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Rakim Presente! Amiri: Resistindo, reagindo e existindo em O.N.F.K.

Jeff Ferreira
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Enfim o aguardado álbum do Amiri está entre nós, e em O.N.F.K. o MC mostra o tamanho do seu bolso e que está em 2020 há uns 8 anos e já tem linhas para 2030, escritas em 2015... Ah, então é mais um rapper com disco na pegada egotrip né? NÃO! A obra Odo Nniew Fie Kwan é, primeiro, mais que um disco, é um corpo de prova de como fazer rap, esse é o padrão, a cena já pode copiar! Lembra quando Amiri disse que a golden era voltou  no single "Boom"?, pois é, o aviso foi dado, era o cartão de visitas do que estava por vir. Segundo, parece clichê, mas esse álbum não é egotrip, é sobre auto-amor, é sobre autoconfiança, é sobre autoestima!

Esse álbum é sobre Rakim, mas não como uma pessoa, um individuo, e sim como uma ideia, daquelas que nascem, se espalham, cria frutos baseados em suas raízes e que é impossível aprisionar ou matar, Rakim vive! Rakim Presente!


Capa do álbum O.N.F.K. 

Para entender a filosofia do pensamento Rakim, vamos até o continente africano levados pela faixa de abertura, a "!ntro", a exclamação no lugar da letra "i" já nos indica afirmação, a certeza do lugar de que se vem. O beat assinado pelo Derick Cabrera nos mostra uma "Nova Wakanda", com belas paisagens naturais e colorido nativo, num lugar onde não houve colonizador, vemos isso numa vista área imaginária que o instrumental proporciona, só na percussão, com mais riqueza de detalhes do que os irmão Russo poderiam mostrar. E nessa cena do filme testemunhamos o nascimento, é nesse momento que é dada a luz ao pensamento Rakim, no seio da mãe Africa, sem choro, pois a vida será sofrida e de luta, muitas batalhas hão de ser travadas. Obrigado mamãe.

A pessoa de Rakim era um moleque tranquilo, cheio de complexos, se achava tão magro que pesava gramas, não quilos. Queria ter a altura igual dos primos, quem sabe ajudaria na autoestima, era nítido o quanto era tímido, e assim cresceu de forma pacifica, mesmo experimentando todos os dias o racismo. Quis ser eleito o mais bonito, mas nele ninguém votava, na urna, ele tava na turma onde cada aluna não ligava pro quanto ele gostava da Bruna. Mesmo sendo humilhado chegou na faculdade, e ali viveu "Um Dia de Injuria". Rakim não conseguiu lidar com mais um episódio racista na sua vida, imaginou poder dar o troco em seus algozes, mas ele não levava uma com ninguém, e assim morre o homem e nasce o pesamento. Rakim presente!

Amiri finaliza a ideia da faixa com a música "Pantera Preta", com o emblemático refrão "Eu vou viver, nem que pra isso eu tenha que morrer, meus filhos não tenham que sofrer, meus ancestrais venham me valer" e mostra o peso da pata do felino, e mesmo com a violência policial, que é racista e fatal, e o sistema transformando negros em números de estáticas negativas, os antepassados guiam os passos de cada preto nas quebradas do Brasil, que vão resistir, porque Rakim vive!

A prova disso está em "Se Eu Morresse Hoje", a carta que mareja os olhos e salga o rosto é rasgada e amassada, mesmo com as vozes no ouvido orientando: "pega a gilete, vai se corta" ou "foda-se, essa vida anda bem mais que torta", essa fita que é o abismo entre a benção (dos ancestrais) e o eu (Rakim) o aprender a andar, mas sem chão, o auto-controle que se transforma em auto-amor, auto-estima e autoconfiança. Esse é o momento mais difícil dessa caminhada, medo e coragem num pote só, e Amiri usufruiu da coragem, não a valentia extrema de uma decisão extrema, mas a coragem de voltar na linha high tech, por que Rakim vive, e seu legado necessita ser passado, pra não ser revisionando pelos covardes da história.


Foto divulgação

Então voltamos lá na segunda track, a música "Não Mete o Louco (O Rei)", onde o MC traz uma degustação de como voltou, num beat sujo de trap, é Amiri e Deryck: zica na rima, zica na base! A lirica e principalmente a técnica de Amiri vem para roubar a cena, ou melhor, tomar de volta, devolvendo o verdadeiro significado da profissão MC, que nos últimos anos foi usada para designar qualquer outra coisa.Essa é a história do Amiri? Não! É só o índice. O rapper vem como uma navalha afiada, mas não mira em pulsos, arranca cabeças de falsos MC's, é o troco, por Rakim, que vive!

