Salve! Hoje o assunto é um pouco diferente, mas o Submundo do Som precisa falar sobre as drogas e o poder destrutivo delas, e como podem acabar com lares e são um perigo eminente para os jovens. Antes de iniciar vou definir o que é droga, segundo a interpretação das ruas: apesar de mídia, governos e médicos jogarem tudo no mesmo saco, a maconha não tem o papel prejudicial ao organismo como a cocaína, crack, heroína, álcool e qualquer outra química, o problema do baseado é social, é o tráfico e as mazelas que isso acarreta, mas em convenção maloqueira, assumimos que a erva não se enquadre nesse quesito, e nos atentamos para o verdadeiro perigo. (Química? Não! Prefiro ficar na brisa! - De Menos Crime)
Começo essa orelhada com a minha carteirinha de guardinha do rap, trazendo um paralelo do Hip Hop dos anos 90 em que facilmente as letras traziam advertências sobre o uso de drogas, como o crack que afetava diretamente a comunidade periférica, e até hoje é como uma epidemia, músicas como "Super Billy", "O Pacto" e "O Caminho das Pedras", só para citar algumas, alertavam sobre o inferno dos usuários e seus familiares. Em 2019 é preocupante, principalmente nas letras de trap, o ode ao uso do Purple Drank, também conhecida como lean, sizzurp ou syrup, uma droga à base de xarope de codeína, um derivado do ópio, refrigerante, bala de goma e muitas vezes misturado com remédios opioides, e que levou vários jovens como o rapper estadunidense Lil Peep, de apenas 21 anos.
Glamourização do Lean - droga ficou famosa nos clipes de trap dos EUA.
No Brasil também tivemos perdas devido a overdose, uma das mais sentidas é a do carismático Chorão, do Charlie Brown Jr, falecido em 2013. O título desse texto leva uma frase do cantor santista, da música "Quinta Feira", nessa letra Chorão fala sobre a cocaína e a depressão, como era importante ser ouvido, "mas ninguém lhe dava ouvidos não", e o refúgio na droga aliviava essa dor interna, que não era vista pelos amigos.
Em 2000, o Charlie Brown Jr convida o RZO para participar da faixa "A Banca", a parte de Chorão, ele rima "ZumZum cocaína mata um, mata vários, escraviza os mais fracos. Hoje estou bem, já larguei, me curei...", naquele momento a carreira da banda decolava, cada vez mais se firmando com uma das maiores do Brasil, e isso era resultado do afastamento do vocalista do pó.
As letras de Chorão sempre foram autobiográficas, ele sempre retratou suas vivências e demônios internos, e desde o primeiro álbum o problema com cocaine foi introduzido. Apesar de rimar que se libertou do vício em 2000, em 2002 Chorão volta a cantar: "Eu procurei me afastar, mas você me conhece eu faço tudo errado", no álbum Bocas Ordinárias, na faixa 11 desse mesmo disco, a música "Com a Boca Amargando", a introdução começa macabra: "Que noite! Mais uma dessa eu...tombo", com voz anestesiada entre uma fungada e outra. O recuso não é meramente uma aposta na produção, e sim com o intuito de chocar e alertar, e a letra reforça essa síntese:
"Tudo estava num momento bom
Eu só pensava em me divertir
Tudo estava num momento bom
Mas começaram a me seguir
Dez horas com o gosto amargo
Com o punhal no meu coração
Os olhos dela são da cor do mar
Mas são gelados como a solidão
Fui eu quem consumi ela até o fim
Fui eu quem amava ela tanto assim
O poço da loucura é muito fundo
O jardim da insanidade, cabe eu, você e todo mundo
Quando você não mais servir, eles vão te esquecer"
A discografia do Charlie Brown Jr é repleta de exemplos do vai e vem no consumo da cocaína, e apesar da fama mundial que os caras de Santos fizeram, os momentos de depressão também foram vários, vieram a público alguns como o falecimento do pai de Chorão, a morte de amigos (Negro Útil, Sabotage, Chico Science...), A separação da banda, o fim do casamento com a Graziela e mais a ótica de um cara inquieto que absorvia as mazelas do mundo, e tentava resolver aquilo ao seu redor do seu modo.
Chorão -Um sorriso que esconde diversos dilemas internos
Esse é o texto que eu não queria escrever, falar do Chorão nesse contexto me machuca bastante, o que tentei contextualizar, utilizando sua obra como exemplo, é que os demônios internos, a ansiedade, a depressão e falta de apoio psicológico, principalmente das pessoas mais próximas como amigos e familiares, fazem com que os nossos busquem refúgio no alívio imediato, como a coca e o lean. Acredito que a sensação após o uso deva ser maravilhosa, não sei de seus efeitos, nem durante, nem depois, mas sei dos efeitos fatais que causam em usuários ao longo dos tempos, e falta que pessoas incríveis fazem na nossa música.
O recado é que as drogas matam. Se é necessário buscar alívio para a pressão e depressão do dia a dia, que seja em outro vício que não a química, e aqui é importante frisar o álcool também, quantos país de famílias, trabalhadores, não chegaram em casa embriagados, chutando a porta do barraco e descontando as frustrações na esposa e nos filhos? Quantos lares despedaçados por causa do uso desenfreado da bebida? Sou testemunha viva disso.
Aos manos, busquem vícios saudáveis, botem pra fora as angustias, escrevam, cantem, pintem, dancem, externem os sentimentos, ouçam seus amigos, sejam porto seguro aos seus, cuidem dos nossos. As drogas matam!
Finalizando, deixo uma frase do Eduardo (ex-Facção Central):
Eduardo (ex- Facção Central)
"A gente tem que entender que o sistema tem várias armadilhas, e as drogas é uma delas, e a gente tem manter cabeça e a mente o mais longe possível desse tipo de coisa, porquê a droga é a ferramenta do opressor para impedir a nossa revolução, e se a gente deturpar a mente e entorpecer os pensamentos cada vez mais a gente vai dar passo pra traz e a gente tem que seguir cada vez mais adiante pra conseguir revolucionar, ou pelo menos mudar alguma coisa! Muita paz!"
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