No último dia 21 de agosto, desse bizarro ano de 2020, o rap nacional marcou mais um gol em sua história. O rapper Dexter, acompanhado de Djonga, Coruja BC1 e dos DJ's Will e KL Jay apresentou a versão 2020 do clássico "Voz Ativa".
Lançada originalmente em 1992, pelos Racionais Mc's, a música conversa com a juventude negra, fala do racismo e também da autoafirmação e a busca por espelho para esses jovens, principalmente os oriundos da periferia. "Voz Ativa" é do segundo álbum dos Racionais, o Escolha Seu Caminho, que sucede o disco de estreia, Holocausto Urbano, de 1990, o qual também teve uma música regravada por outro artista, "Racistas Otários" ganhou uma versão pelo grupo DMN.
O rap brasileiro, apesar de seus quase quarenta anos, não é adepto de regravações, pouquíssimas canções de rap são regravadas por outros artistas, diferentemente do que acontece no samba, MPB ou rock. As justificativas para isso podem ser inúmeras desde letras pessoais ao ego inflado de Mc's, o fato que toda vez que uma regravação acontece, como essa de "Voz Ativa", saiba que vivemos algo épico no rap!
Voltando para "Voz Ativa - 2020", Dexter, e o time que acompanha, viu a necessidade de abordar a questão do racismo, tema tão atual e ao mesmo tempo que sofre regresso no campo dos direitos civis, basta acessar os noticiários e todo dia há um caso de racismo. Num país como o Brasil, onde o governo federal representa ideais neo-nazistas, fascistas e racistas sob uma bandeira de que o "politicamente correto" está destruindo a nação, grupos de extrema ganham holofotes e a luta fica mais intensa por parte daqueles que sempre buscaram combater os viés ideológicos que causam prejuízo as periferias e subúrbios.
Mano Brown se recorda que no momento em escreveu a letra estava lendo material sObre Malcolm X, e se identificava bastante com os escritos do militante: "A letra sou eu conversando com ele no livro, dizendo que aqui no Brasil as coisas estavam do mesmo jeito, mas que agora o negro tinha voz ativa e disposição de lutar”, explica Brown, sobre a composição da letra. Mano Brown também se lembra que nessa época havia feito contato com o grupo político Movimento Negro Unificado, o MNU, organizado desde 1978. “Foi o encontro de gerações. Já era esse racismo institucionalizado que tem hoje. Tinha gente que defendia que não tinha racismo, que aqui era o país da miscigenação, da cordialidade das raças. Nesse clima eu fiz a música”, comenta Mano.
E é nesse mesmo clima de luta contra o racismo e de encontro de gerações que "Voz Ativa - 2020" é concebida. A começar pela dupla de DJ's, pai e filho assumem a produção e scratch, KL Jay e Will são duas gerações de disc jockey's em sincronia. Dexter, na cena desde o começo dos anos 90, divide o vocal com Coruja e Djonga, dois MC's que nem eram nascidos quando "Voz Ativa" foi lançada em 1992.
“Eu agradeço a oportunidade de poder gravar um clássico, de ser chamado pelos meus professores. Qualquer coisa que eu diga não vai ser o suficiente para expressar o que eles representam na minha vida. Dexter e Brown escreveram páginas muito bonitas na história do rap. Foram páginas que eu li muito. Sempre que eu vou escrever algo, tento olhar para essas páginas que me inspiraram”, diz Coruja.
“Foi uma alegria muito grande e também um pesar. Se a gente estivesse falando sobre isso [racismo] só para revisitar a obra de uma forma totalmente artística, beleza. A gente tá cantando porque é uma música que a gente gosta e tocou o nosso coração. Mas tudo o que tem na letra continua acontecendo e isso traz um pesar”, afirma Djonga.
O clipe foi gravado na Favela da Felicidade, no Jardim São Luiz no extremo sul de São Paulo. Abaixo o clipe de "Voz Ativa - 2020" e a ficha técnica do trabalho.
Ficha técnica de “Voz Ativa”
Autores: Racionais MC’s (Mano Brown, Edi Rock, Ice Blue e DJ KL Jay), lançada originalmente no EP Escolha o Seu Caminho, em 1992, em versões de estúdio, remix e acapella
Regravação: Dexter, Djonga e Coruja BC1 Batida: KL Jay e DJ Will
Direção: João Wainer, Mailson Soares e Ricardo Souza
Direção de Fotografia: Mailson Soares
Steady Cam: Gustavo Morozini
Primeiro Assistente de Camera: Murilo Magalhães
Segundo Assistente de Camera: Rafaela Arcushin
Eletrica: Vagnão
Produtora:Sindicato Paralelo
Produção Executiva: Roberto T. Oliveira
Direção de Produção: Felip Silva
Montagem: Gabriel Barbosa e Ricardo Souza
Design: Bruno Ronzani Color
Grading: Diogo Comum
Pós Produção: Butterfly Coletivo
Fotografia adicional: Fabio Freitas/Cine Kordel/João Wainer
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