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Salve! Hoje o Submundo troca uma ideia com um dos grandes nomes do rap nacional, o Crônica Mendes, que fala um pouquinho da sua carreira, politica e projetos, além de indicações culturais.
Submundo do Som - Primeiramente mestre, muito obrigado pela preza, e por bater esse papo aqui com o Submundo do Som, e seguindo o protocolo, a pergunta é: Quem é o Crônica Mendes? Se apresentem pra nós, por favor.
Crônica Mendes - Sou uma pessoa que sofre, chora, erra, tenho minha teimosia, mas também sou um cara de coração bom sempre a disposição de somar com as pessoas. Sou pai de família em primeiro lugar, o que vem depois é consequência. Faço da minha música uma ponte entre as pessoas para que elas possam acessar os mais variados cantos dessa nossa vida. Sou um operário do rap, um soldado dessa cultura em movimento chamada Hip Hop.
Submundo do Som - E o nome Crônica Mendes, de onde veio mano?
Crônica Mendes - A pergunta que me segue. Será que as pessoas perguntam por que Choice? Spinardi? Smokey D? Edi Rock? (Risos) Crônica Mendes é meu nome, vem da minha escrita, da minha narrativa, somando com meu sobrenome mesmo MENDES.
Submundo do Som - E como o Hip Hop e o rap entraram em sua vida? Qual foi a virada de chave de fã para músico?
Crônica Mendes - Eu fui mais um jovem de periferia impactado com identificação entre a minha realidade e os versos rimados nas letras de rap, no visual dos caras, na atitude... Era meados dos anos 90, eu tive no rap a oportunidade de me comunicar com as pessoas a minha volta, pois eu sofria de uma timidez imensa, isso me isolava, me deprimia e minha válvula de escape foi a poesia e em seguida o rap. Parece clichê mas o rap é pra mim uma transformação de vida, um despertar!
Submundo do Som - O grupo A Família aos poucos está voltando, soltando alguns materiais. E o Crônica não volta com eles?
Crônica Mendes - Não vejo o que estão fazendo como uma volta, pois jamais será o grupo A Família outra vez, eu não sai, o grupo acabou, não foi uma saída minha, e ainda tivemos a tristeza de perder de forma precoce o Gato Preto. Quando um ciclo se encerra é preciso respeitar isso e ter coragem para seguir em frente, pois seguir é preciso... Vida que segue.
Submundo do Som - No ano passado você lançou o álbum Brinquedo Assassino, pela Galuz, que é a sua produtora, comenta um pouco desse álbum e de como estão as coisas no selo?
Crônica Mendes - O disco foi para celebrar os 15 anos da música “Brinquedo Assassino” foi lançado apenas nas plataformas digitais, é totalmente comemorativo e sem pretensões. A GALUZ é uma produtora independente não é um selo, ela cuida da minha e da carreira de outros artistas, dando todo suporte profissional, somos uma pequena produtora independente sonhando grande e trabalhando bastante.
Submundo do Som - Mano, e analisando suas obras, os álbuns Até Onde o Coração Pode Chegar, de 2014, Aos Que Caminham, de de 2017, e o próprio Brinquedo Assassino, que diferenças você vê entre um trabalho e outro e até mesmo em relação aos trabalhos que você fez com A Família?
Crônica Mendes - Amadurecimento foi minha maior conquista ao longo dos meus discos, aprendi a me aceitar e me encontrei, isso foi fundamental para me colocar onde estou e me mantenho sem medo do novo e sem saudosismos da zona de conforto.
Submundo do Som - Comenta um pouco sobre o projeto Rap Voz, e como surgiu essa ideia, e qual foi o retorno dos donos das músicas que você já teve?
Crônica Mendes - O Rap Voz é uma homenagem ao rap nacional, é uma forma de dizer obrigado. Quando comecei a gravar os episódios as pessoas começaram a elogiar o fato de estar interpretando rap de outros grupos, pois isso é um tabu no rap nacional, tudo é muito autoral, fui julgado por está mexendo com músicas dos outros também, teve todo tipo de crítica, mas a medida que íamos lançando os episódios as pessoas começaram a entender melhor e quando alguns grupos que gravamos começaram a repostar os episódios foi fantástico isso nos deu força para seguir, já foram três temporadas e estamos prontos para a coletânea quarta.
