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Foto: Jefferson Takenori |
Salve! "Ruas das Ilusões", um rap que a tempos gostaríamos de ouvir é o lançamento de Djoseman, MC da Zona Norte de São Paulo, cria do Hip Hop e deixa isso bem claro em sua obra, música que tece critica a posturas de MC's da cena atual e que faz um resgate a época de ouro do estilo no Brasil, com colagens e scratches do DJ Will, produção do Lakersepá (Código Fatal) e master assinada por outra lenda, o DJ Raffa. O Submundo do Som trocou uma ideia com Djoseman sobre esse projeto, a cena e seu futuro. Confira abaixo "Ruas das Ilusões" e na sequência a entrevista com o MC:
Submundo do som - Mano, primeiramente muito obrigado por bater
esse papo com o Submundo do Som, e para a rapaziada que está
acompanhando essa troca de ideia, por favor se apresente, quem é o
Djoseman?
Djoseman - Quero
agradecer ao Submundo do Som, por mostrar interesse em meu trabalho,
fico muito feliz em poder viver essa oportunidade, poder falar sobre
minha arte e minha visão da cena. Djoseman é cria do Hip Hop paulistano,
é um técnico que dá suporte e consultoria em informática, porém que
sonha em viver da música. Sou pai de duas meninas e nossos cachorros têm
nomes de comida (Torresmo e Panqueca). Eu nasci em 1985, praticamente
um ano depois do lançamento dos filmes "Beat Street" e "Breakin'",
filmes que inspiraram muitos artistas protagonista e precursores da
cultura aqui no Brasil, como por exemplo meus mestres pessoais Fábio
Ribeiro (Binho) e Walter Nomura (Tinho), ambos referências no graffiti
nacional e internacionalmente e também Eduardo Soul (B.Boy/Locker) que
quando ainda era membro da Style Crew foi quem me ensinou como fazer
movimentos como o Toprock,
Footwork, Freeze and Back Spin. Em 1990 eu tinha cinco anos e embora
não tenha lembranças concretas, tenho alguns flash de ir ao Centro da
cidade com meu pai, de ver os punks usando suas jaquetas de couro e
moicanos imponentes, mas só lembro de ter de fato ouvido Rap em 1994/95,
lembro de ouvir "Fim de semana no parque" dos Racionais MC's, umas duas vezes nessa época, uma na escola e outra no rádio; lembro de ter assistido Thaide & Dj Hum "Nada pode me parar" em algum programa na TV Cultura; Coolio com "Gangsta's
Paradise" rolava em um ring de patinação que eu frequentei algumas
vezes chamado "Rock 'n Roller", quando era na Vila Guilherme e por
último lembro de Shaggy com "Bombastic", recordo de ter ouvido ao
assistir a propaganda da Levi's, era aquela versão que tinha a
guitarrinha e o vídeo era um stop motion bem bacana que em que um cara
todo bad boy salva a mocinha tirando a própria calça jean para usá-la na
fuga de um prédio em chamas através de um fio elétrico ou cabo de aço.
Carrego muito dessa atmosfera, já fui grafiteiro, b.boy, DJ e hoje me
dedico a arte de emceeing e composição. Durante muito tempo quis fazer
tudo ao mesmo tempo, mas percebi que precisava focar em algo pra pode me
aprofundar, acho que demorei pra entender isso, as vezes penso que
perdi muito tempo, mas por outro lado, isso me permitiu ter um pouco
mais de conhecimento e vivência em mais áreas do Hip Hop.
Submundo do som - E você recém lançou a música "Ruas das Ilusões", um som recheado de
referências e um resgate às raízes do Hip Hop. Como você vê esse
deslocamento do rap da cultura Hip Hop, com cada vez menos interação do
DJ com o MC, e você vem justamente na contramão, além de criticar essa
ausência né?
Djoseman - Sobre as
referências eu realmente quis trazê-las de forma substancial e elas tem
muitas camadas, sinceramente acho que ela merece ser destrinchada,
imaginei ela cheia daquelas notas e comentários no Rap Genius (risos).