Lembra quando Rakim frágil e sem confiança era o motivo de piada? Pois veja o que aconteceu com um dos muitos Rakins desse mundo, esse sob a personificação do Amiri em "Eu Deixo Um Salve", os caras na festa: "Nossa parça, fui ali buscar um bagulho pra eu tomar, vi logo o Amiri no bagulho, vai!", "Caralho ó o Amiri voando alto, mano esse é terceiro som anual, mano, ele podia lançar mais coisa, o cara some, volta e soa atual", e as minas também: ""Beyoncé que me desculpe, o Amiri é 'irreplaceable', zero defeito, olha essa pele de pêssego, vou só olhar, esse é meu lado voyeur, ai meu Deus, ele tá vindo: 'Oiê!'", e se o mano responde?: "Nossa, agora eu tô ótima! E música, quando que sai a próxima? Ouvi falar que tu gosta de meditar, vamo em casa brincar de monge? Nossa, de longe você é lindo e de perto parece que tá de longe", que autoestima! Lembra quando o Rakim guardava em segredo que gostava da Bruna? Águas do passado, agora é a vez de outra, "Um Amor (Odara)", trap lindo, love song, na sintonia de dois pretos que querem que o mundo se foda, enquanto se entregam para o romance, amor preto, sem cor clara, tirar um barato até se a viagem for cara, peito em festa igual macumba e sansara, Zumbi e Dandara e num desampara. Essa é por você Rakim!

Fazemos um resumo de "O.N.F.K." até aqui: 

Confiança na rima: Confere 
Potência acima: Confere

Amiri pirado na vitória, até se errar fica entre estrelas porque mira na lua! A falta de confiança que perseguia Rakim também foi para o espaço, o MC mostra outro cenário, completamente diferente: "Mais confiante que eu não tem, mano, eu tô tão bem, minha autoestima é com L, o que vem de baixo não fere!"


Foto divulgação

E sabe por que Amiri rima como se estivesse puto? Rá!, ele causa de forma tão bizarra que ainda encontra tempo para more fyah, um salve para o embrião da cultura, um salve para os rude boys, um salve "Épico (Bad Man)", é o que faz quando liga esses bass e bumbos, e por falar no tambor, o pano tá esticado em "Êta Porr*! 2.0(19) da Bomboclat", e aqui a situação é grave, pegando fogo, "I'm on fyah", é a celebração dessa virada de jogo, desse soco na cara da vida, é mais que resistir, é reagir e existir, porque esse é o Amiri daqui, dono da lírica que causa até piripaque, aulas de Biggie e Pac, pausa esse tic tac, que é uma bomba relógio e manda pra longe, é pique Iraque! Essa é uma celebração á conquista, por vencer a deprê e as neuras, um celebração aos nossos, Rakim vive!

Finalizando esse álbum, Amiri pede para crer, ele nunca foi, mas voltou, pra causar, e assim como Apollo Creed, Rakim vive!, tem vida na sua continuação, a carne é de outra pessoa, mas a ideia é aquela que nunca morreu, pode crê? Pelo jeito que mal soa, na “Apollo” eu falei pros Balboa: Nem todo mundo odeia o Chris, Rocky! Rakim presente até no fim. Em "End (Creed)", Amiri vem faminto num beat de trap, culpa do Deryck, pois esse beat me deu fome, um instrumental nojento, sujo, vindo de um bueiro, minha prepotência deixando a cena com ânsia: É que, mano, hoje eu tô um nojo.

Então para as famigeradas listas de melhores do ano podem colocar o DNA do filho de Binta, eu impero, se me por na categoria de quinta, eu esmero, fala um mano melhor com menos de trinta, eu espero...

Esse álbum é por você Rakim! Após ouvir essa obra de arte sem moldura do MC, temos a certeza de que o amor nunca perde o caminho de casa, apesar dos pesares Rakim vive nas conquistas de Amiri.

Leia mais sobre o álbum O.N.F.K. de Amiri no:
Oganpazan - clique aqui
Noticiário Periférico: clique aqui

Confira o álbum abaixo:

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