Não é novidade que a Bahia é um caldeirão
musical e cultural. No Hip Hop o fogo é alto, borbulha e a colher de pau
mistura a coisa toda, sempre muito bem temperada.
Um desses temperos é Viktor Arkad,
nome artístico de Víctor, que desde 2006 vem cozinhando no rap, quando lançou o
disco Preparado Para Batalha com seu grupo Atitude Diferenciada. Essa era uma
degustação para agora provarmos o prato principal do mestre Arkad.
O EP A De Fora É A Minha, lançado
em 2022, traz no cardápio ragga, reggae, trap, arrocha, pagode, funk e
afrobeat, além de referências ao samba reggae, música eletrônica e grime, tudo
isso dentro de um disco de Rap.
O time envolvido na preparação desse
banquete conta com a produção da dupla André That Hora e Raonir Braz, da MPN
Records e do lendário Fasutino Beats. Rap com “R” maiúsculo tem que ter scratch
e assim que Viktor vem, com Rap de gente grande, e quem risca no toca-discos é
o DJ Poeira, tacando fogo no forno a lenha. Ainda tem
as vozes de Bia Porto e Therr San, temperos agridoce dessa construção. Rafael
Oliveira é responsável pela apresentação, assume o cargo de designer. Já Rafael
Ramos converte a música em foto e Thássio Reis é o maître responsável por
organizar a praça assimndo a direção criativa. O time se completa com Braian,
do icônico grupo Filosofia de Rua Ainda, sob o nome de Vovô no Beat que captou
a voz de Bia Porto e agora faz com que o mundo inteiro possa ouvi-la. E servido
a cada um dos ouvintes vem Raonir Braz na mixagem e masterização.
Viktor
Arkad busca inspiração nos racha, ou que se diz na Bahia: nos baba. A De Fora É
Minha é campinho de terra, não é grama sintética, é pés descalços, não é
chuteira de marca, é peia de time de quebrada, não de clube europeu, é trave de
pau, não de ferro. É a poeira vermelha que se transforma é música e a torcida
canta na arquibancada. A única falta nessa pelada é a de não dar play!
O EP abre com a faixa título “A
De Fora É Minha” que tras o clima de festa em arquibancada na mistura do pagodão
com o grime, e abre as metáforas futebolísticas que seguem no decorrer do
álbum. Na segunda faixa “Eu e VC”, em Viktor aposta em uma love song que bebe
do experimentalismo em uma espécie de arrocha-trap. Seguindo, a música “Sextoou”,
que como o nome sugere é um brinde ao final de semana, a noite, a dança, e o
instrumental com reggaeton, afrobeat e
uma pitada de samba-reggae vem na dose certa.
A faixa quatro é “Minha Fé”, um
clássico e ousado Rap, boombap de raiz e o moderno Trap bem temperados com
elementos do Samba e do Funk, batida tensa e dançante. Na sequência temos a
penúltima canção “Game On” a mais suingada das tracks e que sintetiza bem a
atmosfera do álbum: a diversidade, a guitarra soando ao fundo, o Trap, o Funk,
a música eletrônica, tudo cozinhado no mesmo vapor. Fechando o EP vem a música “Vivendo
a Vida ao Vivo” é outra faixa pra cima, a suavidade do clap e atmosfera do
reggae se alternam com a caixa e os chimbais característicos do Trap para uma
letra que, como o nome o entrega, fala de viver a vida longe da conectividade
toxica que muitas vezes as redes, que deveriam ser sociais, oferecem.
A De Fora É Minha não é fast
food, é para apreciação requintada. Teve preparo cuidadoso e o resultado é sofisticado,
cinco estrela. Mas também é comida de praia, brisa na cara, ceva gelada, preta
do lado, resenha com os camaradas, pé na areia. A sonoridade pesada e dançante,
adicionada as letras conscientes e contundentes é a deixa para os DJs que dormem
no barulho rolarem nos bailes, não só de Salvador, mas de qualquer parte do
globo. Meus cumprimentos ao chefe!
Postar um comentário
0Comentários