Sobre o deslocamento do Rap, particularmente acho uma pena, sou muito fã
do clássico formato DJ & MC, repare que coloco DJ na frente e não é
só uma questão de ordem alfabética, mas sim porque se não existissem os
DJs, certamente não existiria o Hip Hop, por tanto nem os MCs. Gosto
muito também quando DJ integram bandas como: Câmbio Negro, Pavilhão 9 e
Planet Hemp. No entanto, não é de hoje que o MC, ou melhor, rappers
tornaram-se mais evidentes, pouco tempo depois surgir o Gangsta Rap, na ascensão dos rapper solo, você já não sabia mais quem era DJ do 2 Pac, do
Big ou do Jay-Z, tinha que dar uma boa pesquisada. Ai os DJs parecem ter
virados prestadores de serviços e não são mais um conjunto com o MC
onde ambos são o artista principal. Hoje em dia creio que essa interação
DJ e MC é ainda menor devido a democratização dos meios de produção, o
cara que é MC procura ser auto suficiente e não está errado, muitas
vezes ele vai lá e produz o próprio beat, no entanto esse cara não é DJ,
assim como muitos beatmakers não tem experiência como DJs. As
tecnologias como as interfaces de áudio e controladoras, agora em
tamanhos reduzidos, proporcionando mobilidade e preços mais em "conta",
tornaram mais acessíveis, inclusive tecnicamente, um cara ser DJ. Já aos
DJs tradicionais possibilitam não ter um custo extra com bagagens nas
viagem de shows e os livrou de carregarem cases enormes para apenas 50
discos, então vejo também por esse lado. Eu faço a crítica por saudades
dessa interação, por que gosto de ver o DJ's trabalhando e não gostaria
que deixassem isso morrer, não sou contra a tecnologia e facilidades, só
não gosto da ideia de elas matarem o aprendizado das skills que um DJs
da categoria de DJ Hum, KL Jay, DJ Erick Jay, ou DJ Nino Leal, precisam
para serem quem são e nem matar essa interação maravilhosa entre DJs e
MC's que dá dinâmica nas apresentações e as tornam muito mais ricas.
Submundo do som - Nessa canção você tece algumas críticas a postura de MCs, em "Ruas das
Ilusões" a intenção foi fazer um desabafo sobre a cena?
Djoseman - Sim é um desabafo. Eu comecei a escrever "Ruas das Ilusões" depois de
um dia no estúdio do Copa (Enxame), estava lá com o Lakersepá (Código
Fatal), fomos lá em São Roque para gravar uma outra música minha com o
Lakers e acabou que não fluiu legal, então eu e Lakers começamos a ouvir
samples, achamos algo interessante e demos o start em um rascunho de
beat do que viria a ser "Ruas das Ilusões". A ideia era fazer algo que
fosse pra nós, que nos representasse com esse lance da estética do Rap
90 e tal, já sabíamos que não seria algo comercial e tudo bem. Então
Lakers avançou sozinho no beat e depois mandou um bounce, escrevi ela
até que rapidamente, gastei mais tempo lapidando ela depois do grosso já
feito, fui selecionando as palavras e conectando-as da forma que eu
queria. Gosto de todas as vertentes do rap, inclusive do trap, acho que
há espaço e momento para tudo, mas desde que o trap ganhou relevância,
parece que só existe isso. Sei que até um tempo atrás o Rap nacional
tinha muita dificuldade de falar sobre dinheiro, era tipo pecado você
lucrar com o Rap, papo de vendido e etc. Então quando começaram a falar
sobre esse e outros temas recorrente no trap aqui no BR, achei
libertador, no sentido de que as pessoas tem que ser livres para
cantarem aquilo que quiseram e nos quanto compositores podermos explorar
outros temas, mas quando tive a impressão de que agora só existia isso
eu quis lembrar aos manos de como era legal e como funcionava essa
parada que curtíamos, queria homenagear que veio antes de mim e ver
aqueles manos mais da antiga balançarem a cabeça positivamente com uma
música nova no estilo old school.
Submundo do som - Cara e sobre o time envolvido nesse lançamento? Tivemos scratches do DJ
Will, a master pelo DJ Raffa e produção do Lakersepá, monstros do rap
nacional, além de outras pessoas importantes que somaram nos bastidores.
Comenta um pouco como foi trabalhar com essa galera.
