Siloque está de volta! Quem acompanha a carteira do rapper sabe da potência de suas linhas, principalmente em seu último disco, de quatro anos atrás, o Guia Prático de Como Fazer Inimigos. Com um novo álbum, gravado em dois dias e produzido nas semanas subsequentes, rapper segue a linha contundente refletindo sobre esse péssimo Brasil abraçado pelo fascismo e entrega novas possibilidades em um trabalho lírico e com a alma do underground. Tirando o Lixo é o quarto álbum de Siloque que entra em uma nova fase de sua caminha e sobre tudo isso o artista fala nesse bate papo. Confira:
Submundo do Som - Mano, primeiramente satisfação em voltar a trocar ideia contigo. É sempre um bom papo e uma honra!
Siloque - Salve, Jeff! A satisfação é toda minha. Muito obrigado mais uma vez pelo convite, pelo espaço e por todo apoio.
Submundo do Som - Cara, quatro anos depois do último álbum, Siloque está de volta. Porque desse hiato e o que motivou o retorno?
Siloque - Na real, as coisas aconteceram de forma natural. Embora nesses anos eu estivesse envolvido com outros projetos, musicais ou não, não me senti em nenhum momento motivado a gravar um novo disco de rap. Desde “Queime o Coração de Gelo”, eu nunca mais gravei nada por gravar. E, mesmo que algumas pessoas me cobrassem “e o rap?”, eu não acho que seria honesto vomitar um disco forçado e gravar apenas para “picar o cartão”. No começo do ano eu rabisquei algumas letras, mas não cogitava tirá-las do papel, porém, posso dizer que seu incentivo, representando o Submundo do Som, e seu empenho na força-tarefa de montar um home studio em meu quarto para que o disco acontecesse, foi o principal motivo do retorno.
Submundo do Som - Se bem que nesses quatro anos, o Siloque ainda fez alguns feats e lançou um single. Mas o Mario não parou um minuto, certo? Para quem não tá ligado, o que você aprontou nesse período em que o MC recuperava o fôlego?
Siloque - Cara, esses anos foram bem doidos. Gravei um disco e alguns singles de downtempo como “Dopewitch”, gravei dez singles como “Bas-Fond”, que depois foram compilados no disco “First Effort”. “Bas-Fond” é um projeto irrotulável que me realizou a possibilidade de produzir cantores de diversos países. Uma das conexões realizadas durante a produção dos singles desse projeto foi com a cantora francesa Nova, e o que era pra ser apenas um single, acabou se tornando um novo projeto, o “Ocean Key”, e em apenas dois anos de existência, estamos prestes a lançar nosso terceiro disco, “Warm”, dia 09/09. Esse disco conta com um novo membro na formação, que é o Gabriel Bunho, guitarrista brabo de Piracicaba. Além dos projetos musicais, ainda escrevi e publiquei dois livros de maneira independente: “O que terá acontecido ao Rato Herman?” e “Tragam-me a cabeça de Rato Herman!”. Ano que vem será lançada a última parte da trilogia, “Uma cilada para Rato Herman.” Também estou cantando e tocando guitarra na banda de Punk Rock “Fun For Freaks”, lançaremos nosso primeiro single em breve. Acho que é isso!
Submundo do Som - Tirando o Lixo, ao meu ver, é uma guinada de 360 graus na trajetória do Siloque. Ele se inicia onde o Guia Prático de Como Fazer Inimigos se encerra, passeia pela sonoridade do Nova Inquisição e tem a alma underground de Queime o Coração de Gelo e, diria mais, bebe do experimentalismo d'O Reinado. Como você vê esse novo filho na discografia do Siloque?
Siloque - Cara, particularmente, eu vejo como um novo capítulo da história. Acredito que cada um dos meus álbuns se destoe em atmosfera e sonoridade de todos os outros, e dessa vez não poderia ser diferente. Embora as letras sejam bem pontiagudas, é um disco criado com bem menos raiva que seu antecessor. É um disco mais evoluído, mais resolvido e — não que os outros não sejam —, o mais honesto de todos. É um disco de esperanças renovadas, que enterra os fantasmas de uma era sombria, sanguinolenta é desumana que está chegando ao fim.
Submundo do Som - Falando da produção, no “Guia Prático” falamos bastante, em outras entrevistas, sobre ter sido um disco DIY produzido com orçamento de zero reais. “Tirando o Lixo” teve o mesmo modus operandi e talvez até mais baixo custo ainda que seu antecessor. Comenta um pouco sobre a concepção do álbum, a produção das bases, a pós-produção.
