Talvez não seja unânime, mas por maioria de votos, convenhamos que Sobrevivendo no Inferno é o grande álbum do rap brasileiro, o divisor de águas, o disco favorito do seu MC favorito. Dada a importância histórica e cultural é natural que o trabalho derive em outras obras, e hoje vamos falar da literatura Hip Hop baseada no disco Sobrevivendo no Inferno.
Além do Cultura de Rua não conheço outro disco de rap nacional que ganhou um livro sobre si. O quarto capítulo do Racionais MC's não virou apenas um livro, mas três. O primeiro deles é o mais conhecido e leva o mesmo nome do álbum, aquele da capa preta e cruz dourada, remetendo a capa do clássico. O segundo vem da Dinamarca, escrito por um gringo PhD em Antropologia Cultural, também leva o nome do disco e pertence a série 33 1/3 Brazil. Já o terceiro livro é da série O Livro do Disco é é intitulado de Racionais MC's: Sobrevivendo no Inferno.
Em 2018 a Universidade Estadual de Campinas, a UNICAMP, uma das mais prestigiadas do Brasil, incluiu, como leitura obrigatória para seu vestibular, o disco Sobrevivendo no Inferno. Pensando em facilitar o acesso as letras, já que na internet nem sempre estão digitadas corretamente, o grupo lança pela Cia das Letra o livro Sobrevivendo no Inferno, reunindo todas as letras das faixas do álbum e um brilhante prefácio assinado pelo professor de literatura brasileira na Universidade de Pernambuco, o Acauam Silvério de Oliveira. Bem verdade que, para a rapaziada fora do contexto do vestibular, o livro não agradou, pois não se tratava de uma biografia o histórias de bastidores do disco, nem mesmo as letras coentadas, frustrando a expectativa dos fãs.
A série 33 1/3 Brazil, da In-house Editora, é focada em aprofundar sobre os discos brasileiros mais importantes do século XXI, pela série foram publicados livros sobre os discos Um Som Estrangeiro, de Caetano Veloso, Tim Maia Racional (Vol 1 e 2), Getz/Gilberto, de João Gilberto e Stan Getz, Sorriso Negro, de Dona Ivone Lara, Refazenda, de Gilberto Gil, e Clube da Esquina, de Lô Borges e Miltom Nascimento. Agora em 2021 foi a vez do Racionais MC's com o Sobrevivendo no Inferno. O autor da obra é Derek Pardue, PhD e professor associado em Estudos Globais na Universidade de Aarthus, na Dinamarca. Pardue tem trabalhos de campo e pesquisa no Brasil, Portugal e Cabo Verde, além da Dinamarca, sua experiência com a cultura de rua em nosso país gerou um livro em 2011, o Brazilian Hip Hoppers Speak from the Margins.
Trecho da sinopse do livro de Derek Pardue:
"A atração do Sobrevivendo é a combinação particular de palavra e som que envolve poderosamente os ouvintes, especialmente aqueles milhões de jovens brasileiros que vivem nos bairros da periferia das megacidades brasileiras. Este livro comemora o aniversário de 25 anos do Sobrevivendo , representando o poder do álbum não apenas dentro da comunidade hip-hop, mas também em outros domínios culturais, como cinema e literatura. O autor também fornece seus próprios giros narrativos sobre o sentimento de Sobrevivendo , tornando o livro uma mistura criativa de análise cultural e testemunho inspirado".
Também em 2021, o Sobrevivendo no Inferno ganha novo livro, esse escrito por Arthur Dantas Rocha, também conhecido como Velot Wamba, um mano de muita contribuição para o underground nacional e que já trabalhou em grandes veiculos de cultura. Foram sete meses debruçado no disco, em entrevista para a TMDQA, Arthur fala do poder de transformação que o álbum promove:
O trabalho de Arthur foi publicado pela editora Cobogó e integra a série O Livro do Disco, que visa obras literárias a respeito de clássicos da música brasileira.
Uma outra obra literária a respeito do Racionais MC's, e não necessariamente sobre o álbum Sobrevivendo no Inferno, é o livro A Cor e a Fúria - Uma Analise do Discurso Racial dos Racinais MC's, do mestre em História Social pela Universidade Estadual de Montes Claros, o Maik Antunes, e trecho da sinopse explica as razões para a obra:
"Este livro tem por objetivo analisar o discurso do grupo de rap paulistano Racionais MCs partindo para tanto daquilo que seria a essência deste mesmo discurso isto é seu aspecto racial algo que se explicaria não somente pela crença do referido grupo numa ideia de raça como acima de tudo pelo compromisso específico que os autointitulados quatro pretos mais perigosos do Brasil assumiriam para com esta mesma ideia".
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