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CHUCK BERRY | Black Alien põe os pingos Nos "i's" em single

Jeff Ferreira
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Black Alien e sua "banda" em Chuck Berry

 

Little Richard, Berry /Não é rixa, porém Elvis nunca foi o rei do Rock”, Black Alien, mais afiado e afinado que nunca, começa com uma rápida aula em seu novo som. O rock n’ roll é um gênero musical originalmente negro, nascido do blues e do Rhythm & Blues, e tendo como principais nomes Little Richard, Fats Domino e Chuck Berry, entretanto o racismo que promove o apagamento de negros e embranquece estilos musicais, para que sejam comercialmente aceitos, credita outro como rei, um branco leva a alcunha de ídolo máximo do rock. Em “Chuck Berry”, tanto em sua letra, lírica e audiovisual, Gustavo aborda essas questões.

 

Começamos com o beat de Papatinho, o mesmo que assinou as produções de Hello Hell: Abaixo de Zero, sendo assessorado por Black Alien, e juntos buscaram beber na fonte e samplearam Koko Taylor, a rainha do blues, com a música “Voodoo Woman”, lançada em 1975 no disco I Got What It Takes, pela gravadora Aligator (crédito para o @resenha_do_rap), e como coincidência, ou não, foi produzida também pela própria cantora, bem verdade ao lado de Bruce Iglauer e Joe Young, assim como Gustavo assina a produção de Chuck Berry. A atmosfera rock n’ roll do instrumental ajuda a música a transmitir a sua urgência na mensagem: “Várias neurose, uma só voz, e o som na veia”.

 

Assim como as músicas do álbum Abaixo de Zero, “Chuck Berry” vem introspectiva e falando dos demônios internos do nosso Black Alien, “Eu e Eu à sós na ceia”, dando continuidade a um processo de autoconhecimento e firmeza em se manter sóbrio, ao mesmo tempo que abre o discurso para outros temas contemporâneos e necessários serem ditos. Interessante ver Gustavo, na cozinha, preparando uma bebida natural, ostentar um copo de suco de laranja é uma revolução no rap, enquanto a cena prefere posar com energéticos, bebidas alcoólicas e outras drogas socialmente aceitas. Aqui temos a atriz Débora Barboza contracenando com o rapper em vídeo dirigido pela Premier King.

 

E bebendo na fonte de artistas da década de 50 e 60, Black Alien vem atual em letra que aborda acontecimentos recentes do triste Brasil contemporâneo. “Mais que o Covid, foi o que eu vi de covarde / Sobrando ego no feed, faltando amor na cidade”, a doença provocada pelo Novo Corona Vírus é uma das pautas, e mais que isso, a ausência de senso de coletividade daqueles que “furaram” a quarentena e contribuíram para o alastramento do caos. “Chuck Berry” é uma música sobre ser negro, e o que 2020 mostrou foi que, mais do que nunca, o racismo e seu braço armado na mão da polícia, segue tirando vidas inocentes, “Entre João Pedro e Miguel / Ninguém é assassino até matar alguém”.

 

Gustavo Black Alien, desde 1993, é um caldeirão de influências e referencias, bebendo do jazz, blues, soul, reggae, funk, rock’n’roll, respirando hardcore, punk e o flow do Speed em seu rap, mostrando na prática a importância de se consumir música de uma forma a fim de se alimentar e nutrir, não como um fast food descartável. O resultado disso vemos em sua obra, texto incrível que se torna clássico. A experiência de Black com as bandas de rock que participou ou contribuiu, ajudar a tornar ainda mais visceral todo esse contexto.

 

Os Black Panthers criticavam Jimi Hendrix pela ausência de negros em sua banda. Como resposta, o guitarrista montou a Band of Gypsys, com o baixista Billy Cox e o baterista Buddy Miles, ambos negros. Em “Chuck Berry”, Gustavo Black Alien também monta uma banda com essa característica, formada por expoentes do Hip Hop brasileiro, o conjunto fictício é formado por Amiri no baixo, Funk Buia na bateria e Jota Ghetto na guitarra em cena que tocam no telhado, em mais uma homenagem ao rock n’ roll, em alusão ao Rooftop Concert, o último show do The Beatles, no terraço do prédio Apple Corps, em 1969 em Londres.

 

Em “Chuck Berry”, Gustavo quer andar para frente após retirar seu próprio lixo, e para isso se indaga “Eu e meu karma, qual dos dois é o mais cretino?”, e nessa reflexão e busca para se autoconhecer, além da reparação sobre a inversão do papel do negro no rock, nesse som o rapper tão faz uma interessante e importante inversão de gêneros, resinificando a estimação da mulher na nossa história: “Deus é Mãe, e Ela é justa meu bem / O tempo é rei, mas Ela que ajusta também”, a seguir a figura do homem também é repensada e responsabilizada: “Me traz esses filhas de um puto que não valem um vintém”. Pontos simples, mas de extrema importância no debate sobre o papel feminino em uma sociedade machista.

 

Confira o clipe de “Chuck Berry”, de Black Alien:

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