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Salve! O Submundo do Som trocou uma ideia com o grupo Z'Africa Brasil, que acaba de lançar em vinil seu clássico álbum Antigamente Quilombos, Hoje Periferia, além de batermos um papo sobre o disco, falamos sobre as andanças do grupo, intercâmbio musical, sobre o seriado Turma do Gueto, na qual o Z'Africa teve música na abertura, conversamos também sobre projetos futuros e sobre muito Hip Hop! Se liga:
Submundo do Som - Antigamente Quilombo Hoje Periferia é um trabalho político que faz um resgate histórico do Brasil, de Zumbi as vivências periféricas, e também é um álbum divertido, um disco de Hip Hop com toda a essência da cultura. Como vocês definem essa obra e qual a importância desse projeto para o Z'Africa?
Z'Africa Brasil - Salve, esse trabalho é um trabalho de uma
vida, foi o disco que abriram as portas e possibilidades para que nossa música
chegasse mais longe e que nos permitiu gravar mais outros diversos trabalhos. Um
disco que nasce da necessidade de colocar para fora tudo que estávamos vivendo
na época, que ecoa até os dias de hoje, momento de transformação de consciência
e de entendimentos também, além dos anos que já tínhamos de estrada sem ter um
trabalho lançado, então foi um disco concebido com muito esforço, vivencia,
pesquisa e grandes parcerias de pessoas que fazem parte das nossas vidas até os
dias de hoje. Z’África Brasil vem de Zulu Z’África Zumbi, mostrar a nossa história
partindo das tradições africanas e afro Indígena brasileira, na busca de contar
a verdadeira história do Brasil de uma forma realista, com visão periférica e
estratosférica mostrando a verdadeira face do povo brasileiro, dessas misturas
étnicas, principalmente essa mistura dos povos periféricos e de todos os
lugares do planeta. Sim, é um álbum divertido por ter a essência da cultura Hip
Hop, não podemos esquecer que Hip Hop é diversão também, entretenimento,
superação, transformação, a vida na periferia não é só problemas, tem muita
alegria e festa também, um disco importante por ser atual, atemporal.
Capa do álbum Antigamente Quilombos Hoje Periferia
Submundo do Som - Em 2002, quando o disco foi lançado, estávamos as vésperas do primeiro ano do
governo Lula, que apesar de sofrer críticas de setores progressistas, nem se
compara ao desgoverno atual. Como vocês vêm as músicas do Z'Africa dezessete
depois nesse contexto político?
Z'Africa Brasil - Pode crê, nessa época já estava aparecendo
alguns avanços da luta dos movimentos populares principalmente do Movimento
Negro e Indígena e dos Trabalhadores Sem Terras, além da transformação que a música
rap fez nos anos 1990 impulsionando novas consciências e transformações para os
anos 2000 em diante. Nosso som sempre foi contra o sistema, Hip Hop sem partido
político, sem ser apolítico e sim politizados, supra partidário, a cultura Hip
Hop tem que estar acima de interesses políticos, conseguimos leis pra
fortalecer a existência do Hip Hop, que hoje no Brasil faz parte da nossa
cultura popular e claro que muitas mudanças e avanços pro nosso povo tiveram
com a chegada do Lula na época, de fato foi um presidente que ao longo da história
teve um olhar voltado ao verdadeiro povo brasileiro, o povão mesmo, que viviam
e ainda vivem as margens de uma elite colonial burguesa que se sustenta da mão
de obra barata, onde ainda controlam o poder econômico e a divisão de renda no
pais, que ainda sofre com essa grande disparidade e desigualdade social. Muitas
coisas melhoram e como estamos no Brasil, muitas coisas regrediram e parece que
estamos na mesmice, avançamos um pouco e voltamos séculos, prova disso, é esse
novo desgoverno que está aí, um
presidente que não consegue formular uma simples frase com algum nível de
raciocínio ou consciência do pais que governa! Um pais pluriétnico desgovernado
por um colonizador europeu da época da escravidão moderna. E passando-se 17
anos após o lançamento do álbum Antigamente Quilombos, Hoje Periferia, as
ideias se fazem atuais, tanto no contexto histórico como do cotidiano do povo
brasileiro... “um dia sonhei, que no
campinho da quebrada era uma fábrica Taurus, ainda bem que era um sonho ai
fiquei um pouco aliviado, mas algo em meu pensamento dizia pra mim, porra se na
periferia ninguém fabrica arma quem abastece isso aqui?” Trecho da música
Antigamente Quilombos, Hoje Periferia.
Submundo do Som - Pelas
andanças e observações do grupo nos guetos do país, ainda falta cultura na
periferia?
Z'Africa Brasil - Pode crê, andamos bastante os territórios
e guetos brasileiros e podemos dizer que hoje não falta cultura na periferia e
sim falta Cultura da Periferia, as culturas dos povos tradicionais estão aí,
agora o que falta é visibilidade, acesso, reconhecimento, valorização a cultura
para que todos possam acessa-la e não extinguir o ministério da cultura mesmo
sabendo que nosso pais é movido e reconhecido mundialmente pela nossa cultura e
nossa arte.
