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Entrevista | Carol Rangel Pesquisadora do Hip Hop

Jeff Ferreira
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Submundo do Som - Primeiramente muito obrigado pela disposição de trocar essa ideia com o Submundo do Som, por favor, se apresente pra as minas e manos que vão acompanhar esse nosso bate papo, quem é a Carol Rangel?

Carol Rangel - Bom, Eu sou a Carol, tenho 24 anos, sou formada em Serviço Social e especialista em saúde do adulto e do idoso pela Universidade Federal de Mato Grosso, apesar de gostar muito da área da saúde e gosto muito de pesquisar e ler sobre cultura, em específico, a cultura hip-hop e a partir disso eu crio alguns conteúdos que propagam algumas questões vinculadas ao hip-hop além de pesquisar academicamente sobre a temática.

Submundo do Som - E qual paralelo você traça entre sua profissão e a cultura Hip Hop?

Carol Rangel - Bom, o Serviço Social trabalha com as contradições, aquelas conhecidas no hip-hop pelo playboy e o favelado, mas academicamente conhecida como a contradição entre capital x trabalho, na sociedade em que vivemos essas relações se aprofundam cada vez mais, pobreza, racismo, violência, entre outras são questões que, o/a assistente social vai lidar em seu cotidiano, sendo necessário estabelecer mecanismos de mediação que possibilitem a aproximação com a população usuária, e eu acredito que a cultura Hip-Hop seja muito importante como mediação no fazer profissional, principalmente no trabalho com a juventude. Acredito que seja muito importante essa compreensão de que a cultura não é desvinculada da dia a dia da população, mas que carrega consigo determinações sociais e históricas, é muito comum a gente ouvir que a periferia não entende o conhecimento acadêmico, eu acho essa visão muito limitante e que acaba “bestializando” a população, como se não fossem capaz de compreender discussões do âmbito político e vinculadas com a garantia de direitos, como se essas discussões não devam ser feitas com a população, eu tento cotidianamente trazer essas discussões até mesmo em orientações pra politizar mesmo o atendimento, em uma conversa é possível discutir as diferenças e limitações da política de assistência e da política de previdência por exemplo, e são nesses diálogos que eu acho válido a inserção da cultura hip-hop, principalmente em campos de atuação de assistentes sociais que possibilitem a construção de discussões usar o Graffiti e a Pixação. Vamos falar de pertencimento e também o uso do espaço público? Vamos trabalhar com o Breaking, e ai por diante!

Submundo do Som - O Hip Hop, quando oficializado como uma cultura, foi definido com quatro elementos, com o passar do tempo algumas pessoas consideraram um quinto, o conhecimento. Porém muitos pioneiros da cultura, principalmente no Brasil, são avessos a um quinto elemento, acham desnecessário e que a cultura se organiza em apenas quatro, qual sua opinião sobre esse debate?

Carol Rangel - Essa é uma das questões que mais vem me intrigando, particularmente eu nunca havia pensado na possibilidade do conhecimento não ser um elemento da cultura hip-hop até eu acompanhar uma discussão de uma galera batendo firme que não era, porém com um debate bem raso sobre o assunto, neste debate citava uma palestra em que questionaram a posição do Nelson Triunfo sobre isso, eu como já estabelecia uns diálogos com ele sobre isso resolvi trocar uma ideia sobre, foi ai que plantou-se a semente da dúvida na minha cabeça. Diante disto tudo eu acho importante compreendermos a importância do conhecimento dentro do hip-hop, tendo em vista que, partilho da concepção do Kool Herc de que o conhecimento é inerente a toda expressão cultural, mas ao mesmo tempo também concordo com Bambaataa quando ele afirma que o conhecimento é a sustentação dos elementos do hip-hop, pois se entendemos a cultura hip-hop como uma cultura de resistência, não há meios de sustenta-la se não por meio do conhecimento de como funciona a sociedade e de como isso recaí na população pertencente à classe trabalhadora, ou seja, sem o conhecimento não há sustentação da cultura hip-hop, não há enfrentamento contra o sistema e consequentemente sem conhecimento não há a possibilidade de pensar uma nova sociedade.

Submundo do Som - Sobre a gourmetização do Hip Hop, com o graffiti sendo levado para galerias de artes, o breaking nas academias de danças e o rap atual, como um estilo musical consumido pelas elites, como você vê esse processo que a cultura, originária dos guetos jamaicanos e novaiorquinos, passou?

Carol Rangel - Quando conversamos sobre isso eu penso bastante na discussão sobre o hip-hop ser um movimento social ou um movimento cultural inseridos no processo de disputa de consciência. Neste sentido, é muito comum nos depararmos com a galera falando que o hip-hop é um movimento social, só que eu considero muito difícil trata-lo assim pelo fato de não existir uma pauta comum que sirva como “argamassa” de direcionamento político, quando nós vamos nos apropriar sobre as discussões sobre movimentos sociais, sabemos que por exemplo um movimento social que vise se inserir nas questões sobre o acesso a moradia, possui uma pauta comum que funciona como direcionamento coletivo, fato que não existe no hip-hop por se tratar de uma cultura heterogênea, inserido em um processo de disputa de consciência. Se antes tínhamos um hip-hop combativo que questionava os pilares da sociedade capitalista, que questionava o racismo presente no cotidiano e dentre outras questões, atualmente vemos o distanciamento dessas questões, e isso faz com que seja importante compreendermos o mesmo como uma cultura que está sendo disputada, cabendo a nós fortalecer espaços que estejam sintonizados com a resistência frente as mazelas do modo de produção que estamos inseridos.

