"Gostava mais de vocês antes quando não misturavam rap com política...", de um tempo para cá essa frase ficou cada vê mais comum em alguns "fãs" de rap, seja questionando artistas ou os meios de comunicação do Hip Hop. Há quem concorde veemente que Rap e Política não se misturam, mas os sites Noticiário Periférico e Submundo do Som acreditam que o rap por si só é uma ferramenta de debate na política social, historicamente trazendo a denúncia e o protesto em suas letras, lutando por uma sociedade menos injusta e mais igualitária em oportunidades para o povo negro e de periferia.
Em 2019, com a ascensão do fascismo e da extrema direita em todo o mundo, e como forma de resistir ao distópico governo do Brasil, os portais se unem no lançamento da coletânea "RAPstência - Rap e Política não se Misturam", o subtítulo é uma ironia a frase que os sites ouvem em suas redes sociais, enquanto que o titulo reforça a necessidade de resistência do rap nesses tempos sombrios.
A Coletânea reúne 14 faixas, juntando um time diversificado de artistas de várias localidades, diferentes flows, métricas e batidas, mas com uma visão comum de sobre a situação sócio-política que nos encontramos. Cada qual com seu ponto de vista levantando questões importantes e que o atual governo acha irrelevante ou atual para eliminar, e mais do que nunca o rap segue na resistência.
O álbum abre com Kivitz com "Flow Sem Partido", aqui o rapper paulista dá um panorama geral sobre a situação do Brasil, mais precisamente sobre os ditos cidadãos de bens patriotas e quão hipócritas são. Seguindo temos o peso e a contundência de Dory de Oliveira, que ergue a bandeira da resistência feminina em "Delete nos Machistas", jogando para escanteio aqueles com atitudes escrotas. DaZê MC encosta com um beat de trap em "DisMOROno" para uma diss ao ministro Sergio Moro, herói de uma parcela iludida e que entrou em contradição deixando seu posto de juiz para uma boquinha no governo atual. Na música quatro o angolano Troglobio MC relata como é ser um negro no Brasil em "Mai Um Dia" e levanta as questões raciais que teve que enfrentar morando em nosso país. Izabela Reis chega com sua voz suave e ideias de responsa em "Calafrios" para falar sobre resistência, e a diferença do corre nas ruas e na internet. Na faixa seis, Raphão Allafin vem debochado em um beat com elementos de funk para causar nos encontros de família, sendo oposição mesmo em confraternizações, um verdadeiro "Bom Canhoto". Siloque nos mostra uma versão remix, de "Fake News", música que aborda a sociedade sem intelecto que por ganância opta por acreditar só no que lhe convém, proporcionando o caos que enfrentamos.
No lado B do álbum temos Gigante no Mic, João Bazilio e Phelipo Hebron em "Andarilho Cangaceiro", canção que exalta a cultura nordestina ao mesmo tempo que lembra dos heróis populares condenados por inquisidores corruptos, como os dos dias atuais. O rap potiguar Teagacê chega com "Bom dia Vietnã”, faixa que retrata o cotidiano violento de natal decorrente ao descaso do governo. A poesia afiada de Preta Ary também está presente para um tema de estrema “Emergência” o racismo e suas vertentes que sufocam e matam. Na faixa onze, o rapper Rodrigo Nonato conta com scratches e colagens do DJ Erick Jay com clássicos do rap nacional na música "Pandemônio" que fala sobre o estado caótico do Brasil. Seguindo temos a união de Barba Negra, Rato e Dö Mc e do DJ Cirilo em “O Pirata e o Lado Esquerdo da Força”, música que relembra os problemas causados pela direita no país. Em “Programado Pra Matar”, o rapper Itakaos reúne T.O.G., Tamo Alem e Mente Materia numa cypher que explode indignação perante aos fatos negativos ao povo negro e periférico e que são diariamente noticiados. Fechando o álbum tem outra cypher "Fogo na Cortina", projeto que reúne Primavera Nacional, Leeh, Abmael, VH, Inokoshi, Txmmy, Rach e T h MC e aborda numa visão geral as peripécias do governo, colocando em xeque seus defensores e as consequências de não resistirmos.
A coletânea RAPstência - Rap e Política Não Se Misturam é um álbum preciso para a era que vivemos, além de ser contenção é uma ferramenta de informação e de registro histórico, onde mais do que nunca, pós a redemocratização do estado brasileiro, um governo fere princípios básicos e quer reescrever de forma torta a história. Esse álbum segue como um documento vivo de que o que acontece em 2019 não fica impune, estamos cobrando, afinal rap é um instrumento político, rap é resistência!
Ficha Técnica:
01. Kivitz - Flow Sem Partido (Prod. Silveira)
02. Delete Nos Machistas – Dory de Oliveira (Prod. Indião)
03. DissMOROno – DaZé MC (Prod. Beats Records)
04. Mais Um Dia – Troglobio MC (Prod. Sérgio Beat)
05. Calafrios – Izabela Reis (Prod. Rapper Gilmar)
06. Bom Canhoto – Raphão Alaafin (Prod. Sem, Jhow Torres, Rodrigues Boma, Thiago Sonho)
07. Fake News – Siloque (Semper Volt RMX)
08. Cangaceiro Andarilho – Gigante no Mic, João Bazilio e Phelipo Hebrom (Prod. Said No Beat)
09. Bom Dia Vietnã – Teagacê (Prod. Beatowski)
10. Emergência – Preta Ary (Prod. DÖ Mc)
11. Pandemônio – Rodrigo Nonato e DJ Erick Jay (Prod. Lado Sujo da Frequência)
12. O Pirata e o Lado Esquerdo da Força – Barba Negra, Rato, DÖ Mc e DJ Cirilo (Props to Marco Polo)
13. Programado Pra Matar – Itakaos, T.O.G., Tamo Alem, Mente Materia (Prod. Pirulex Beats)
14. Fogo Na Cortina – Th MC, Primavera Nacional, Abmael, Leeh, Inokoshi, VH, Txmmy, Rach)
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