Submundo do Som - O
Disco Antigamente Quilombos Hoje Periferia, tem uma faixa dedicada a
performance do DJ (M.K. nas MK) e em "Se Eu Te Contar" é celebrado a
cultura dos mestres de cerimônia, o Z'Africa traz toda a magia do Hip Hop em
sua discografia. Como vocês analisam a cultura hoje? Há um distanciamento do
rap com os demais elementos?
Z'Africa Brasil - Isso, a gente vive, respira a cultura Hip
Hop intensamente, é nosso estilo de vida, vemos o mundo através da cultura Hip
Hop e seus elementos, faz parte da nossa essência, que vem da posse Conceitos
de Rua de grandes mestres que vieram antes de nós e nos repassaram esse
conhecimento, somos o fruto de onde viemos e as pontes foram feitas pra
atravessar, o berço da nossa cultura é o centro de São Paulo onde esses
periféricos de todos os lugares de Sampa, do interior do Brasil se encontrava e
se encontra para celebrar os elementos da cultura Hip Hop (Braeking Dance –
B.Boy B.Girl, Popping, Locking, Orginal Funky, Graffit, Dj e MC) e pra nós o
quinto elemento, o conhecimento. Se não fosse os Dj’s não existiria os MC’s, o
entendimento do Hip Hop chegou com a dança além dos bailes Black’s da cultura
dos DJ’s, amantes do vinil, da cultura do turntablista, do musico performer
através dos toca discos, onde o DJ Meio Kilo mostrou muito bem nesse clássico "M.K. nas MK", com colagens de grandes nomes do rap brasileiro. "Se Eu Te Contar" é
mais a brincadeira de um role de um MC na quebrada, de forma satírica na
intenção de dar uma identidade para a sonoridade do Z’África, rap cômico,
gostamos bastante. A cultura hoje se mantém viva, como foi dito é estilo de
vida que é passada para as gerações e cada um tem seu tempo de amadurecimento,
alguns usufruem dessa cultura mais voltado para grande indústria, na qual
também faz parte de todo esse universo que nos cerca, porém vejo evolução sim e
cada geração vai fazendo da sua forma e sempre aprendendo, na intenção de
desenvolver e divulgar cada vez mais essa cultura de rua. Hoje acredito que
quem vai cantar rap, tem que ter o mínimo de consciência dos primórdios que
mantem a cultura viva até os dias atuais.
Faixa M.K. nas MK
Submundo do Som - O
grupo teve a música "Mano Chega Aí", na abertura do seria Turma do
Gueto, de 2002, e no ano seguinte compôs o álbum homônimo da trilha sonora
entretenimento. Como foi essa essa experiência e exposição para o Z'Africa?
Z'Africa Brasil - O que aconteceu é que quando estávamos finalizando o disco e preparando o lançamento, um dos parceiros o Oswaldinho do coletivo Embolex na época, estava trabalhando nas edições do seriado Turma do Gueto, projeto inicial do Netinho de Paula do grupo Negritude Juniors, ele levou nosso disco que estava no forno para o pessoal da série ouvir, e gostaram muito da música “Mano Chega Ai”. Foi uma experiência interessante e importante pra que nossa música fosse para todo o território nacional, em TV aberta como abertura do seriado. Isso nos possibilitou viajar o Brasil e exterior e também ajudou a consolidar nossa carreira e outras músicas clássicas que faz parte da nossa carreira.
abertura do seriado Turma do Gueto
Submundo do Som - "Os Tons de Elis são Velosos e Moraes, segundo as leis de Science", a
musicalidade do Z'Africa tem uma proximidade com MPB, inclusive com
participações com Zeca Baleiro, Toca Ogan, da Nação Zumbi, e Cidadão Instigado,
além de trazer a ancestralidade dos tambores mesclados com regionalidade do
nordeste brasileiro, como vocês vêm toda essa conexão?
Z'Africa Brasil - Sim, a música popular brasileira está
sempre presente em nossas referências musicais, mesmo fazendo parte de uma
cultura que veio dos Estados Unidos, gostamos de tudo que vem do continente
americano de sul a norte e o rap brasileiro precisava também, na nossa
concepção, essa cara de brasilidades com as referências dos povos étnicos
partindo da visão dos povos africanos do Brasil e da diáspora pelo o mundo. Ou
seja, fazer um rap bem brasileiro respeitando a ancestralidade, por isso as
citações de grandes artistas brasileiros que são referências mundiais e que
crescemos ouvindo, ouvindo um pouco de tudo, o Funk Buia canta rap faz reggae/ragga, mas ele veio do samba, meu
pai é sanfoneiro, então tenho essa raiz nordestina também, do forró, baião,
coco, embolada, literatura de cordel, o repentismo
brasileiro, maracatu, jongo, do repente e assim por diante, o Brasil é muito
rico musicalmente entre diversos estilos musicais regionais, os toques dos Orixás, na qual a gente tenta misturar com o nosso rap, a nossa música. Falando
da parte percussiva que se misturou com os beats e sampler’s, no álbum A.Q.H.P,
tivemos a honra de ter participações de seres milenares nesse trabalho, da
rainha Simone Soul, do grande mestre Vitor da Trindade, nas composições e rimas
tivemos as participações do mestre Thaíde, Lino Krizz, Sol Odara, Tanque, Théo
Werneck, grupos de rap francês, Assassin. Mas temos algumas músicas gravadas com o
mestre Zeca Baleiro, que também participa do disco Tem Cor Age, com a música "Rei do Cangaço", assim como Toca Ogan, da Nação Zumbi, e Cidadão Instigado, na música "Zabumba de Gangazumba", álbum este produzido por o Instituto e Erico Theobaldo
pela YB.
