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Entrevista com o rapper RAS

Jeff Ferreira
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O Submundo do Som trocou uma ideia com o rapper RAS, da Vila Sônia, em Piracicaba, e nesse papo falamo sobre seu primeiro álbum, o recém lançado Paz Entre Nós, Guerra aos Senhores, além de falar de sua caminhada e seus desejos no rap. Confere aí:

Submundo do Som - Se apresenta pra nós mano, quem é o RAS? Qual a sua trajetória até aqui?

RAS - RAS é mais um mano, morador aqui do Vila Sônia, na cidade de Piracicaba. Eu busco, através das minhas letras, denunciar o racismo e as explorações estruturais. Levo minha visão de mundo, as vivências, o que aprendi nas ruas pras minhas composições. Acredito que o rap tem um enorme poder de transformação! O rap é pra nos fortalecer. É o que muitas vezes leva uma força e uma autoestima pro povo preto e periférico, comecei no rap ativamente, não só como ouvinte, através das poesias em saraus, sempre escrevi pra pôr as neuroses pra fora e desde o primeiro sarau que me apresentei não parei mais, e como sempre ouvi rap, pra por as poesias ali na base foi rapidão.

Submundo do Som - Qual o significado do nome RAS, e porque a escolha desse vulgo?

RAS - Ras, do etíope, é cabeça ou príncipe. Eu peguei pelas ideias de cabeça mesmo, porque sua cabeça é seu guia, sua morada, a porta por onde você entende e decodifica o mundo. É o que sintetiza o mundo ao redor pra você mesmo, buscar o entendimento pra agir e, a partir da ação consciente, mudar a realidade em que vivemos.

Submundo do Som - O que te influência, falando de pessoas, sejam elas artistas ou não? O que das suas referências você bota dentro do seu som?

RAS Mano, minha coroa é minha maior referência. Ela é mil grau! Sempre correu comigo e com meus irmãos. É inteligente pra carai e tem uma personalidade forte. Bate de frente mesmo quando tá certa. Na música acho que Sabotage, pela verdade nas letras e a forma cabulosa e única de cantar, a variação dos flows. Racionais, cabulosos demais. Poesia foda! Negra Li pelas ideias, a força e a lírica. Tem vários aí que são espelhos, que trazem algo de bom pra se aprender e levar pra vida. Senão as minhas composições trazem sempre um pouco de tudo que aprendi, que me espelho.

Submundo do Som - RAS o que você sente de diferente do álbum Paz Entre Nós, Guerra aos Senhores para os demais lançamentos que você fez anteriormente?

RASNa questão das ideias, continua na mesma linha, na mesma essência, mas creio que eu tô aprendendo a escrever e cantar. Diferenciando mais os flows... constante evolução! Esse é meu primei álbum, né? Daora fazer um trampo assim, completo. Uma obra pensada.

Submundo do Som - O que o álbum Paz Entre Nós, Guerra aos Senhores representa não só na sua carreira, mas também nesse momento que o rap vive?

RAS - Mano, representa muito! Meu primeiro álbum, Fruto de vÁrios anos de trabalho, dedicação e neuroses, Um álbum pra quebrada, da quebrada. Muito importante pra mim, pude expressar ali várias neuroses, várias revoltas, mas também uma força e um incentivo pra continuarmos. Ouvir alguns sons me dão muita força e vontade de continuar e além do momento do rap, o momento do país. Entendermos que não podemos ficar se digladiando entre nós, unirmos forças, agirmos com inteligência, essa é a cara!

Submundo do Som - Como é pra você ser um rapper no interior de São Paulo, mais precisamente da cidade de Piracicaba, quais são as maiores dificuldades?

RAS - Sinto que aqui as coisas são feitas diferentes, né? Em outro ritmo. Me sinto bem próximo dos manos do rap que admiro aqui, também dos que curtem meu trampo, mas sei que aqui as oportunidades às vezes são poucas, a visibilidade é menor, mas a gente se unindo e continuar com os trabalhos fortes que vem saindo aqui, vamos chegar!

Submundo do Som - Mano, pouquinho antes do álbum sair, tivemos uma prévia que foi o clipe da música "Paz Entre Nós", comenta um pouco desse som, da letra e como foi a experiência de realizar esse projeto de clipe?