Episódio 5 da Terceira Temporada de RAP e Voz, onde Crônica Mendes interpreta "Corre Corre" do grupo Jigaboo, com arranjos do produtor musical Bruno Okuyama e o guitarrista Diego Silva.
Submundo do Som - Crônica, falando do caos político desse país, essa ascensão fascista, como você vê a música no meio disso tudo?
Crônica Mendes - Temos um presidente eleito pelo ódio e ignorância do povo, isso de certa forma provocou a o retorno da rebeldia de vários artistas que até então estavam num limbo do mais do mesmo, a arte voltou a ter um espírito insurgente, mas isso não é mérito deste governo, é a penas um levante de quem nunca dormiu no barulho do sistema. O país vive um retrocesso imenso, onde os valores estão invertidos é arma na mão e livro no lixo, é temporada de caça, estão nos caçando, o maior triunfo deste governo foi fazer as pessoas colocarem pra fora quem elas realmente são: hipócritas, intolerantes, racistas, homofóbicas, fascistas... Mas essa não é a cara do nosso Brasil, eu acredito num Brasil que sorrir com a felicidade alheia, um Brasil com menos desigualdade social, um país de todXs! Ainda que sonhador eu não sou um brasileiro iludido.
Submundo do Som - Indicações mano, o que você pode indicar de artistas, grupos e bandas pra galera que tá acompanhando esse bate papo?
Crônica Mendes - Ouçam o trabalho da Helena Ramos, é uma grande artista, talentosa e será uma das grandes minas de sua geração dentro e até mesmo alçando voos pra fora do rap. O grupo Carta 1 tem feito um lindo trabalho com banda, ainda que eles tenham uma temática voltada pro gospel suas letras são bem elaboradas e a musicalidade deles tem crescido muito. O Léo (ex Realidade Cruel) é uma promessa dum trabalho mais contundente e amadurecido que junta os anos de carreira da época de grupo com a vontade de fazer umas paradas novas, já ouvi umas letras dele nas live e gostei bastante.
Submundo do Som - Seguindo com as indicações, por favor, indica 1 livro, 1 filme, e 1 disco pras minas, monas e manos que estão ouvindo a gente
Crônica Mendes - Um livro: A sútil arte de mete o foda-se
Um filme: O menino que descobriu o vento.
Um disco: Helena Ramos - Versátil.
Submundo do Som - Crônica, falando de sonhos mano, quais os sonhos que você ainda pretende realizar nessa caminhada dentro da música?
Crônica Mendes - Hoje não falo mais de meus sonhos, com o tempo aprendi que falar dos sonhos só atrasam a realidade, hoje busco realizá-los sem fazer alarde e deixo que isso reflita em minhas músicas.
Submundo do Som - E quais os projetos do Crônica Mendes? O que vem de novidade?
Crônica Mendes - Este ano tem meu disco novo, o terceiro álbum de inéditas, é o meu maior foco em 2020, também tenho outros projetos que quero lançar ao público mas ainda não é o momento de falar sobre.
Submundo do Som - Finalizando, que mensagem você deixa aí pra rapaziada?
Crônica Mendes - Medíocres falam de pessoas eu falo de ideias. Sejam vocês em tudo aquilo que forem fazer, mas não sejam arrogantes, ouça seu coração mas não deixe de consultar sua mente, o equilíbrio é preciso e antes que você diga que é difícil, saiba que difícil é quando não sabemos o que fazer.
Submundo do Som - E pra quem quiser acompanhar seu trabalho mais de perto, quais os canais de comunicação?
Crônica Mendes - Meu trabalho está disponível em todas as plataformas digitais em meus perfis, tô oficialmente Instagram, YouTube, em todas as redes sociais com meu nome CRONICAMENDES.
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