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Resenha | Rapadura e o Universo do Canto Falado

Jeff Ferreira
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Quando o GOG falou: "Aí tá vendo o RAPadura?", muita gente pensou "é brincadeira?", esse é um trecho da música "A Quem Possa Interessar", em que Genival Oliveira Gonçalves apresenta o cantador, e RAPadura faz o desabafo. Bem verdade que já faz um bom tempo que o rapper cearense apareceu e o tempo de estranheza, por parte da cena, pelas vestes, sotaque e mistura de rap com baião já passou, mesmo assim é importante lembrar esse momento inicial de Xique Chico e traçar um paralelo com o hoje.

RAPadura acaba de lançar seu primeiro, e tão aguardado álbum cheio, Universo do Canto Falado, que bebe de todas as referências ao nordeste, não somente nas letras, mas na forma de cantar e construções das bases instrumentais. Nesse trabalho, o rapper não desviou das vozes do inicio, e trouxe a estética que o fez se destacar. Em 2009 o cantador lançou o EP Fita Embolada do Engenho, misturando rap, xaxado, baião, repente, maracatu, coco, ciranda e embolada, traduzindo em música toda sua essência. Dali para frente, RAPadura despontou em diversos outros trabalhos, como a participação no DVD Acústico da banda O Rappa, cantando "Norte Nordeste Me Veste", assinando parceria com a banda BaianaSystem, em "Olho de Boi" e com a banda Mato Seco em "Levante Popular".

Eis que em maio de 2020, o rap nacional é presenteado com o Universo do Canto Falado, RAPadura apresenta um disco de doze faixas que fazem ode ao povo nordestino e lutam contra a xenofobia e racismo ao mesmo tempo que faz criticas sociais e tece descontentamento ao desgoverno e a classe política do Brasil. A música que celebra a conexão entre Fortaleza e Salvador, "Olho de Boi", um ragga rap com os parceiros do BaianaSystem, que aborda sobre a fé, e a canção "Quebra Queixo" que fala sobre a luta cotidiana contra o sistema, são músicas que o público conheceu antes do lançamento do disco, assim como a faixa "Meu Ceará", lançada uma semana antes, numa verdadeira love song ao estado. Fizemos um especial sobre essa música, que pode ser conferido aqui.

O disco tem canções como "Saga Cega", "País Sem Norte" e "Obra Criação" s~que abordam a questão do rural x urbano, homenageia as regiões norte e nordeste e seu povo destemido que muitas vezes migram por necessidades para outras regiões. A faixa titúlo, "Universo do Canto Falado". assim como "Aboio", falam  do canto do cantador, de como ele flutua entre estilos e levadas, essa mistura de RAPadura é acentuada em "Paga Pra Ver", temperada com rock e maracatu, mas sem deixar a essência do rap.

O rapper também experimenta em seu disco, vai a psicodelia em "A Peleja de Xique Chico", em uma critica as ações nevastas da humanidade, e do rapcore mesclado com baião em "Desapego", que como o titulo sugere fala do sentimento bom de se livrar do supérfluo.  RAPdura lembra que, apesar de todas as mesclas e caldeirão de influências do regional, seu disco é uma obra de rap, e faz uma homenagem a música marginal em "Rapstar".

Universo do Canto Falado é um disco maduro e muito bem produzido, com beats pensados (elaborados pelo Carlos Cachaça), e isso se deve ao processo que RAPadura vivenciou, desde de 2013 vem construindo o álbum. Se em 2009 a poesia do cantador era bruta e doce como a cana-de-açúcar do engenho, em sua Fita Embolada, em 2020 veio maturada e pesada como um tijolo de rapadura, a evolução de Xique Chico é evidente, mas o mais interessante é ver que sua essência se manteve, principalmente no que se diz respeito as suas referências, isso o ajudou a escapar de armadilhas do "estereótipo inóspito" e dos "sotaques robóticos".

Confira o álbum Universo do Canto Falado: 

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