O Planet segue na resistência sonora fazendo um dos shows mais vibrantes desse país. Além da contundência é nítido o amor pela arte que o grupo entrega no palco, e essa paixão se vê nos olhos de D2, e se Marcelo é o coração da banda, BNegão é a razão, e quando o coração e a razão andam em sintonia, de mãos dadas, é por que o sujeito sabe o que está fazendo, nesse caso o Planet Hemp mais do que sabe o que fazer, e é nessa pegada que vem seu novo álbum, ainda sem título divulgado.
A maioria das informações obtidas sobre o quarto álbum de estúdio dos cariocas, foi obtido através de matéria e entrevista para o site TMDQA (confira aqui). Sabemos que o álbum foi gravado na Bahia e que terá em torno de quatorze faixas, isso se todas as músicas feitas pela banda, nesses dez dias de internação em estúdio, entrarem para o disco. Sabemos também que algumas composições serão assinadas pelo saudoso Skunk, via material inédito deixado pelo artista e como D2 categoricamente afirma, o novo álbum não será um compilado de hinos anti-bolsonaro e seu desgoverno. Com base nessas informações, o que esperar do novo disco do Planet Hemp?
Se em Usuário a banda mostrava a cara e levantava a bandeira da discriminação da maconha, e em Os Cães Ladrão, Mas a Caravana Não Pára continuaram queimando tudo até a última ponta, mais bem produzidos, e abrindo o leque para outros assuntos que ficaram mais evidentes em A Invasão do Sagaz Homem Fumaça, que mesmo mais moderno não deixou de questionar a proibição da planta e nem de lutar pelo sua legalidade, assim para o quarto álbum de estúdio da Ex-quadrilha da Fumaça podemos esperar que o assunto da marijuana venha a tona como conceito para o trabalho, e isso não será redundância em assunto já dito a mais de 20 anos atrás, por que em 2019, os problemas vividos por amantes da erva são os mesmos de 1994, porém com novos temperos, o que faz com que a forma que sejam ditos seja diferente.
Recado ao fascismo em show do Planet Hemp
A começar pelas descobertas no campo das ciências, onde hoje temos a informação de que a maconha possui propriedades medicinais, dados que a comunidade médica não afirmava 29 anos atrás, e nem por isso que em 2019 a planta deixou de ser descriminalizada. Com a democracia, mesmo que longe do ideal, em vigor nos últimos anos, marchas pela maconha ganharam corpo em todo país, o direito de protestar e ter orgulho da cannabis, até então estava assegurado, a semente que o Planet Hemp plantou a mais de 20 anos, hoje colhe suas buchas, a banda foi presa acusada de apologia por falar no assunto, e hoje passeatas de milhares de pessoas ganham as ruas e noticiários.
Outro tempero, e que contradiz um pouco o argumento anterior é o do distópico desgoverno, onde a liberdade de expressão está em risco de extinção e a censura vem chegando devagar e calando projetos e botando medo, tudo isso antes do dito cujo completar um ano de mandato, a tendência é piorar, em uma viagem para 1964 e uma nova ditadura 2.0. BNegão foi um dos artistas que sofreu com a censura, em uma apresentação com sua banda, Os Seletores de Frequência, ao criticar os acontecimentos recentes envolvendo o presidente, teve seu show interrompido e ameaçado de prisão. Marcelo D2 afirma que o álbum não será uma coletânea de hinos anti-bolsonaro, mas qualquer ideia que vá contra os princípios desse ser asqueroso, são canções anti suas ideias, assim como qualquer um dos três álbuns do Planet Hemp foram álbuns anti-bolsonaro, mesmo antes desse ser existir, e podemos esperar que esse novo trabalho venha pra botar o dedo nessas feridas abertas, sem citar seu nome ou qualquer episódio que envolva ele e seus ministros, mas falando das consequências, da sociedade, do mais pobre e de quem se fodeu na mão desse cretino.
Podemos esperar um álbum que até nos riffs de guitarra, nas linhas de baixo e bater dos pratos seja resistência, seja um "estamos na ativa", e que o coração e a razão, juntos, em letras que sensibilizam e mostram o poder de transformar, de sair da inércia e mostrar ao mundo que certos assuntos não têm prazo de validade. Podemos esperar um álbum atual, moderno, produzido com a experiência de grandes mestres, mas com a essência dos anos 90, seja nas letras de Skunk ou na volta ao tempo que o momento sugere, já que estamos regredindo, cheguemos primeiro no início da década de 90, nos reabastecendo com combustível para a luta e seguimos de volta para o presente, senão a regressão até 1964 será inevitável. Então podemos esperar que o Planet Hemp vem modernizar o passado em uma evolução musical!
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