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Entrevista com o grupo uruguaio Dostrescinco

Jeff Ferreira
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Foto Divulgação

Salve! Aqui Jeff Ferreira, e numa parceria com o site argentino El Peso del Hip Hop trazemos uma entrevista bem da hora com os manos do grupo de rap uruguaio Dostrescinco. E nesse bate papo falamos sobre a trajetória da banda, sobre as influencias e inspirações, sonhos e sobre a cena uruguaia do Hip Hop. Se liga:

Jeff Ferreira – Quem é o Dostrescindo? Qual a trajetória dos manos até aqui?

Dostrescinco (Taio) – Dostrescinco é um grupo de amigos de toda a vida, podemos definir assim. Em 2003 começamos a fazer rap e no ano de 2005 realizamos nosso primeiro show. Daí em diante não paramos de compor, de fazer clipes e se apresentar na cena. E no decorrer da carreira do Dostrescinco tivemos a oportunidade de compartilhar palco com varias bandas daqui do Uruguai, seja de rap ou outros estilos, e também de grandes nomes internacionais, como Marcelo D2, Tote King, SFDK, Rapper School, Arianna Puello, etc, e desses encontros aprendemos muitas coisas.

Jeff Ferreira – Por que o nome “Dostrescinco”?

Dostrescinco (Taio) – Dostrescinco é um número de porta, um endereço de uma de uma casa, uma república onde nos juntávamos para passar o tempo e os invernos frios do ano de 2002. 

Jeff Ferreira – De onde vem inspiração para o Dostrescinco compor?

Dostrescinco (Taio) – Nossa inspiração é motivação, é querer seguir fazendo música e evoluindo. Nossa inspiração vem de nossas inquietudes e do que vivemos, e também do que sentimos. É como processamos o que vemos, vivemos e convertemos em canções. Podem nos inspirar outras canções, o público que escuta nossa múscia e também os problemas que enfrentamos no dia cotidiano, tanto sociais como os mais profundos de cada um. A fonte de inspiração nossa é vasta e não se esgota, é claro que a motivação é muito importante para isso.

Dostrescindo - Foto Divulgação

Jeff Ferreira – E quais as influências do grupo?

Dostrescinco (Taio) – Somos 5 MC’s, assim as influências são diversas, inclusive cada um de nós escuta gêneros musicais diferentes. No Hip Hop escutamos música dos EUA, Espanha, México, Colômbia, Venezuela, Chile, da América Central, Argentina, Brasil, e obviamente aqui do Uruguai. No início da banda tivemos muita influência dos rappers daqui que escutávamos e que nos ajudaram a participar de eventos e a conhecer outros artistas e também a utilizar softwares de produção musical.

Jeff Ferreira – Como vocês conheceram a cultura Hip Hop?

Dostrescinco (Taio) – Por volta de 1997 andavamos de skate (alguns seguem no rolê) e nessa época o rap e o skate estavam juntos, muito unidos. E assim que começamos a curtir, e logo conhecemos as bandas do Uruguai e quando vimos estávamos participando ativamente da cena do Hip Hop nacional.

Jeff Ferreira – Como é a cena do Hip Hop no Uruguai?

Dostrescinco (Taio) - é uma cena que tem seus altos e baixos desde os anos 90 até hoje. Atualmente creio que somos em cerca de 10 ou 15 grupos que se mantém ativos, pode ser que seja mais, mas 10 não é um número pequeno para uma cidade com poucas pessoas, já que para se manter uma banda é necessário que haja público para os shoes, que comprem ingressos e etc., para que a coisa ande e possa subsistir. O restante da cultura não é grande em número, se comparado com o Brasil, por exemplo, mas cresce a cada dia, devagar, mas confiante. As oficinas de Hip Hop tem sido grande ferramenta para educar e difundir a cultura, assim como o break, o freestyle, que embora normalmente seja um movimento, que pelo que entendi em outros países, caminha paralelo a música, como um movimento a parte. 

Jeff Ferreira – Como são os meios de comunicação (jornais, revistas, TV, rádio, sites e blogs) em relação ao Hip Hop no Uruguay? Há veículos orientados para a cultura?

Dostrescinco (Dj Miami) - Não existem canais específicos para a cultura hip hop (rádio, TV), os meios de comunicação tendem a ridiculizar o artista, por desconhecimento ou falta de interesse. Há jornalistas e gente do meio interessada, mas são poucos. Existe alguns blogs como “El Quinto Elemento“, não há revistas nem colunas em jornais. O hip hop no Uruguai não se estabeleceu como cultura, diferente do que ocorre no Brasil.

Dostrescinco - Foto Divulgação

Jeff Ferreira - O rap nasceu como um grito de socorro da comunidade periférica, contra a opressão do sistema e resistência ao fascismo. No Brasil, as letras abordam temas como racismo e a violência da polícia, porque sermos um país de maioria negra. No Uruguai, o que você acredita ser a principal temática das letras de rap?

