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Manifesto Pela Democratização Do Mercado Da Música No Brasil

Jeff Ferreira
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Em 7 de dezembro de 2019 o Asfixia Social foi convidado para compor a mesa de debate sobre "Música em Zonas de Conflito", na Semana Internacional de Música - SIM São Paulo 2019, realizada no Centro Cultural Vergueiro.

O grupo escreveuo "Manifesto do Asfixia Social na Semana Internacional de Música de São Paulo", pra discutir essa ideia tão importante com o público e artistas parceiros. Pela democratização do mercado da música.

"É uma honra ser convidado para esta mesa em um evento deste porte, para discutir um assunto tão importante que é a atuação de artistas em zonas de conflito. Somos um dos países mais violentos e desiguais do mundo. Todos os dias morrem 10 jovens que tem entre 16 e 17 anos. Paraisópolis, Heliópolis, Naval, Coca, Rocinha, CDD, Bom Parto, Boqueirão, e tantas outras favelas confirmam a realidade cruel do jovem no Brasil, mas devemos lembrar que o país como um todo é uma grande zona de conflito, e que esse conflito existe inclusive na liberdade de escolha do cidadão com relação à música que ouve. Tal liberdade é garantida na Constituição Cidadã de 1988, que tem como premissa básica a participação popular nos processos decisórios. Constituição conquistada por nós e hoje afrontada por membros dos executivos estaduais e federal. Constituição que está sofrendo uma série de ataques no sentido de tornar vulneráveis os mecanismos de proteção às liberdades individuais. Constituição que é negligenciada, desde sempre, por grandes veículos de comunicação, que insistem em resumir a plural produção cultural do nosso país à um ou dois tipos de expressão apenas; como se as demais formas de expressão do nosso país continental simplesmente não existissem.

O Asfixia Social, como parte do coletivo Da Rua pra Rua, assim como muitos outros artistas Brasil afora, produzem arte nestas zonas de conflito com o intuito de passar uma mensagem que gere um impacto positivo e que estimule que os coletivos locais também produzam sua arte, em especial, entre os mais jovens. Sabemos da importância da cultura para nossa população e da escassez e repressão existentes na periferia. Depois de muitas conversas junto à esses coletivos, apontamos a seguinte percepção:

1. Na maioria das vezes, artistas que atuam efetivamente nessas zonas de conflito - dentro e fora das periferias - não têm espaço em grandes veículos de mídia e eventos Brasil afora, e por consequência disso, não participam efetivamente do “mercado da música”.

2. Por falta desses espaços, estes artistas acabam enfraquecidos e depois de algum tempo, ignorados e sem perspectiva de crescimento, abandonam a arte para cuidar da própria subsistência.

3. Os que sobrevivem lutam permanentemente contra a falta de estrutura e atenção. Com a escassez de recursos, a atuação destes grupos é fragilizada, acontecendo com menor frequência e tamanho, perdendo espaço, então, para os segmentos que têm maior evidência no momento.

4. Assim, a diversidade, pluralidade artística e liberdade de escolha não são oferecidas à população, inclusive ao jovem de periferia, que em geral consome aquilo que lhe é ofertado.

5. Enquanto isso, reclama-se muito que as classes menos favorecidas só consomem música de baixa qualidade de dois ou três estilos musicais. Porém, vemos que a maioria das pessoas pertencentes às classes que tecem essa crítica consomem praticamente os mesmos artistas ou segmentos. Só que dentro de estruturas melhores e longe da pobreza, que aqui, sabe-se lá porque, virou sinônimo de criminalidade.

6. Reclama-se muito também do vazio e falta de renovação na música brasileira, dentro e fora destas zonas de conflito. Porém, nenhum ou muito pouco esforço é feito no sentido de resolver os problemas citados anteriormente, que em nossa opinião, são os problemas que geram o vazio e a tal falta de renovação reclamada por muitos.

7. Temos segurança em dizer que com tantos artistas fora do mercado, o cidadão tem um leque muito menor de opções para escolher e o jovem de periferia está muito mais exposto a riscos devido à carência de arte, cultura, lazer e entretenimento.