RAS - Esse som nasceu lá pra 2016, 2017. Meu mano Raul Ronde me mandou a base e eu, que já tava com umas ideias de que a gente tá cada vez mais no meio da rotina, se odiando, se matando. Aí canetei essas ideias, as quebradas com vários conflitos com polícia. Aqui na área a polícia esculachando e agredindo os manos pela cor, a negligência do estado, o abuso da farda... foi nessas ideias que escrevi esse som, gravei e falei com os manos da Doctor Sloth pra gravar o clipe. Passei as ideias e o Daniel Delvaje fez o roteiro. Chamei meus parceiros e eles aceitaram encenar no clipe e saiu aquele resultado foda! Parece um filme! Foi muito louco encenar, gravar... a arte é cabulosa demais. 
Sem massagem, fizemos pra mostrar a realidade mesmo.

Submundo do Som - Tem também a faixa "Preto Latino Americano", ser um cidadão latino por si já é difícil, ainda mais sendo negro, mas pra você mano, qual a visão que cê quis passar com esse som?

RAS - Acho que as ideia se resumem na frase “preto latino-americano em meio aos danos que seus ancestrais criou”. Se pudéssemos escolher onde nascer, nascer preto no Brasil é masoquismo, é ser lesado duas vezes pela história. O Brasil foi (é) colônia dos gringos, e os preto um povo escravizado que sofre muito preconceito ainda. É ter que matar vários leões por dia, mas sempre seguir em frente, fraquejar jamais. O sangue é quente e eles não aceitam nossa vitória, né?, mas não vão poder fazer nada, os preto vão chegar, os pobres vai chegar!

Submundo do Som - A capa do disco é bem forte, e causa impacto, não tanto quanto os que o desgoverno causa diariamente nas pessoas, principalmente os mais pobres. Qual o papel da música e do RAS na resistência e combate a esse governo?

RASA capa ficou muito foda! Dois pés no peito. Eu escrevo minhas letras pensando em duas coisas principais talvez, Levar a força, a autoestima, promover a união e avanço dos nossos, incitando a sempre questionar e agir com inteligência, e denunciar esse desgoverno. Sejamos nóis por nois, pois pra eles nós somos só números que pagam impostos pra enriquecê-los. A periferia sai sempre lesada, É aquela fita: não querer ser aceito, o sistema não gosta de nóis. Sempre lutar pelos nossos direitos!

Submundo do Som - RAS, indica pra nós, por favor, artistas que cê tem ouvido e acredita que a rapaziada precisa se ligar e conhecer também.

RAS - Tem vários. Vou falar dos que estão “chegando agora”. Vou listar: Filipe Gang, Bessa MC, Kadu, GTO, Spixo, NP Vocal, Primeiramente, Ikynia, Ramalho, Betel, Jesus de Black, Killa Bi e Gab MC.

Submundo do Som - E seguindo com as indicações, que já virou uma tradição aqui nas entrevistas, por favor, indica um filme, um livro e um disco, aqueles que são seus preferidos mano.

RAS - Livro: Capitães da areia do Jorge Amado. 
Filme: Cidade de Deus. 
Disco: Sobrevivendo no Inferno dos Racionais

Submundo do Som - Quais os sonhos que o RAS ainda pretende realizar na caminhada pela música?

RASTem muita coisa ainda, mano. Espero levar meus sons pra muitas pessoas. Que as ideias toquem e sirvam pra quem ouvir! Que ajude de alguma forma.
Esse é o primeiro de muitos álbuns!

Submundo do Som - Finalizando mano, deixa sua mensagem para todos que acompanharam esse bate papo

RAS Salve, salve! Aqui RAS na voz, interior paulista. 
Aí, fortaleçam sempre os corres dos seus. Valorizem os artistas da sua área, os que fazem a diferença. E além dos artistas, fortaleça as ONGs e coletivos na sua área que fazem algum trabalho social. É importante essa união entre nós, essa força. Buscar autonomia e sempre fortalecer os seus. O rap é forte, porque a partir da ideia vem a ação, né? O rap é a ideia, o abstrato que retrata a realidade

Submundo do Som - E pra quem quiser acompanhar o trabalho do RAS mais de perto, como faz? Quais os canais de comunicação?

RAS Tenho as redes sociais pra quem quiser acompanhar os corres 
Instagram: @ras.019
Twitter: 019_ras 
Facebook: fb.com/raszn
YouTube: https://www.youtube.com/channel/UCldU67LHpmpo5Jc5PdGbtxg
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