Das quebradas de Campinas vem a voz armada de Ruana, MC que acaba de colocar na pista seu segundo álbum Puro Fyah, e versatilidade e originalidade são palavras chaves para a definição dessa obra.
Com uma caminhada no rap desde o
já longínquo 01 dezembro 2011, Ruana entregou muito pelos projetos que integrou
e que não foram poucos: Revolta 573, Nomads Voz Armada, Epopeia Mundo 13, Ruana
Soul ou simplesmente Ruana Voz Armada.
Um dos pontos que chama atenção
na artista é o seu compromisso e amor ao rap e a cultura Hip Hop, sentimento
que foi musicado: “Mudou minha vida, me deu um bom motivo para seguir, foi pelo
momento exato que apareceu pra mim. O tempo passa e o amor só aumentando...”, e
ganhou clipe com a união dos 4 elementos, como o Hip Hop tem que ser: scratches
do DJ Dumbo, os passos dos bboys China (Radicais Suburbanos Crew) e Magrão e
Bruno (MOS Crew), bombs dos grafiteiros Coxa HC e Soneka, além dos outras
manifestações artísticas como malabares de fogo do Cyrco Tuko. Ah, e obviamente
o MC, na voz e letra de Ruana e a faixa em questão é a sugestiva “Amor ao Rap”!
(veja o clipe aqui)
Ruana lançou em 2021 seu
primeiro trabalho solo e foi logo um álbum cheio em que literalmente colocou
sua alma. Ruana Soul é um disco de 14 faixas com emblemática introdução poética e
intensa, aqui vemos a essência de uma mulher forte, guerreira e que no interior
de São Paulo mostra o interior de seu coração com faixas reflexivas e de muito
amor ao rap. Trabalho que reúne parceiros de caminhada como o DJ Dumbo e seu
sempre companheiro Ovelha Voz Armada.
Pois bem, depois desse breve
retrospecto chegamos a fevereiro de 2022, mês em que Ruana Soul foi lançado e
que doze meses depois é sucedido por Puro Fyah, seu segundo trabalho. Por que o
mês 02? É no mês mais curto do ano que a MC completa mais um ciclo de vida,
nada melhor do que comemorar com arte!
Puro Fyah é uma sequência direta
de Ruana Soul, se no primeiro disco a capa fria remete água e sua importância
para a sobrevivência humana, nesse segundo trabalho o elemento é o fogo e representa
o renascimento. Ruana surge como uma fênix encandeceste para um álbum quente. A
capa é assinada pelo artista Arts Royale.
RUAna, que carrega a rua em seu nome, é amante não somente do Hip Hop, mas da cultura de rua, da poesia marginal e entrega suas referências e influências que vão do rock ao reggae, passando pela jazz, R&B, ragga e os subgêneros do rap. A faixa que abre o disco é “Vai Ter Que Ouvir” e carrega tudo isso ao som do rapcore em uma banda formada pelo batera Juliano, a guitarra de Dario e baixo de Mosquito, além do DJ Dumbo na contenção. Nos vocais Ruana tem a companhia de Ovelha e da banda Antidoto Urbano, com Paulão e Juliano. Puro Fyah já começa incendiário!
A faixa seguinte é “Não Fala”
com instrumental assinado por Gilbeats e que busca timbres da modernidade do
rap, o trap. Ruana discorre sobre as falácias que muitos dos nossos têm que
enfrentar no cotidiano. Na sequência vem a música “Acordar Mais Cedo” com base
de Max no Beat que faz um trabalho fantástico com agudos que deixam o beat
denso e um delay que em muito lembra os ritmos jamaicanos. Runa traz versos
melódicos que se somam a flow direto e brabo de Ovelha em uma análise sobre o
Brasil atual e sua opressão para com o povo.
Na quarta canção, “Dreher”, é
como se houvesse um encontro de Janis Joplin, Dezarie e a uruguaia Alika para
uma jam session regada ao famoso conhaque. O ragga é o estilo predominante do
vocal em cima do beat suave de Julivan Lemes, e onde Ruana explana sobre as saídas
que encontrou.
“Não Volto Atrás” é a faixa
cinco, com beat do DJ Piá que dá peso ao bumbo e caixa e flerta com a cadência
do reggae, com grave no baixo e candura na harmonia. Ruana caí para o R&B
com canto melódio em uma canção sobre relacionamento. A influência explicita
volta no reggae “Diversas Ruas”, outra produção do DJ Piá, onde o delay e dub
jamaicano são mesclados com scratches do Hip Hop. Alternando entre o flow
melódico e carregado, Ruana fala da sua caminhada, do seu corre e mostra a sua
força como mulher e artista.
Fechando o álbum Puro Fyah, uma
canção de louvor. “Foi As Mãos de Deus” é outra mescla de referências, pois
traz a devoção encontrada na cultura rastafari, flerta com o rap gospel e bebe
do soul e R&B comumente encontrado nas igrejas da comunidade negra
estadunidense. O beat novamente é do Julivan Lemes e em suas linhas Ruana traz vivências
e sentimentos introspectivos para fechar o EP com uma canção de agradecimento.
Apesar de um disco solo, Puro
Fyah foi construído a partir de muita colaboração. Como vimos, as produções
ficaram a encargo de um seleto grupo que corroborou para a diversidade do
projeto: beat : Gilbeats Beat, Max no Beat, Julivan Lemes, Dj Pia e a banda
Antidoto Urbano deram o tom para as poesias. O MW Rap foi responsável por boa
parte da gravação e mixagem das músicas, com exceção de “Diversas Ruas” gravada
e Produzida Pelo DJ Piá e Vai Ter Que Ouvir”, gravada no Jham Estudio e mixada
pelo Juliano da banda Antídoto Urbano. Todas as faixas tiveram masterização do MW
Rap.
Ao longo das 7 faixas vemos uma
Ruana madura e dona de si enquanto ser humano e cada vez mais completa artisticamente.
Sua carreira segue todo vapor não somente pelas ruas campineiras, mas pelo
underground brasileiro. Cada vez mais a voz armada da MC vai adentrando em
novos ouvidos e sua versatilidade a faz transitar em diferentes cenas que
dialogam entre si.
Os próximos passos serão o
lançamento do vídeo clipe da música “Diversas Ruas” e fazer muito barulho nessa
caminhada que atentamente quero acompanhar.
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