5- Carol, você como pesquisadora da cultura Hip Hop, quais as dificuldades que você encontra no seu dia a dia em relação a pesquisa, as fontes e materiais. Como você a questão de catalogar e zelar por materiais, dentro do Hip Hop? Você que no geral, nós como adeptos da cultura, fazemos isso?

Carol Rangel - Então, uma das maiores dificuldades principalmente quando no processo de pesquisa queremos nos apropriar das discussões presentes no processo de surgimento do hip-hop os materiais são bem escassos, poucos trazem, por exemplo, a importância da cultura jamaicana como eixo estruturante para o processo de consolidação nos guetos nova iorquino, as poucas produções que tratam sobre isso é de maneira “pincelada” sem um aprofundamento sobre a questão, traduzida para o português eu só me lembro do Se Liga no Som do Ricardo Teperman, mas principalmente o Hip-Hop em mim (vol. 1) do Markão Aborígene, eu acredito que nessas questões uma grande barreira é o idioma, pois muitos livros, documentários, dentre outros materiais ainda encontram-se apenas em inglês, tendo em vista que apesar dos materiais em âmbito nacional também não tenha um grande acervo, não nos deparamos com essa barreira linguística. Outro ponto também é a maneira que muitas pessoas tratam o hip-hop em suas pesquisas, eu já tive o desprazer de em um evento vinculado ao instituto de ciências humanas e sociais da UFMT, apresentar um trabalho que falava sobre a importância da cultura hip-hop na disputa de consciência na luta de classes e os avaliadores pontuaram que o hip-hop deve ser tratado a partir de outras questões, como o reconhecimento através da vestimenta, é brincadeira né? ainda tive que ouvir que essa discussão da cultura hip-hop e seu caráter de classe estava ultrapassado e que isso não existe mais!

Submundo do Som - Eu sinto o rap se afastando da cultura Hip Hop, deixando de ser uma parte integral para se tornar apenas um produto, por exemplo, a figura do DJ que ficou escasso em boa parte dos artistas que fazem rap. Você acha que há esse distanciamento do MC para os demais elementos, falando de um ponto de vista geral?

Carol Rangel - Nossa isso acontece demais, a fragmentação da cultura hip-hop é muito nítida na atualidade, se em seu surgimento a gente tinha a centralidade dos DJ’s em um role articulado com as/os MC’s, os/as Graffiteiras/os e os B-boys e B-girls, inclusive foi através da articulação entre MC’s e DJ’s que surgiu o RAP, hoje nos roles temos o RAP sem a figura do DJ, sem o Graffiti e sem o Breaking. Apesar de compreender os avanços tecnológicos que possibilitaram o surgimento do beatmaker e longe de uma perspectiva meramente purista da cultura hip-hop, eu acho muito importante o fortalecimento de espaços que buscam trazer essa essência de todos os elementos em comunhão reafirmando que essa outra dinâmica colocada pelo avanço tecnológico, que de fato é muito importante, e é de extrema importância a compreensão de que essa fragmentação ocorre principalmente pela lógica mercadológica que avança cada vez mais no interior da cultura-hip-hop.

Submundo do Som - Se você pudesse resumir o Hip Hop e dizer o que ele significa para você, como seria?

Carol Rangel - O hip-hop ele é peça chave na minha vida, assim como grande parte das pessoas sempre fui aluna de escola pública e de escolas bem precárias que transformavam o estudo em algo não atrativo. Foi quando comecei a compreender a cultura hip-hop que comecei a me interessar pelo estudo principalmente ouvindo Face da Morte, GOG e Facção Central, isso me deu gás demais pra estudar e entrar pro curso de Serviço Social, e não é que deu certo? Acabei me tornando a primeira da minha família a ingressar em um curso superior.

Submundo do Som -  Carol, uma pergunta que sempre gosto de fazer para o pessoal que troco uma ideia, é sobre sonhos. Quais são os seus?

Carol Rangel - Esses dias vi uma live de um parça meu, o Janderson, se alguém quiser conhecer o trampo dele só procurar no instagram @jand.fundacao, de que se nós temos um sonho nós devemos sonhar alto, então eu acho que eu sonho muito com uma nova ordem societária livre de opressões e exploração.

Submundo do Som - Por favor, pra galera que acompanhou esse nosso bate papo, deixe aí algumas dicas culturais ligadas ao Hip Hop para aqueles que quiserem se inteirar mais sobre a cultura.

Carol Rangel - Eu vu deixar um link com alguns materiais que eu coloquei na nuvem para download, é https://linktr.ee/rangeelcaroline. Além disso, tem alguns materiais como o Livro do Eduardo Taddeo, o hip-hop genealogia que apesar de ser um livro meio salgado no preço é muito legal e esteticamente muito bonito, os trampos do Arthur Moura, do Alisson no www.h2sm.com.br, @bibliotecaassatashakur, tbm a @ana.drrposse que está se formando em Serviço Social e com certeza vai fazer um trampo muito bom sobre hip-hop que poderemos ler daqui um tempo.

Submundo do Som - E pra fechar, qual mensagem você deixa para as minas, manos e monas que nos acompanharam?

Carol Rangel - Bom a mensagem que eu deixo é que fortalecem o trampo da galera que está produzindo conteúdo, que traz nos trampos a essência do hip-hop, trabalhando aspectos históricos e político dessa cultura que nos possibilita construir e disputar consciências com objetivo de, não só denunciar as contradições presentes na nossa sociedade mas projetar através da arte o mundo que queremos!

Submundo do Som - Para quem quiser trocar uma ideia ou acompanhar seu corre, quais os meios de contato?

Carol Rangel:

O Facebook: https://www.facebook.com/cranggel
Instagram:
https://www.instagram.com/rangeelcaroline/

E o email: carolrangeel@outlook.com

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