Os amantes do rap nacional com certeza já ouviram e se arrepiaram com o clássico "Feminina", música do Athalyba. O icônico refrão: "Seu olhar vai na rua num brinde à madrugada, uma simples moldura à lua prateada" são linhas de uma das mais belas love songs do Hip Hop brasileiro, inclusive utilizadas por Rael no seu último disco Capim Cidreira, na faixa "Flor de Aruana", uma baita homenagem. Sem dúvidas essa canção merece os holofotes, e hoje vou trazer uma história curiosa sobre duas versões desse grande clássico.
Em uma troca de ideia com o Erlei, o Aliado G do grupo Face da Morte, ele contou a história do seu vulgo, antes de ser rapper ele era DJ, e o G vem como uma abreviação do nome que usava: Grandmasterlei, que por sua vez era inspirado nos DJ’s das equipes de baile, como o Grandmaster Nei e o Grandmaster Duda, desse último Erlei era muito fã, e comentou: “depois ele virou MC, e cantava aquela música feminina, felina...”
Eu pensei: "Aliado G deve tá loucão", a música "Feminina" é do Athalyba, e até onde sei o Duda e o Athalyba não são a mesma pessoa. Fiquei encucado e pensando nessa informação. Até que rolando a timeline do Facebook, vi a chamada para o Programa Freestyle, onde dois monstros se encontrariam para um bate papo: Marcílio Gabriel, o entrevistador, e Guilherme Botelho, o entrevistado. O Gui Botelho é a maior autoridade no assunto “Athalyba”, além de DJ, bacharel em história e mestrando em filosofia, ele é autor das teses “Athalyba-Man e o Jovem Negro em Movimento na São Paulo dos anos 1990” (leia aqui) e “Quanto Vale o Show? O fino Rap de Athalyba-Man e a inserção social do Periférico através do mercado de música popular” (leia aqui), e também participou da edição do livro "Coleção Ensaios Brasileiros Contemporâneos - Música" no qual num dos capítulos são analisadas três letras de Rap: "Politica" - Athalyba-Man(1994); "O Menino do Morro" Fação Central(2003) e "Mil Faces de Um Homem Leal(Maringuella)" Racionais MC's 2012.
Aproveitei a ocasião da chamada do Programa Freestyle (conheça mais do programa aqui), que abordará (nesta sexta 31/07) o tema "O Legado de Athalyba e a Firma", e busquei o Botelho para sanar a dúvida que pairava sobre mim, e qual foi trazida pelo grande Aliado G. Me aproximei de Gulherme Botelho na ocasião do lançamento do livro "30 Anos do Disco Hip Hop Cultura de Rua", o qual tive o prazer e a oportunidade de escrever. E para minha surpresa o Gui explicou que a música tem duas versões, uma de 1990 feita pelo Athalyba, ainda pelo Região Abissal, e outra de 1994, e essa feita pelo Duda, o Grandmaster Duda.
Athalyba integrou o Região Abissal, primeiro grupo brasileiro de rap a gravar um álbum cheio, isso em 1988, já que anteriormente os grupos tinham músicas lançadas em coletâneas. O álbum foi o Hip Rap Hop, que dentre os destaques teve "Sistemão" e "Litoral" (conheça mais do disco aqui). O segundo trabalho do grupo veio em 1990, intitulado Região Abissal, e teve as músicas "Vem Cá", "Flores Para o Seu Caixão", "Caos Rotina", "Miami" e "Feminina Mulher". Já no ano de 1994 foi a vez de Grandmaster Duda regravar o clássico.
No video abaixo, apesar dos créditos serem dados a Athalyba e A Firma, a música é levada na voz de Duda:
Já a música abaixo é na voz de Athalyba Man, e lançada ainda na época do Região Abissal, em 1990.
Essa é a história de uma canção e duas versões, a qual só tive conhecimento 26 anos depois, graças ao mano Aliado G, que trouxe a informação e a pesquisa do Guilherme Botelho, e também a chamada do Programa Freestyle, do querido Marcílio Gabriel, e também graças ao Duda quem fez a versão e ao Athalyba, o autor original. é vivendo e aprendendo e cada dia mais conhecendo melhor nossas raízes. Viva o rap! Viva o Hip Hop!
Postar um comentário
0Comentários