Djoseman - No caso do Raffa não tinha muito contato e nem tive ainda a
oportunidade de conhecê-lo pessoalmente, mas é alguém que admiro muito,
trocamos mensagens nas rede sociais e tal e claro o conheço pelo seu
trabalho que é gigante, já o DJ Will somos da mesma quebrada, Vila
Mazzei, bairro da zona norte de São Paulo, aconteceu de nos trombamos em
diversas situações seja na rua, bar mercado ou trampando em algum
evento, mas a pessoa que conectou todos foi o Lakersepá, ele é um
verdadeiro plug (risos), conhece todo mundo, sempre conhece alguém que
tem o que você precisa. Lakersepá é meu irmão, temos uma amizade de mais
de 20 ano, papo de frequentarmos a casa um do outro, conhecer a mãe,
irmão, esposa e filhos. Ele é aquela pessoa que procura fazer com que
você se sinta em casa, não importa onde estiverem, seja no estúdio, nas
reuniões, ou na rua, ele do tipo "Negão, vamo ali pegar um negócio pra
noiz comer!". Ele quem fez a conexão com o DJ Will, eu apenas sugeri,
até me dispus a falar com o Will e tal, mas ele já sacou do celular e
fez o contato, o mesmo foi com DJ Raffa e ficou tipo "Caraí! Vou ter
Lakersepá, DJ Will e DJ Raffa na minha música!!!!", só tenho a agradecer
a todos eles, pois deram muita atenção ao trampo e fizeram um trabalho
sensacional.
Submundo do som - Djoseman, no release que recebemos
é dito que você ficou anos nos bastidores do rap e que agora foi para a
linha de frente com o "Rua das Ilusões". O que te motivou a fazer essa
música, com essa carga que ela possui, e lançá-la depois de um período
cuidando mais da parte estratégica do rap? Comenta um pouco da história
de música.
Djoseman - Por volta de 98 eu já
escrevia Rap e revezava nos tocas discos com meu primo Ramiro, éramos
uma dupla chamada "Revolusom Hip Hop", eu era mais DJ do que MC, em 2000
conheci o Lakersepá, na sequência passei a aprender com ele sobre
produção de bases (era assim que nos referimos aos beats na época),
aprendi a extrair o sample do vinil, editar no Sound Forge e a sequencia-los no Acid Pro. Em 2003 conheci Emicida, na época LRX e algum
tempo depois formamos a Na Humilde Crew, que a princípio era um grupo
de Rap formado por mim, Emicida e DJ Zala, depois ficou algo maior com,
Rashid, Projota, Marcelo Lima (Kra), DJ Mr. Brown, Daniela Rodrigues e
DJ Nyack, virou uma banca nos moldes do Wu-Clan, no sentido de que eram
várias caras com seus trabalhos independentes, embora ainda no início,
porém que colaboraram entre si. Foi com esse nome que lançamos o single
"Triunfo" de Emicida, em 2008, fui assistir ao DJ Mr. Brown tocar, achei
o lugar legal e voltei para falar com o dono do espaço onde iríamos
lançar Triunfo. Não havia muito tempo eu ainda fazia de tudo, batalhava
na Santa Cruz, Olido e Rinhas dos Mc's, mas não era focado no lance de
compositor, então não tinha tanta skill quanto os caras, hoje olhando
para trás é fácil ver que não levei tão a sério a mim mesmo como MC,
acreditei no trabalhos dos caras e naquilo que pude colaborar com eles,
mas não tinha decidido se queria uma carreira no Rap, andei distraído
com outras prioridades. O tempo passou perdemos contato por um tempo,
cada um foi atrás do seus objetivos, o Fióti saiu do MC Donald's e
formou a Laboratório Fantasma com Emicida, os caras progrediram e em
2014 fui convidado pelo Emicida para ser seu assistente pessoal, ele
sempre teve confiança em mim e sabia que eu tinha aptidão para gravar,
desenrolar pré-produções, debater temas enfim ajudá-lo no que
precisasse, trabalhei com ele por dois anos, entre o "O Glorioso Retorno de Quem Nunca Esteve Aqui" e um pouco depois do "Sobre Crianças, Quadris, Pesadelos e Lições de Casa", aprendi
muitas coisas sobre o business da música. Mas chegou um momento
que percebi que precisava de um tempo pra decidir o que fazer com tudo
que aprendi ali e pra resolver algumas questões pessoais, então pedi pra
sair, Voltei a trampar com tecnologia da informação para pagar as
contas e só recentemente admiti que queria ter feito algo onde eu também
fosse protagonista e ver até onde vai esse lance do rap, não queira
deixar de lado sem ter levado a sério. Então essa carga que você sente
