No xadrez, En Passant é um
movimento especial de captura do peão, onde este pode capturar o peão
adversário durante sua passagem. E baseado nesse movimento que o grupo Xemalami (Xeque Mate La Missión) apresenta seu novo
trabalho: o EP En Passant.
O título, muito bem pensado por
sinal, faz uma analogia a passagem pela vida, pelo dia a dia, e tudo aquilo que
capturamos nessa caminha, seja através dos olhares, corres, conversas ou
ensinamentos didáticos. O Xemalami tem uma relação íntima com o xadrez,
utilizam o jogo como ferramenta de transformação social, assim como o Hip Hop,
tanto que o nome do grupo é inspirado na missão da atividade no tabuleiro. O
Submundo do Som Entrevistas bateu um papo com o Xemalami onde o grupo falou de
sua trajetória e você pode ouvir aqui.
É baseado nessa relação com o
xadrez que o EP se inicia com a faixa “(Im) Prudência”,
onde são traçados paralelos entre o jogo e a vida, bem como mostrando como os
ensinamentos do tabuleiro podem ser aplicados na vida. E por isso título, remetendo
as consequências das ações cotidianas, que podem ser feitas com prudência, ou
não.
Já na faixa seguinte, “O ‘Não’ Vai Fortalecer”, a qual traz a
participação de Gor Flow, o grupo fala
sobre os “não” da vida e como as negativas que recebemos no cotidiano, no
fundo, acabam ajudando na evolução, pois fazem parte do aprendizado, como o
refrão bem sinaliza: “Não custa nada tentar, nóis
vai lutar para vencer, temo a certeza do não, o não vai fortalecer, oportunidade inteira, não desistir de sonhar”.
É como não conseguir capturar aquela peça, ter que recuar, se organizar e para
aí sim atacar novamente.
“Por
Um Bem Comum” é a faixa três, que ganham a adição dos versos
melódicos de Meg Pedrozzo para
falar das “muitas coisas de barrio”. Apesar de ambientada na área do grupo, o
Grajaú, a música aborda sentimentos comuns de qualquer quebrada, principalmente
o sentimento de coletividade, como no trecho: “Andando
pelas ruas do Graja, com meus camaradas, então me sinto em casa, Xemalami tá na
praça!”. Como aquela peça encurralada, mas que pelas verticais, horizontais
ou diagonais chegam os aliados para somar e as vezes até se sacrificar por um
bem comum.
A faixa quatro é um olhar para o
comportamento humano, as travadas que vários manos e minas dão perante as
situações da vida e traz participação de Cado Torre.
É estar encurralado por peças adversárias e conseguir escapar. Pois como o
refrão fala: “Então se trava, dixava, e se
dixava destrava, então se trava, destrava...”. “Trava Língua” segue como uma orelhada para
a postura e o peso da palavra para que meçamos o que será dito, para que não
diga “xeque-mate” onde não existe.
Fechando o EP temos a faixa “Buena
Planta”, em cima de um beat ragga, onde o Xemalami fala da hipocrisia da
sociedade que criminaliza a erva e ao mesmo tempo exalta as propriedades
medicinais e naturais da planta, como sua característica de calmante. O refrão
envolvente mostra como a marijuana contribui para o processo criativo: “meu fininho passou de mão em mão, quando chegou de volta
trouxe a inspiração”. A faixa que encerra o álbum se conecta com a
introdução que faz a abertura, pois volta a falar de prudência. Naquele momento
de análise do tabuleiro, em que é necessário relaxar, se acalmar, para não
cometer nenhuma imprudência. É crucial estar inspirado.
Xemalami: Drezz e Hyt. Foto de Ires Eloá S. |
A capa do EP é assinada por Sérgio
Fantos com ilustração de Jerry Batista.
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