Aos amantes do bom e velho RAP NACIONAL, digo, aos manos e minas
amantes do bom e velho RAP NACIONAL dos anos 1980/90. Certamente vocês
já ouviram O Homem Na Estrada dos Racionais MC’S; Brincando de Marionetes
do Facção Central; Saudades Mil do 509-E, Lembranças do Consciência
Humana; etc. Enfim, grandes clássicos que marcaram uma geração. Mas o que
há de comum nessas letras? Além de seus temas sobre os problemas sociais,
há também outra particularidade: o seu tempo de duração. Isso mesmo, grandes
letras de 7,8,9 e até 10 minutos. Confesso que ainda prefiro as letras
“Quilométricas” do RAP NACIONAL aquelas com menos de 4 minutos. Aliás,
acho que todo Rap deve ter no mínimo 4 minutos de duração. Por isso eu me
pergunto: Por que não se fazem letras tão grandes como antigamente?
Nos anos 1980 quando o Rap surgiu no Brasil, não surgiu necessariamente com
aquele compromisso de abordar os problemas sociais, havia letras de diversos
temas. Vide “Nome de Meninas” do MC Pepeu, e “Melô da Largartixa” do Ndee
Rap (Ndee Naldinho). Mas na virada para os anos 1990, começam-se as letras
de contestação social abordando a pobreza, racismo e violência policial. O Brasil
acabara de sair de uma ditadura (1984-1985), a economia era marcada pelos
sucessivos períodos de hiperinflação, altos índices de violências. – Imagina
como era a situação de miséria na Periferia. Era necessário um movimento que
contestasse esta situação, que resgatasse a autoestima do jovem negro. Esse
movimento era o HIP HOP. Portanto, nada melhor que o RAP NACIONAL para
conversar com este povo.
Na introdução do disco Raio x do Brasil dos Racionais MC’s, o Edi Rock inclusive
cita “usando e abusando da liberdade de expressão, um dos poucos
direitos que o jovem negro ainda tem neste país”. E Esta liberdade de
expressão o Hip Hop “usou e abusou” bastante. Longas e longas histórias,
longas e longas narrativas contando sobre a vida do povo da periferia. Assim
eram escritas a maiorias das letras, quantas e quantas letras de Rap vocês não
já escutaram e refletiram a respeito? Era uma caraterística fazer Rap de extensa
duração, aliás neste momento que escrevo estou escutado ‘’10 Anos Perdidos”
do Grupo Condenação Brutal.
Creio eu que haja algumas explicações para os rappers não escreverem letras
tão longas como antigamente; algo que ainda deveria existir. Porém um conjunto
de transformações ocorridas corroboraram para esta mudança no jeito de
escrever.
Naquele tempo dos anos 1990 o acesso à informação ainda era muito escasso
ao povo pobre. Era necessário escrever letras que conversasse com este povo.
Geralmente um Rap contava uma história de vida, quase uma biografia em forma
de música. A “Recanto Obscuro de Uma Existência” do Grupo Consciência X
Atual é um exemplo deste tipo de letra, é uma faixa de quase 10 minutos
contando sobre a história de um mano que se envolveu com o crime. – Esteja
em paz a onde estiver...
Nos Anos 2000 do mundo globalizado, as relações sociais se tornaram bastante
estreitas com o advento da internet. Com isso a informação ficou mais acessível,
a internet facilitou a divulgação das músicas. Principalmente pelo YouTube,
quase que diariamente um Rap novo é lançado. A divulgação no formato
audiovisual (videoclipe) também está em alta, cada vez mais músicas são
lançadas junto com o vídeo clipe.
O Rap neste mundo contemporâneo de 2019 tenta atingir o maior número de
público possível, onde os lançamentos se dão quase que ao mesmo tempo, uma
faixa de 07 ou 08 minutos talvez não teria uma atenção do público. As únicas
músicas desta duração lançadas atualmente são as chamadas Cypher.
Retornando aos anos 1990, me parece que naquele período havia uma
preocupação maior com o conteúdo da letra. Claro que a produção era
importante, mas o flow, a levada, o beat era algo que estava em 2º plano. Os
grandes clássicos do RAP NACIONAL eram escritos com muita informação, ódio
e revolta para com as condições sociais do país.
Foi uma fase onde surgiu as maiores letras do RAP NACIONAL, letras que tocam
no coração. Não sei se ainda farão músicas como faziam há 20, 25 anos atrás.
Deixo alguns dos grandes clássicos desta geração: Fórmula Magica da Paz,
Estamos de Luto, Tá na Hora, Depoimento de Um Viciado, Brasília Periferia,
Super Billy, Rap das Quebradas, Vida Eterna, A Paz Que Sonhei, Verão na VR.
Etc.
Por ALEXANDRE LOPES
E-mail: rapgangstabrasil@gmail.com
Instagram: @rapgangstabrasil
Abaixo você confere uma playlist no Spotify, com uma seleção de Rap's que não se limitam ao tempo de duração:
Nossa!
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