Dostrescinco (Taio) - Sim, o rap é imenso, as vezes eu o vejo como um canal, como um meio de expressão e também como uma aula de história. Nós sobretudo fazemos arte mostrando nossa voz e o rap é a nossa ferramenta de expressão, o Dostrescinco faz canções, faz música. Claro que é importante conhecer as raízes do hip hop, onde se iniciou e como foi, e além de conhecer as raízes é preciso conhecer nos mais diferentes territórios e culturas, porque como disse aqui há história contada por parte do nosso povo, que é mais interessante ainda. Esse talvez seja nosso “livro de história” musical seja no folclore ou na ditadura militar com a Música Popular (candombe, murga, tango, etc). No nosso caso, nossas famílias fazem parte da “grande” classe média uruguaia. E quando falo “grande” é porque aqui em nossa cultura, é muito forte a classe média e talvez daí vem nosso grito. Pessoalmente senti que o grande empurrão para começar a compor foi como rap espanhol que tem uma cara parecida, claro nas devidas proporções já que são “supostamente primeiro mundo”, encontrei muito em comum. Me senti representado com as letras. Nosso rap, falo por Dostrescinco, levanta questões filosóficas como conhecermos a nós mesmos, entender e contribuir com este mundo globalizado, como não esquecer o amor, fortalecer nossa cultura e representa-la mundo a fora. A denúncia também é algo que nos importamos, mas sempre procurando ser um veículo construtivo. Sobretudo nós queremos deixar uma mensagem de reflexão, direta e positiva, que não é a única verdade, mas que convida a nos perguntarmos se estamos no caminho certo. As músicas também “convidam a celebrar”, que é algo que amamos fazer, curtimos muito representar essas paradas nos shows e compartilhar tudo isso com o público.

Jeff Ferreira – A canção “Por El Funk”, do Dostrescindo, que como o título sugere bebe da fonte das raízes do Hip Hop, a música negra estadunidense como o funk e a soul music. A musicalidade do grupo no geral também resgata essas origens. O que vocês pensam da fase atual e moderna do rap, como a chegada do trap?

Dostrescinco (Farath) – Penso que a arte vai transitando por caminhos distintos ao longo do tempo, a vezes revisitando alguns lugares, outras vezes descobrindo novas fronteiras. Pessoalmente não sou um entusiasta do trap, mas tem algumas coisas que eu curto e alguns recursos de produção que são bem massa nesse estilo. Acredito que em todo estilo sempre tem os ícones e grandes artistas.

Videoclipe "Por El Funk" de Dostrescinco

Jeff Ferreira – Falando da discografia do Dostrescinco, temos os álbuns Nueva Temporada, de 2015 e Recordis, de 2017, além do EP Voluntad, também de 2015, sem contar os singles. Como vocês vêm a evolução de um trabalho para outro?

Dostrescinco (Farath) – Tem sido uma evolução grande onde sempre tratamos de chegar mais longe quanto a produção musical que usamos. Recordis é um disco com muita carga instrumental e também muita carga emocional nas letras. Já o Nueva Temporada, na minha interpretação, é um disco mais tradicional a nível de produção e a nível de letras, é algo mais competitivo.

Discografia Dostrescinco

Jeff Ferreira – Mano, por favor, para nós brasileiros que buscam conhecer mais sobre o hip hop uruguaio, nos indiquem grupos de rap, e também sites e blogs para pesquisarmos.

Dostrescnco (Farath) - Nos sites El Quinto Elemento e Pure Class Music você encontra grande parte da cena uruguaia do rap, e também você pode flagrar mais da cena nas seguintes playlists no Spotify: 


Playlist de Rap Uruguaio por Diego Arquero


Playlist RAP y Hip Hop de Uruguay

Jeff Ferreira – Sobre a música brasileira o que vocês conhecem? Curtem o rap do Brasil?

Dostrescinco (Taio) – Aqui em nosso pequeno “paisito” estamos muito influenciados não só pela música da Europa, que é nossa raíz original, também somos influenciados pela música dos gigantes Brasil e Argentina. Muita de nossa chamada Música Popular tem influência direta da música brasileira. Na minha casa, durante minha infância, sempre rolou Caetano, Gilberto Gil, Maria Betânia e vários outros. Hoje em dia escuto bastante Adriana Calcanhoto, Tim Maia, Cazuza, Ponto de Equilibro, Racionais MC’s, Planet Hemp, Seu Jorge, Charlie Brown Jr, Francisco El Hombre e poderia seguir dizendo vários outros nomes, a pesar da barreira idiomática amamos a música brasileira.

(Dj Miami) – Racionais, MV Bill, 509-E, Rapin Hood, Marcelo D2, Sabotage, são alguns dos que escuto, também curto muito o último disco do Mano Brown.

Jeff Ferreira – Quais são os sonhos do Dostrescinco nessa caminhada pelo rap?

Dostrescinco (Taio) – Nosso sonho é não parar. Nosso sonho é esse, fazer um caminho próprio aprendendo com os que manjam e repartindo com os manos que estão começando. Curtimos muito viajar e conhecer outras culturas, assim como poder transmitir a nossa. Queremos segui crescendo como artistas, e que o público se sinta verdadeiramente representado com nosso som e que contagie novas pessoas, independe da fronteira.

Jeff Ferreira – Para aqueles que querem conhecer melhor o trabalho da banda, quais são os canais de comunicação?

Dostrescinco (Taio) – Podem encontrar nossa música em todas as plataformas digitais e quem sabe não estaremos na sua cidade algum dia? Abraço para todos e todas! 

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