A exemplo do MST (Movimento dos
Trabalhadores Rurais Sem Terra) no Brasil, as Farc na Colômbia, mantinha em
seus acampamentos ao sudeste das bases das montanhas andinas um concentração de
pessoas de muito talento artístico, autores de livros, colunistas de jornais,
pensadores e filósofos, professores e educadores, agentes culturais e músicos,
que ao mesmo tempo foram combatentes armados que buscaram a soberania do povo
contra interesses elitistas.
As FARC, conhecida como FARC-EP,
é sigla para Fuerzas Armadas Revolucionárias da Colômbia (Ejército del Pueblo),
foi criada em 1964 como uma guerrilha revolucionária do Partido Comunista
Colombiano. Em 1982, durante a realização da Conferência da Sétima Guerrilha, o
grupo ganhou a denominação EP - Ejército del Pueblo, acrescentada ao seu nome
oficial.
A FARC representa a população
rural na luta de classes contra os mais abastadas e se opõe à influência do EUA
na Colômbia, motivados pela revolução armada para a tomada do poder no país.
Durante muitos anos as FARC-EP foi dirigida por Manuel Marulanda Vélez, mais
conhecido como Tirofijo, no papel secretário. O grupo é muito bem organizado e
chegou a ocupar 80% do território colombiano, atuando nas florestas e selvas,
porém com foco urbanos também, com um exército que já chegou perto de 18.000.
Dentre
as formas de fazer música nos acampamentos das FARC, se destaca a cumbia e a
carrilera, a música popular colombiana, dentre os destaque temos Christian Pérez, com
letras que exaltam a guerrilha e o marxismo o cantante é autor de cinco álbuns:
El Brete, Andanza Caucana, Convoco, El
Cariño de Mi Pueblo e um trabalho Acústico, obras que retratam o dia a dia na
selva, desde conflitos, romances, sonhos e sobretudo o companherismos:
La Cartilla - Christian Pérez
Julián
Conrado é conhecido como o trovador das montanhas da Colômbia, atualmente está detido
em uma prisão venezuelana. Dentre suas composições estão “Corra, Corra General”,
“Regresó Simón”, “El Revolucionário” e “De Mi Pueblo para La Guerrilla”, do ano
2000:
Julián Conrado - De Mi Pueblo para La Guerrilla
Outro
compositor das florestas colombianas é o guerrilheiro Lucas Iguarán, autor de
dois volumes do álbum Métase al Cuento e do clássico Así es El, com letras
camponesas sobre o dia a dia nas Farc, inclusive com o clipe de Así es El 25
com cenas reais de um acampamento. Lucas
Iguarán oriundo de Villanueva, município colombiano do estado de la
Guajira, na região Caribe da Colômbia, entrou para a guerrilha em 1987 e
traz em suas canções temas como o combate insurgente bolivariano, o
socialismo e busca pela paz do conflito armado e ajudaram a formar novos
para as FARC.
Lucas Iguarán - Así es El 25
Dentre
os muitos voluntários para a guerrilha na Colômbia, era natural que os mais
diversos tipos de artistas pertencessem as fileiras revolucionárias das Farc, isso
não só na música, mas também nas artes plásticas, cinema, literatura, poesia e
etc. Podemos citar vários outros combatentes que são talentosos musicalmente
falando, seja na cumbia, na carrilera, no tango ou salsa ou qualquer outro
estilo que se tornou popular nos acampamentos farianos, entre eles: Horizonte
Fariano, Los Compañeros, Rebeldes del Sur e Llaneras.
Apresentação do grupo Rebeldes del Sur
E não é só da música campesina que move as fileiras das FARC, o Hip Hop também se faz presente nos acampamentos e principalmente na militância urbana. Um deles é o rapper Blacksteban, hoje
com 30 anos e ingresso nas FARC desde os 13, um afro-colombiano oriundo de
Cali, onde conheceu o Hip Hop. O MC ganhou destaque ao rimar na Décima
Conferência Nacional Guerrilheira, em 2016, e mandou linhas sobre a paz na
Colômbia, e na ocasião discursou: "Estou muito feliz de saber que
finalmente vamos descansar desta guerra (...). Somos todos irmãos, não
deveríamos nos matar". Quem abriu as festividades culturais na conferência
foi o grupo de reggae Alerta Kamarada, famoso pelo forte discurso social e
proveniente de Bogotá. Em eventos como esse mostra que já "não existem
fronteiras", e guerrilheiros urbanos e camponeses não estão mais tão
distantes. "Campo e cidade juntos porque vamos de mãos dadas. Todos somos
colombianos", como disse Araoz, guitarrista da banda Alerta Kamarada.
Blackestaban na Décima
Conferência Nacional Guerrilheira
Em 2016, as FARC firma acordo com
o governo colombiano e anuncia o fim da luta armada, dispersando os guerrilheiros
e entregando o poder bélico para a ONU. O núcleo estratégico da guerrilha se
tornou a Força Alternativa Revolucionária do Comum, um partido político marxista-leninista
e de inspiração bolivariana, a fim de conseguir poder de forma legal na
Colômbia.
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