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Mr Catra e o Esconderijo do Altíssimo

Jeff Ferreira
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O saudoso Mr Catra é uma daquelas figuras ímpares da nossa música. Artista instrumentista, rimador, políglota e adepto à poligamia, poucas pessoas conheceram a essência de Catra, já que o seu lado "proibidão" foi o que fez sua carreira decolar. Criado no Morro do Catrambi, no Complexo do Borel, no bairro da Tijuca, Zona Norte do Rio de Janeiro, Wagner Domingues Costa nasceu no dia 5 de novembro de 1968 (mesmo dia e ano em que nasceram Marcelo D2, Thaíde e X Câmbio Negro) e começou sua carreira na banda O Beco, em meados dos anos 80, onde tocava guitarra e arriscava umas letras. A banda tinha como estilo o rock oitentista puxado para o pop e o reggae da baixada fluminense, contemporâneos do Cidade Negra e KMD-5 (banda por onde passaram Lauro Farias e Marcelo Yuka e mais tarde se transformou n'O Rappa).


Nos anos 90, Catra mantém uma forte amizade com Primo Preto, um dos fundadores do SP Funk e com passagem pelo Yo! MTV. O VJ paulista colocou o carioca em contato com a Zâmbia Records, gravadora independente de São Paulo, responsável pelos primeiros discos do Racionais MC's. Catra e Zâmbia assinam contrato e o MC lança seu primeiro disco em 1998, O Bonde dos Justos, voltado para o electro funk, Miami Bass, rap, reggae e até uma pitada de gospel e com a linguagem dos morros cariocas.


Em 1999 a parceria com a Zâmbia rende mais um disco, o Esconderijo do Altíssimo. O álbum contou com um time de produtores com Dexter (70), responsável pelo disco Só Love, de 1998, da dupla Claudinho e Bochecha; o DJ Robson Leandro, que também ficou a cargo dos scratches; Victor Júnior, outro que atuou ao lado de Claudinho e Bochecha; e o DJ Roger Lyra, da equipe Furacão 2000.


Esconderijo do Altíssimo possui treze faixas e abre com a música geoovada "Bolidor", um funk que mais de aproxima da escola da Black Rio do que do Miami Bass, um papo reto sobre um sujeito que age de forma errada.


Na sequência, em cima do sample de "DJ Innovator", de Chubb Rock, o mesmo que Ndee Naldinho usou em 1988 na clássica "Melô da Lagartixa", Catra canta em "Eva" o quanto gosta da erva. Foi uma forma de o MC burlar a censura.


A faixa três é "O Retorno do Justo", com BPM's acelerados a música trás toda a estética do funk carioca dos anos 90. A canção faz ode aos morros da capital fluminense.


Em "Peida Agora, Para Não Peidar Na Hora", outro instrumental Miami Bass em faixa que sobre as relações nas favelas. Já em "Eu Gosto de Mulher (Claro!!)" Mr Catra buscou inspiração na fase inicial do Hip Hop usando sample de Grandmaster Flash em "The Message" e como o título sugere, a letra explícita o quão Catra curte o gênero femenino.


"Somos Jovens, Somos Fortes" é uma faixa que remete à época da banda O Beco, um reggae da baixada. A música conta com as participações de Valério Cara de Porco e o "monstro" Sabará. A canção exalta a participação dos jovens na construção do país.


A faixa seguinte é "Líquido do Amor" uma love song com BPMs lentos remetendo ao rap romântico dos anos 80 e 90. Em "Faquir" Catra rima em cima de um boombap groovado com baixo marcante e scratches. "Fortalecer" sobe os BPMs e se apresenta como um original funk carioca.


Já a música "Vacilão (Vai Virar Carvão)" apresenta uma interessante construção musical, pois viaja no rock funkeado, no reggae da baixada e Hop Hop oitentista e ainda trás a áurea do funk do Rio de Janeiro. A música é uma "oreiada" para os vacilões da quebrada e mostra as duras consequências.


Com potentes graves a música "O Retorno Contra-Ataca" se relaciona diretamente com o título do álbum. A música tem um tom gospel e vem na pegada do eletrofunk. Com genial refrão: "seja humilde, pense bem / se não fosse as favelas o Catra não era ninguém", a música "Seja Humilde", com BPM's lá em cima o Miami Bass clama pela humanidade.

 

Fechando o disco tem a música "O Altíssimo", um boombap com melodia suave, flow cantado e letra que clama a divindade.

O disco No Esconderijo do Altíssimo é uma amostra da versatilidade e potência sonora de Wagner Domingues Costa. Mr Catra ficou famoso em todo território nacional pelo famigerado funk "putaria", mas sua caminhada é para além do mainstream. E para quem acha que Catra se vendeu ou se perdeu no meio do caminho, depois de experimentar a fama e recebe os louros de um artista consagrado e amado no seio popular, o MC lançou músicas com a banda Os Templários um projeto de "powerfunkineroll", como Catra definiu. O grupo misturava funk metal, rock e hardcore e tinha pitadas de rap, fez bastante sucesso com o clipe "O Retorno de Jedi" em 2015.


Mr Catra & Os Templários foi formada em 2001, em um churrasco e antes de fazer som autoral, tocavam covers de Titãs. A banda foi formada por Marcello Nunes na bateria, Reinaldo Goredoom na guitarra, Stanley Svaig no baixo, Willigton Coelho e Morgan Stern na percussão e Mr Catra no vocal.

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