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Qual a Primeira Música Gravada no Brasil? | Dupla de baianos é responsável pelo primeiro registro fonográfico da história do país

Jeff Ferreira
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Não é de hoje que falamos do quão pulsante é a cena musical baiana, da diversidade, criatividade e ritmo frenético de produção. Em 2021, principalmente Salvador, se apresenta como uma grande usina do barulho, porém nesse texto vamos deixar o hoje de lado e dar uma volta no tempo para saudar Xisto de Paula Bahia e Bahiano, autores da primeira música brasileira a ser gravada, e o Bahia não é somente um sobrenome, é também o estado de onde vêm esses manos.


A Bahia é pioneira em diversas frentes artísticas, sejam literárias, musicais ou cênicas. Tantas vezes os baianos são injustiçados, juntos de outros irmãos nordestinos, que frequentemente tem sua história apagada por figurões do sul e sudeste, sobretudo quando se trata da vanguarda. E aqui vamos dar holofotes a esse pioneirismo e contar a história do primeiro registro fonográfico brasileiro:


Na cronologia da linha do tempo, começamos com o senhor Thomas Edison inventando o fonógrafo, primeiro aparelho capaz de gravar e reproduzir sons, isso no ano de 1877. Passando-se 14 anos, o checo Frederico Figner imigra ao Brasil trazendo consigo o dispositivo. O fonografo foi bem aceito pelos brasileiros, então em 1900 Figner funda a primeira gravadora brasileira na capital carioca e a batiza de Casas Edison. O checo foi se aventurando pelo segmento e abriu uma fábrica para produzir os primeiros discos de goma-laca do Brasil. Essa aventura fez nascer a Odeon, o selo prensou a primeira gravação da história da música nacional: um canto de origem africana, introduzido no Brasil por negros escravizados vindos da Angola, conhecido como lundu, e a música em questão foi batizada de “Isto É Bom”, o autor de sua composição foi Xisto Bahia, e quem a cantou foi Bahiano, que mais tarde foi responsável pelo primeiro samba da história a ser gravado (que se tem notícia), a música “Pelo Telefone".


Xisto nasceu em Salvador em 6 de agosto de 1841, filho de Tereza de Jesus Maria do Sacramento Bahia e do major do exército Francisco de Paula Bahia, além de compositor e músico ele foi ator e dramaturgo, se apresentando em estados do Norte, Nordeste e Sudeste do país, ainda foi escrevente na penitenciária de Niterói e comerciante. Sua obra flertou muito com o lundu, por ser apaixonado pela cultura popular afro-brasileira, pela dança e instrumentos. Xisto possuía somente como instrução a educação básica, aprendeu música de forma autodidata.


Em 1822, após a independência do Brasil, a Freguesia de Santo Antônio de Além do Carmo, comarca onde Xisto Bahia viveu em Salvador, se converteu e um lugar regado a música e boemia, com serestas e shows. E nessa época eram comuns como expressões populares os estilos musicais lundu e modinha, com canto melódico e temas sobre a relação de classes sociais e a cultura africana, o que moldou sua veia artística.


Xisto escreveu a canção em 1983 e quem colocou voz foi outro baiano, ou melhor Bahiano, de Santo Amaro da Purificação (província do então Império do Brasil), cujo nome de batismo é Manuel Pedro dos Santos, nascido em 5 de dezembro de 1870. Bahiano cantava os estilos populares da época com as modinhas e os lundus, no entanto o artista é lembrado por outro pioneirismo, a gravação do primeiro samba do país, a música “Pelo Telefone”, composta por Donga e Mauro de Almeida, e gravada em janeiro de 1917.


Bahiano gravou “Isto É Bom” em 1902 na Casa Edison, sob o selo Zonophone, nome fantasia para a Universal Talking Machine Company, uma das primeiras gravadoras e fabricantes de toca-discos dos Estados Unidos e que atuou de 1899 a 1903. O landu foi gravado em disco de goma laca, em um vinil de 78 rpm com codificação acústica e mecânica e capacidade para armazenar de 2 a 3 minutos de dados. Bahiano faleceu no Rio de Janeiro, aos 73 anos de idade, no mês de julho, no então distrito federal, a cidade do Rio de Janeiro.


No entanto, quando Bahiano gravou o lundu, Xisto já havia partido para um bom lugar, o soteropolitano faleceu em 1894, com apenas 53 anos de idade em Minas Gerais, e infelizmente não viu sua obra gravada, mas deixou sua contribuição para a pavimentação da música no Brasil. Um salve para Xisto Bahia e Bahiano!


Trecho da composição de Xisto:

O inverno é rigoroso
Bem dizia a minha vó
Quem dorme junto tem frio
Que fará quem dorme só

Isso é bom, isso é bom, isso é bom que dói
Isso é bom, isso é bom, isso é bom que dói

Os padres gostam de moças
E os doutores também
Eu como rapaz solteiro
Gosto mais do que ninguém

Isso é bom, isso é bom, isso é bom que dói
Isso é bom, isso é bom, isso é bom que dói

Confira "Isto É Bom" na voz de Bahiano:


Como as gravações de mais de 100 anos são difíceis de ouvir, trazemos uma versão de "Isto É Bom" de 1972, feita por Jorge Veiga:


Esse texto foi inspirado no artigo Xisto Bahia: 180 anos do autor da primeira música brasileira gravada de Lucas Vieira para o IMMUB.

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