Submundo do Som - O
Z'Africa Brasil é um dos poucos grupos do país que conseguiram um intercâmbio
cultural, gravando na Itália e França, como nasceu a proposta para a coletânea
Conceitos de Rua e quais os aprendizados desse rolê?
Z'Africa Brasil - Quando viajamos a primeira vez, foi em
1999, fomos fazer um intercâmbio cultural na Itália, representando a Posse
Conceitos de Rua, uma organização da cultura Hip Hop do Capão Redondo zonal sul
de Sampa que foi criada em 1992, as Posses de Hip Hop tiveram um trabalho muito
importante para a vivencia Hip Hop, implantação e desenvolvimentos dos métodos
e oficinas dos 5 elementos que existem e resistem até hoje. Então, 1999 já
desenvolvíamos oficinas de Hip Hop na entidade Casa 10 do Ipiranga, apoiada por
organizações culturais da Itália, assim surgiu o intercambio e fomos
representando a posse. Por lá, tivemos contatos com muita gente da cultura Hip Hop e surgiu a ideia de fazer uma coletânea musical Hip Hop Brasil Itália e
agora em 2019 estamos preparando a segunda coletânea 20 anos depois. Na França,
temos o contato da família Assassin que participaram do disco A.Q.H.P com a música
“Origens” e quando fomos tocar em Paris aproveitamos a oportunidade e fizemos o
disco, Verdade e Traumatismo, produzido por Niro Shima e Rockin Squat do selo
Livin’Ástro. Aprendizado grande, por onde passamos fizemos conexões e formação
de família, o Hip Hop está no mundo inteiro, em todo lugar tem sempre um de nós,
somos Universal Zulu’Z.
Submundo do Som - Tivemos
os trabalhos solos do Gaspar, inclusive o livro multimídia "O
Nômade", projeto com envolvimento do saudoso Banks, e também o livro
"O Brasil é um Quilombo". Funk Buia também lançou o álbum solo
"Verdadeiro Tem Que Ser", em 2013. Por favor, falem um pouco desses
projetos e como vocês avaliam essas caminhadas individuais até essa atual fase
do Z'Africa?
Z'Africa Brasil - Isso, em 2013 o Funk Buia Lançou o disco
“Verdadeiro tem que ser”, em 2014 laçamos meu primeiro trabalho solo, produzido
por João Nascimento, intitulado “Rapsicordélico”, também fiz o livro “O Brasil é um Quilombo”,
em 2015 lançamos o disco do Z’África Brasil Ritual 1 “ A Vida Segundo os Elementos do Hip Hop”, em 2018 o lançamento do livro multimídia “O Nômade Vol.1", em homenagem ao eterno B.Boy Banks (Back Spin Crew), um irmão que
partiu, que deixou a base da essência e dos projetos de hip hop pra nós, agora
em 2019 o lançamento do esperado vinil do clássico disco A.Q.H.P e da marca de
roupa, Hip Hop Quilombola. Aguardem, tem mais vindo por ai!
Submundo do Som - Em
2015 veio o disco A Vida Segundo Os Elementos do Hip Hop, marcado como Ritual
I. Qual a previsão do Z'Africa Brasil para o lançamento da continuidade dessa
obra? Podemos esperar pelo Ritual II?
Z'Africa Brasil - Sim, já estamos fazendo o Ritual 2, vamos
lançar música por música e depois juntar e fazer um disco físico também,
estamos no momento dos vídeos clips e a música digital, focados nisso.
Disco Ritual I - A Vida Segundo Os Elementos do Hip Hop
Submundo do Som - Ainda
há muito sapo que cola na banca? E qual a dica pra se esquivar dos bacharel das
baganas?
Z'Africa Brasil - Nossa como tem! Kkkkk, o que mais tem,
sapo é universal. Existe a sapologia e na sapologia existem vários tipos de
sapos. Por exemplo, o sapo matemático? Deixa eu dar uns 12 ai! Vê se pode?
Rsrsrs é mas tem os sapos revolucionários, os Sapatistas...rsrsrsr uma dica
para se esquivar dos bacharéis das baganas é fazer igual o sapo gênio? Que da
uns dois e some na fumaça! rsrsrsr
Submundo do Som - Qual
mensagem vocês deixam para quem acompanha esse bate papo?
Z'Africa Brasil - Agradeço a todos que acompanham nosso
trabalho e também os que estão conhecendo agora, um forte ase, muita luz,
esperamos que gostem do vinil duplo do clássico álbum A.Q.H.P e comprem, ajuda
noisssssss.
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