Entrevista | Rapper Baiano MC - O Verbo de Malandro direto de Salvador

O Submundo do Som trocou uma ideia com o Rapper Baiano MC uma das muitas vozes do Hip Hop soteropolitano e que ao lado do Poeta da Madrugada formam o Verbo de Malandro. Nesse bate papo o MC falou de sua trajetória, entrada na cultura, sobre o grupo e seus sonhos. Confira:

Submundo do Som - Salve! Primeiramente muito obrigado pela troca de ideia e quero começar pedindo para que se apresente, quem é o Baiano MC? Como você começou na cultura Hip Hop e quais os trabalhos e apresentações feitas até aqui?

Rapper Baiano Mc - Meu começo de 96 para 97, eu tinha uns 10 ou 11 anos e comecei como bboy com algumas gangs de breaking. Lembro da primeira crew que Os Caças Festas, depois Primitivos Do Rap e daí por diante. Sou nascido e criado na periferia chamada Boca do Rio onde havia discotecas como a Sede do Transa ou Sede da União, tinha os blocos afros como o Oriaxe. Foi nesse ritmo das matinês dançantes, era Glozape, Estique-Puxe, a black power na periferia de Itapuã foi através do street dance, assim que conheci o Hip Hop. Comecei ouvindo Dr. Dre, Big Pan, Snoop Dogg, 2 Pac, Notorious Big. Mas foi de 90 para 2000 que ouvi os raps nacionais: MC Jack, Os Metralhas, Nelson Triunfo, Thaide, RPW, Sistema Negro, Racionais, RZO e vários daquela época. No começo dos anos 2000 fundei o grupo Verbo de Malandro e em 2003 gravamos o primeiro álbum Há Momentos Na Vida Que O Malandro Sente Medo, em 2007 gravamos o segundo CD, Salvador Capital Da Vergonha, depois paramos e retornamos há 5 anos.

Lembro que as casas, como a Rocinha, o Quilombo Cecilia, o Mega Show Luao do Corsário e nas periferias de Salvador, aconteciam vários eventos. Daí veio as posses que eram organização do movimento Hip Hop, cada bairro tinha suas posses, mas nunca fui de colar em posse porque para ser sincero, fui de muita treta, no meu grupo, os caras falavam que a gente era gangsta, que eu era problemático. Realmente, eu tinha 20 anos e batia de frente com os grupo, com as posses porque marfiava nosso som nos eventos. Hoje tenho outra cabeça, tenho 45 anos e penso diferente, perdi muitos amigos, a polícia embaçava legal porque os caras que acompanhava o grupo eram envolvidos com o crime. Tem muitas músicas minhas que fala disso tudo eu lancei o bar do rap que era um bar onde os manos e minas do movimento Hip Hop iam trocar ideia, beber, ler e dançar.

Submundo do Som - Mano, como é ser um rapper na Bahia? E como você vê a cena musical de Salvador?

Rapper Baiano Mc - Para gente aqui da Bahia sempre foi difícil ser rapper porque também houve perseguição policial, uma vez eu e meu parceiro que rima comigo, o Poeta da Madrugada, sofremos na mão dos policiais, eles nos levaram para um matagal em um bairro chamado Patamares e nos ameaçaram com pistola, mas Deus estava com a gente aquele dia.

Submundo do Som - Você está no rap há uma caminhada e já viu bastante transformações na cena. Em 2022 como você vê o atual momento que o Hip Hop vive?

Rapper Baiano Mc - A cena mudou muito, a gente tocava com vinil e aparelho de MD, alguns com CD, havia pouco recurso, palco de caixote, microfonia... Um cara para fazer base, que hoje chamamos de beat, era o mais procurado, não tinha rede social, MP3, plataforma digital, nada disso. Hoje o rap tá mais tecnológico do que cultural. Com a chegada do trap fortalece a gente que ainda faz o Rap de raiz.

Submundo do Som - Sobre a música “Parece Cocaína Mais E Só Areia”, que vem introspectiva e ao mesmo tempo fala de um mal geral na sociedade, de onde vem a inspiração e motivação para escrever essa letra?

Rapper Baiano Mc – “Parece Cocaína Mais É Só Areia” é uma música que veio quando alguns colegas meus morreram cheirando ou devido a outras drogas. Vi que além de ser uma droga cara que atinge a alta e baixa sociedade, pessoa que usa realmente sente euforia, mas não sente necessidades sexuais, dá picos no cérebro, traz transtornos, AVC, falta de apetite e deixa a pessoa sarcopenia.

Submundo do Som - Conta aí para nós, o que é o projeto Verbo de Malandro?

Rapper Baiano Mc – O Verbo de Malandro existe desde 2000, nessa época eu tinha a personalidade forte, houve muita treta comigo, más companhia, radicalismo... Com o tempo vi que perdia mais que ganhava. Hoje o Verbo de Malandro é um grupo muito influente aqui em Salvador - BA com letras contundentes e realistas, nos tornamos um dos marcos aqui da capital. Nosso som passa informação positiva, autoestima, elabora projetos socioeducativos como o HIP HOP 100 FRONTEIRA.

Submundo do Som - Baiano MC, nessa caminhada pela música, quais os sonhos que você ainda deseja realizar?

Rapper Baiano Mc - Nosso sonho é igual o sonhos de todos: melhorar financeiramente e ter reconhecimento para fazer projetos na quebrada.

Submundo do Som - Qual a mensagem que você deixa para quem acompanha o seu trabalho e que nos segue nesse bate papo?

Rapper Baiano Mc - A mensagem que passo para quem curte nosso som é que acredite  no seu sonho, enxergar sua realidade e faça dos erros um exemplo para toda vida. Melhorar a postura, se informar não aceitar o racismo, não aceitar ser oprimido. Se cair, se levante. Se não anda rasteje, mas não desista do seu objetivo como até hoje eu não desisti.

Submundo do Som - E para quem quiser acompanhar mais de perto o trabalho do Baiano MC como faz? Quais são suas redes sociais?

Rapper Baiano Mc - Nossas redes sociais são:

YouTube: Verbo de Malandro

Instagram: Verbo de Malandro

Rede Pessoal: O-rapper_bem_estar