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O Landau de Chico Science

Jeff Ferreira
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Francisco de Assis França, também conhecido como Chico Science ou o Poeta do Mangue ou Alquimista dos Ritmos, além de ser referência no rock nacional é sempre bem quisto nós carnavais pernambucanos e pelo Brasil afora.

Chico sempre teve um caldeirão de influências musicais, garoto pobre das periferias de Recife fazia dinheiro apanhando caranguejos nós manguezais, com a grana embicava para os bailes blacks, para dançar ao som de James Brown. Nos anos 80 conheceu Kurtis Blow, Afrika Bambaataa, Grand Master Flash e o Hip Hop, junto de Jorge Du Peixe passaram a dançar break, grafitar e pouco tempo depois a cantar. O primeiro grupo de Chico foi a crew Legião Hip Hop, depois se voltou para um projeto musical, o Orla Orbe, um grupo de rap com instrumentos orgânicos, com influências do soul e funk. Querendo misturar ainda mais Chico formou o grupo Loustal e passa ser conhecido como Science, devido a ser o cientista da música, além do funk e Hip Hop o malungo mostra sua veia punk rock, misturando Ira, DeFalla, Beastie Boys e Public Enemy.

Foto Divulgação, retirada do site do Jornal do Commercio.

Francisco trabalhava na Emprel, Empresa de Processamento Eletrônico de Recife, e lá conheceu Gilmar Bolla 8, um percursionista que tocava em um bloco de samba reggae, onde iam de Jorge Ben a Fela Kuti, o Lamento Negro. Gilmar convida Chico para conhecer a banda em um ensaio, que acontecia no Centro Cultural Daruê Malungo, no bairro de Peixinhos. Ali se encantou com a força dos tambores do maracatu, a presença musical de Mestre Salustiano, a ciranda de Lia do Itamaracá. Ali Chico juntou o rock do Loustal com a precursão do Lamento Negro, e assim nasceu a Nação Zumbi, inspirada nas Nações de Maracatu do Pernambuco, e homenageando o líder negro Zumbi dos Palmares.

Chico Science e sua Nação Zumbi, em pouco tempo viraram um fenômeno, a novidade que vinha do Nordeste, era o reprocessamento de ritmos regionais mesclando com ritmos pops, numa verdadeira alquimia, e como Fred04 canta no Mundo Livre S/A: "Não espere nada do centro, se a periferia está morta, o que era velho no Norte, se torna novo no Sul!". CSNZ gravaram apenas dois discos, o Da Lama Ao Caos de 1994 e o Afrociberdelia, de 1996, mas foi o suficiente para tocar no mundo todo.

Foto Divulgação, retirada do site do Jornal do Commercio.

Com a grana que recebeu de sua primeira turnê pela Europa, Science comprou um Ford Landau 1979, Chico comentava com os amigos, principalmente Roger de Renor (Cadê Rogê?) Que o carro deveria se parecer com aqueles da galera do Brooklyn, queria trazer aquela atmosfera do Hip Hop nova-iorquino para as ruas de recife. O artista se inspirou no modelo após fazer o icônico show no Summerstage, no Central Park, o Landau veio amassado, mas Chico não investiu em sua lataria, e sim no seu sistema de som, que era mais caro que o carro, assim o carango passou a ser a forma como ele consumia música.

O Galexie Landau era do Galeto, amigo de Chico, e o cantor comprou o veículo dele. Galeto tomava conta do carro, cuidava para que quando Science estivesse na cidade o Landal estivesse bala para que Francisco pudesse andar pelas ruas e pontes recifenses desfrutando do fita K7 player, ele acreditava a acústica do veículo era como de uma boate, e ali ouvia todas essas referências citadas, além de outras coisas que estavam chegando na época, como Planet Hemp, O Rappa, Thaide & DJ Hum, Patu Fu, Professor Antena, Devotos, Titãs, Fernanda Abreu, Timbalada, Black Alien & Speed e Sepultura, só para citar algumas.

O Galaxie Landau é cinza, com capô preto. O artista plástico Félix Forfan lembra que: "Com o Landau, ele (Chico Science) fazia ironia ao período de repressão. Dizia que, hoje, ele tirava onda no símbolo de ostentação da época''. O carro está exposto na divisa entre Recife e Olinda, atrás do Planetário Espaço Ciência, no Parque Memorial Arcoverde, no mesmo local do fatídico acidente que tirou a vida de Chico em 02 de fevereiro de 1997. Enquanto o artista se dirigia de Recife para Olinda, no Fiat Uno branco de sua irmã, perdeu o controle do veículo e se chocou contra um poste. O Poeta do Mangue optou pelo Uno, ao invés do Landau, por que o carro da irmã seria mais fácil de estacionar e manobrar, e um consenso comum entre os amigos é que: "talvez não tivesse perdido o controle da direção se estivesse dirigindo o velho Ford".

Replica do Landau de Chico, na Ocupação Chico Science, realizada pela iniciativa Itaú Cultural.

Hoje o Landau, símbolo da diversidade de Chico Science, está ao lado de um mangue que leva o nome do cantor, e como ao contrário de Chico, que lutava para que a cultura nordestina e brasileira não fosse apagada, nem esquecida, o carango está quase que abandonado entre entulhos, sem informações sobre sua origem e história, o carro está exposto a visitantes, mas também ao sol e a chuva e a maresia o destruindo, assim como o mercado faz com a história musical de nosso país.

Abaixo uma playlist com músicas que Chico, provavelmente, ouvia em seus rolês de Landalu pelas ruas e pontes pernambucanas:

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