Irã se reuniram para lançarem a música “Khanevadegi 2” (“Família 2”), que expõe profundo descontentamento dos artistas com a política iraniana e lamentam a repressão no país. O projeto levou dois anos para se concluir e todos os envolvidos rimaram na língua ou dialeto de suas regiões, acompanhados por músicos em instrumentos tradicionais locais. Dentre os participantes estavam, do Teerã, Sina Sae, Amir Bidad, Ali Owj; do Gilan, Parham Sezar; de Khorasan Razavi o rapper Hamed Slash; das províncias de Kohgiluyeh e Boyer-Ahmad, Kooh'Gel; do Azerbaijão Ocidental, Fardin; do Kermanshah, Aria Ahir; Solly do Khuzestan; e Hossein Haft do Sistão e Baluchistão.


País de Gales

Duo Y Diwygiad fomentadores do rap em idioma galês

Welsh Hip Hop, ou o Hip Hop de Gales se confunde com a cultura na Inglaterra, já que ambos os países fazem parte do Reino Unido. Apesar de nomear como Hip Hop Britânico o movimento que ocorre em Londres, o gentílico britânico se estende ao País de Gales, Escócia e Irlanda do Norte, além da Inglaterra.


Porém, ao contrário dos ingleses que beberam da fonte do Hip Hop desde o início dos anos 80, os galeses mostraram maior interesse na cultura somente na década de 2000. Em Gales a cena se movimenta, em grande parte, em Cardiff. A capital é casa do selo Associated Minds, fundado em 2004, responsável pelos principais lançamentos do país. No entanto, o País de Gales também tem um museu do Hip Hop, o Amgueddfa Cymru, dentro do National Museum Cardiff, a ser inaugurado no verão de 2023. Kaptin Barrett, coordenador do museu pediu ajuda à população para reunir cartazes e flayers que ajudam a contar a história do Hip Hop no país e declarou:


“Estamos interessados ​​em todas as gerações, mas especialmente no que as pessoas podem ter guardado dos anos 80 e início dos anos 90, ou talvez até dos anos 70!”.


O pedido de Barrett aponta para uma cena anterior aos anos 2000, mas o grande boom do movimento se deu apenas no novo milênio. Formado em Newport, em 2000, o Goldie Lookin Chain foi um dos primeiros grupos de Gales a entrar nas paradas de sucesso do país, porém muitos não consideram o grupo como membros da cultura Hip Hop, pois seguem uma linha de rap sátira e são apontados como humoristas.


Em Gales, além do inglês, é falado o idioma galês e em 2012, pela primeira vez, um artista de rap rimava no idioma do país. Phormula se apresentou nos prêmios MOBO cantando em galês. O Y Diwygiad, uma equipe com visão futurista e que levanta a bandeira de um Hip Hop experimental com vários idiomas - e salpicado de música eletrônica -, está mantendo a sub-cena do rap cantando na língua galês, assim como nomes como Hoax Emcee, de Bethesda, e Dybl-L, de Talysarn. Os dois rappers participam do Pen-Ta-Gram, um projeto colaborativo e liricamente denso que representa o norte do País de Gales e também envolve, entre outros, Mr Phormula de Y Diwygiad.


No ano de 2016 surge Astroid Boys, grupo que conseguiu chamar a atenção de fora do país devido `sua mistura de rap e rock oriunda de Cardiff. Um dos discos mais marcantes do rap galês é o Triple Crown, do trio Dead Residents, de 2009. Também fazem barulho na cena artistas como Barry, Ralph Rip Shit , Beatbox Fozzy, Mudmowth e o produtor Metabeats.