8. Podemos dizer isso com propriedade, ao perceber o impacto do primeiro contato com um estilo musical diferente dos padrões, e a reação de êxtase de crianças e adolescentes durante os shows de lançamento do Livro-Disco do Asfixia Social em escolas da periferia de São Paulo, bem como para pessoas em situação de Rua na Cracolândia.

9. Podemos verificar também a grande adesão a bailes, orquestras, oficinas e equipamentos culturais quando ofertados em regiões carentes. Curiosamente, há uma enorme disputa pelas vagas de orquestras jovens das favelas de São Paulo. Segmento musical que convencionou-se dizer que é apenas apreciado pela elite rica.

10. Assim, nosso manifesto é assinado por dezenas de artistas e produtores que entendem a necessidade emergencial de promover a diversidade cultural e o crescimento de novos artistas, atuantes em zonas de conflitos físicos e culturais. Por mais espaço no mercado da música. Que se amplie os acessos e o ferramental para esses artistas, visando dar maior visibilidade, impulsionar suas carreiras, e fortalecer a renovação musical. Que em pouco tempo nos reunamos e falemos não mais do mercado da música, mas sim dos mercados da música.

Que sejamos capazes de abrir novos leques e garantir o direito de escolha para o cidadão e para o jovem dentro de um cenário tão diverso, como o da música produzida no Brasil. Nosso desafio é propor que essa reflexão seja feita, entendendo a responsabilidade que temos enquanto agentes culturais em eventos de pequeno, médio e grande porte, e o quanto a diversidade é importante em uma sociedade marcada por graves conflitos.

Parafraseando nosso parceiro Bboy Banks, que Deus o tenha, “a nossa luta é para que os livros e a arte cheguem antes das armas e das drogas. Toda criança tem o direito de conhecer os livros e a arte antes das armas e das drogas”.

Assinam este manifesto:
Asfixia Social, Gaspar Z'África Brasil, DJ Tano, Funk Buia, GOG, Odisseia das Flores, BNegão, Gabriel Bibi (Presidente do Conselho Municipal de Política Cultural de Uberlândia e Festival Timbre), José Rodrigues Mao Jr. (Garotos Podres), Machete Bomb, Blog ViShows, Sensacional Music, Face Original, Tequilla Bomb, Eternos Suspeitos, Slam do Real, Manu Inimigos do Poder, Loucos D'La Mente, Indaíz, Coletivo Da Rua pra Rua, Núcleo de Hip Hop Zumaluma, Associação Cultural e Educacional Movimento Hip Hop Revolucionário MH2R, Instituto GangaZumba, Mesquita Sumayyah Bint Khayyat, Centro de Estudos e Divulgação do Islam no Brasil (CEDIB), Comitê Islâmicos de Solidariedade, Audiozumb, Projeto Mestiço, Infermus, AR2, Mãe da Rua, PMA Trio, Ressonância, Breaking Conspiracy, Horizonte Cinza, Max Griot, Arone, B-Cap, The Forest, Os Desconhecidos, Porno Massacre, General Sade, S.T.L, Marques Eventos, Vermeio Rock Pub, Leila Rosa de Lima (atriz), Marcos Gonçalves, César Kaab Pugnaz, Cristiano Munir Moraes, Edu Guimarães (repórter fotográfico), Erica Guimarães, Álvaro José Xavier, Patrícia Maria, Gabriela Mousse, Alexandre Brandão Figueiroa de Sousa, Vanessa Paula da Silva Dias, Higor Freire, Vania Freire, Brian Luther King, Brenon Rosalino, Bruna Rosalino, Vera Lucia da Silva, Edilson Barbosa, Eduardo Sales, Renan Aires, Hajj Mangolin, Virgínia Reis, Marcelo Rodrigues, Eduardo Costa, Márcia Valença, Chrys Clench, Fábio Galvão, Beto Firmino (XPTO Brasil), Luciana Simões (musicista), Marly Montoni, Ulisses Montoni, Adrian Garcia Borges, Monica Ferreira Camargo, Jeff Ferreira (Submundo do Som) ...

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