em "Ruas das Ilusões" é minha vontade de fazer isso dar certo, mas dessa
vez por mim, é eu abrindo espaço para mim, e acho que tinha que começar
desse jeito porque essas são minhas raiz, antes do contato com Emicida,
antes da Lab, antes na Na Humilde. Minha raiz é eu em 96 escutando as
rádios com meu primo Ramiro com as fitas cassetes preparadas para dar o
rec pra gravarmos os Rap que ainda não conhecíamos, ou alguma versão ao
vivo de uma música que gostávamos, era nós dançando break, meu primo no
microfone fazendo dobras pro Dedé (André Átila) e eu como DJ, por volta
dos anos 2000 tocando no Hip Hop na Serra, especialmente naquela
ocasião, como DJ do Raciocínio das Ruas, e também DJ que abriria a
festa, usando pela primeira vez na vida um par Technics SL 1200, que
eram do Edi Rock e a convite do Edi Rock. Nessa época os grupos temiam
os palcos de madeira por conta do discos pularem e nesse dia, ao menos
na nossa vez o disco não pulou e eu segurei o loop na mão usando dois
vinis sem que ninguém percebesse que já havia sido feita a virada, porque
os raps nessa época eram bem mais longos e as bases gringa eram mais
curtas, pois já tinham uma visão comercial e poucos grupos produziam
suas própria bases, em geral muitos grupos, assim como nós, ainda
usavam aquelas bases instrumentais gringas em vinil. Nesse dia eu voltei a pé pra casa, não ganhei um real, mas me senti um vencedor.
Submundo do som - A música vai integrar a coletânea Trem das Onze né? Você pode abrir um
pouco mais do que é esse projeto, que está envolvido e tal? Além disso,
quais os próximos passos do Djoseman, o que vem de novidade?
Djoseman - Sim, segundo a Pick Ligero a música vai integrar a coletânea, eu ainda
não sei quando ela será lançada, mas acho a ideia daora, o projeto é
idealizado pelo Lakersepá e irá apresentar alguns MCs da zona norte de
São Paulo. Já com relação aos meus próximos passo, é continuar compondo,
apresentar mais músicas com temas e estilos diversos, mas é provável
que sempre tenha alguma coisa de boom bap ou G-Funk envolvido. Eu gosto
do lance de narrativas e contar histórias então esperem isso de mim.
Embora eu tenha alguma bagagem por conta do bastidores, na prática estou
começando do zero, não tenho um público ainda, mas quero conhecê-lo,
quero saber o que as pessoas pensam da minha música e como isso afeta a
vida delas elas, pois quero que seja de forma positiva. Eu sei que o
trabalho audiovisual é essencial hoje em dia, então quero trazer isso
também e compartilhar essa minhas experiências nova que virão.
Submundo do som - Mano pra quem acompanhou esse bate papo, que mensagem você deixa?
Djoseman - Muito obrigado por ficar conosco até aqui, pela atenção dispensada ao
nosso trabalho e nossa história, espero que vocês estejam saudáveis e
seguros, com força para correr atrás dos seus objetivos e, mais
importante que corre atrás deles, conheçam eles, quanto mais cedo vocês
descobrirem quais são seus objetivos, mais tempo vocês terão
para alcançá-los e quais passos dar para que isso aconteça. Tenho uma
música em que digo "Quem não sabe pra onde vai nunca chega, entendeu?" e
isso foi muito sobre mim em alguns momentos.
Submundo do som - E para quem quiser acompanhar mais de perto o trabalho do Djoseman, quais são seus canais de comunicação?
Djoseman - Eu sou mais ativo no Instagram e embora não tweet muito estou sempre
acompanhando para ambos e também Facebook sigam @realdjoseman,
as vezes faço um Vlog ou troco uma ideia no YouTube sobre composição
processo criativo e direitos autorais YouTube.com/c/Djoseman. Nas
plataformas digitais procurem e sigam Djoseman, espero daqui pra frente
trazer muitas muitas boas para vocês.
Salve meus parceiros do Submundo do Som! Aqui é o Djoseman e estou muito grato pela dedicação e carinho com que fazem o seu trabalho e pelo interesse e respeito que mostraram pelo meu. Estou muito feliz com essa oportunidade, vida longa as mídias de Hip Hop e Rap que se desdobram entre pagar suas contas e sonho de viver de seu talento! Estamos junto, forte abraço!
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