Siloque - Na real, quando falamos pela primeira vez sobre a possibilidade de gravar, era pra soltar apenas a música “Tirando o Lixo”, mas a ideia foi se aflorando e, em poucos dias, chegamos ao conceito do álbum/EP. Os três instrumentais de minha autoria foram produzidos nos últimos três meses. Os três beats assinados por Leo Machion, Drinbeats e Jhoy são beats que carrego comigo há alguns anos. Com os beats preparados, a captação de voz foi realizada em dois dias, duas sessões de quatro ou cinco horas, realizadas por mim e por você mesmo que me pergunta (risos). A mix e a master foram realizadas por mim (modéstia à parte, estou muito feliz com a mix de voz que fiz pra esse disco) num período de três semanas, totalizando, entre as folgas, doze ou treze dias de trabalho árduo. Viva o DIY.
Submundo do Som - Mano, topa rapidamente passar pelas sete faixas do álbum? Como você descreveria cada uma delas?
Siloque - Faixas 1 e 2 - Tirando o Lixo e Tiktok, Teco e Pix – Letras novas, beats sem sampler, produções minhas. O primeiro som, “Tirando o Lixo”, traz a participação de Bunho nas guitarras, que por sinal realizou um trabalho bem bonito. E a segunda, “Tiktok, Teco e Pix”, foi originalmente criado em um beat Boom Bap, com sampler, mas, decidido a produzir os beats que fossem da minha autoria sem a utilização de samplers, refiz ele duas vezes até chegar em sua versão final. A primeira versão ficou um negócio malucão, meio “Death Grips”, mas não era bem o que eu procurava. A segunda versão, e definitiva, foi criada um dia antes da data de gravação.
Faixa 3 – Desidratando – O instrumental desse som era um beat com sampler, porém, quando alterei para a versão sem sampler, mantive o mais fiel possível à primeira versão. Essa é uma letra que escrevi após as sessões do “Guia Prático”, e foi escrita para um projeto de Rapcore com uma galera de Brasília, muito gente boa por sinal, mas infelizmente o projeto não rolou. Particularmente, gosto muito dessa letra, então resolvi tirá-la da gaveta, lapidá-la e o resultado está aí.
Faixa 4 – Pista Lisa – Esse beat do Leo Machion é um absurdo! Algo entre o Boom Bap, o Lo-Fi, o Experimental e o Absurdo! Esse som era para um projeto meu, do Léo e do Drinbeats que nunca saiu do papel. A letra foi bastante modificada, e a parte após o refrão foi escrita do zero há poucos meses. Fazer esse som foi bem divertido, pois os flows são bem variados, então deu pra brincar bastante por toda sua extensão. Essa é a sexta colaboração entre Leo Machion e eu.
Faixa 5 – Guerreiros de Açúcar – Beat soturno, terapêutico e maravilhoso do Drinbeats, que também faria parte do projeto citado no som acima. É um Lo-Fi chuvoso, noturno, pesado, dos mais bonitos. Reescrevi a letra e mudei a forma de cantar, deixando menos melódico e mais sombrio. Minha mulher vive me lembrando que preferia a primeira versão. (risos)
Faixa 6 – Fim do Mundo a Dois – Instrumental diferentaço de Jhoy. Eu nem saberia como rotular e também não acho que seja necessário. Essa á única letra que mantive exatamente como a versão final de 2018 ou 2019. É uma canção rebelde, uma Love Song atípica; a segunda que faço para a mulher da minha vida.
Faixa 7 – Propaganda Gratuita – Só uma brincadeirinha pra fechar o álbum com uma atmosfera descontraída. O nome diz tudo.
Submundo do Som - Por fim, o que podemos esperar do Siloque? Quais são os próximos projetos?
Siloque - Em breve vai sair um single do “Ocean Key”, mas não posso falar muito sobre ele, pois se trata de uma surpresa para uma banda. Posso adiantar que em 2023 sai meu terceiro livro, a parte final da saga Rato Herman, o primeiro disco do “Fun For Freaks” e mais um disco do “Siloque” seguindo esse mesmo modus operandi. (risos)
Submundo do Som - Siloque, muito obrigado pelo bate papo mano! Deixa aí suas redes sociais e suas considerações finais!
Siloque - Eu que agradeço novamente pelo espaço, meu mano! Muito obrigado mesmo! Me segue lá no insta @siloque_basfond, que é onde mais posto sobre meus trampos. De lá, você consegue acessar todos os lugares em que meus trabalhos se encontram! Vamo que vamo. Ouçam meus discos, leiam meus livros e apóiem os artistas underground sempre que vocês puderem. É o apoio de vocês que nos mantém vivos. Valeu!
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