Quanto aos eventos, o País de Gales sediou o Welsh Open B-Boy Championships, de 2009 em Newport, no Newport Center. O evento é destinado as tradicionais batalhas de bboys e mostra que os galeses, como Akil The MC, do grupo Jurassic 5, também dominam os demais elementos da cultura, como o breaking. Em Cardiff acontece o Festival Roxe Jam, criado em memória do falecido grafiteiro da cidade Bill 'Roxe' Lockwood, além dos graffitis, o evento reúne b.boys, DJ’s e MC’s que tocando ao vivo. O Hip Hop também ganhou uma casa em terras galeses com a Toucan Club onde se apresentam artistas da nova geração como Higher Learning, The Mutty Wango Party e Swansea's Monkey Café.


EUA

Cindy Campbell, Koll Herc, Grandmaster Flash e Afrika Bambaataa

A história do Hip Hop nos Estados Unidos é a que mais conhecemos, é a primeira que ouvimos quando estudamos a cena do Brasil. Mas antes de Sugarhill Gang explodir com “Rapper's Delight”, em 1979, é preciso dar um pulo na Jamaica dos anos 50 e 60.

Em solo caribenho os jamaicanos das periferias de Kingston, sem acesso às rádios e bailes da elite, criam os Sound System, carros com potentes equipamentos de som e rolava a música desenvolvida ali na Jamaica, o ska, o dub e o reggae (e posteriormente o raggamurffin). Dos Sounds Systems surgem os embriões do DJ e MC da cultura Hip Hop. O responsável pela escolha das músicas é chamado de Selecta, e o mestre de cerimônias, que discursava em cima de parte instrumental das músicas é chamado de Toasting. Uma crise econômica no final dos anos 60 fez com que muitos jamaicanos imigrassem para os EUA, porém em suas bagagens levaram a cultura dos bailes de ruas e dos Sound Systems.

Clive Campbell, mais conhecido como DK Kool Herc, foi um desses jamaicanos. Ele tocava em festas nos guetos do South Bronx. Porém, um nome é constantemente esquecido na história mundial do Hip Hop, o de Cindy Campbell, irmã de Herc. Cindy foi a primeira produtora de uma festa de Hip Hop. No dia 11 de agosto de 1973, Cindy organizou sua festa de aniversário e alugou na hoje famosa 1520 Sedgwick Avenue, uma sala de recreação por 25 dólares e cobrou a entrada para que as pessoas vissem seu irmão discotecar – com toca-discos achados no lixo -, dos homens era cobrado 50 centavos, e das mulheres 25. Além de ter sido b.girl, Cindy foi grafiteira e assinava os murros usando a tag PEP-1(174).

O termo Hip Hop vem das palavras "hip" e "hop" e em tradução literal significam “saltar” e “mexer o quadril”. Sua origem remonta aos anos 1950 quando os mais velhos se referiam às festas de adolescentes como "hippity hops". A utilização do termo Hip Hop é creditada a Keef Cowboy, MC do grupo Grandmaster Flash and the Furious Five. Afrika Bambaataa, o fundador da Zulu Nation, uma antiga gang de rua que se converteu em crew de bboys e na sequência integrou grafiteiros, DJ’s e MC’s é creditado como padrinho do Hip Hop e foi o primeiro a usar o termo para descrever uma cultura de rua que reunia os quatro elementos. A Universal Zulu Nation passou a organizar o Hip Hop com seus ensinamentos.

Em março de 1979 sai a primeira gravação de rap, a música “King Tim III (Personality Jock)” do grupo Fatback Band. Em seguida é lançado o super clássico “Rapper's Delight” do grupo Sugarhill Gang, feito em cima do instrumental de “Good Times”, da banda Chic, e o rap ganha o mundo. Logo os primeiros artistas que iniciaram suas carreiras dentro do rap surgem, como Run-DMC e LL Cool J em 1983 e 1984. Os próximos dez anos são conhecidos como a Golden Era do Hip Hop estadunidense e se destacaram, entre outros, artistas como Public Enemy, Boogie Down Productions, Eric B. & Rakim, De La Soul, A Tribe Called Quest, Coolio, Gang Starr, Big Daddy Kane e os Jungle Brothers, Beastie Boys, Wu-Tang Clan e os imortais Tupac Shakur e Notorious BIG.

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