O Submundo do Som teve a honra de trocar uma ideia com um dos rappers mais talentosos da atual cena, o mano Siloque, que já é aqui da casa e corre junto (e pelo) Submundo. Demorou pra desenrolarmos essa ideia, mas a espera trouxe um papo riquissimo e cheio de novidades, como a participação de Siloque na V.A. - O Rap Que Vem do Interior, do selo Dz9 Records e com direção do produtor musical Danilo Amâncio, também tem o single "Gigantes", que acabou de sair do forno, cypher e disco novo. Siloque, dono de linhas pesadas e contundentes e uma levada que te leva pra uma lírica eficaz, segue trampando, e o Submundo do Som segue acompanhando. Se liga aê que ta firmeza essa ideia que desenrolamos:
Submundo do Som - Quem é o Siloque? Qual sua trajetória até aqui?
Siloque - Salve, salve Jeff! Siloque é um rapaz comum, sem grana, com muitas idéias na cabeça, fazendo de sua luta uma guerra contra todos os absurdos “comuns” que vivenciamos todos os dias em nosso Brasil. Faço Hip Hop desde 2002, meu primeiro disco gravado foi com meu primeiro grupo “O Que Não Presta” em 2003 ou 2004, depois disso fui membro de banca VMG (Goiânia), da De Buenas Crew, d’ O Reinado e também criei, toquei baixo e escrevi as letras da banda de Hardcore “Divergências”. De 2011 a 2015 fiz uma pausa na minha carreira musical e em 2015 voltei com meu trampo solo, completamente renovado, e com uma cabeça muito melhor.
Submundo do Som - Man, e o nome Siloque? Da onde veio esse vulgo?
Siloque - Quando eu tinha uns 12, 13 anos, fui à casa de um amigo meu, todo largado, chinelo maior que o pé, camisa velha esgarçada e calça de moletom desbotada com o chinelo pisando na barra por fazer (risos). Quando o pai dele me viu, olhou em choque pra mim e comentou “Nossa, ta parecendo um Marciloque”. Gostei da parada, tirei o “mar” da palavra e resolvi aderir a esse vulgo. Antigamente era grafado “C-Loc”, mas com o decorrer dos anos resolvi aportuguesar, e cá entre nós, ficou bem melhor!
Submundo do Som - O que influência o Siloque? Quais são suas referências para composição?
Siloque - Eu sempre fui um nóia musical, desde criança, e muita coisa me influencia, do Fusion Jazz ao Doom, do Calypso ao Trip Hop, do Punk ao Rap Underground e por aí vai. Para compor geralmente me baseio em minha própria vivência e assim crio minha forma de protesto.
Submundo do Som - E como é o seu processo de composição? Como nasce uma nova música?
Siloque - Isso é complicado, ás vezes a letra sai em 1 minuto em um insight vívido, o cd “Queime o Coração de Gelo” por exemplo, escrevi na íntegra em 15 dias, mas as vezes fico mais de meio ano lapidando um som, como foi o caso de “Gigantes”, último som que lancei.
Submundo do Som - Além do trampo de MC, como Siloque, você tem outro alter ego né? Que é o Silasman Beats , beatmaker responsável por boa parte das bases do Siloque. Como é o trampo de beatmaker? E como é o processo criativo e influências pra criar uma batida?
Siloque - Pra produzir beats, em primeiro lugar fujo de rótulos, não penso “Esse vai ser um boom bap”ou “Hoje vou fazer um trap”, até por isso as vezes acabo criando umas paradas estranhas que o ouvinte de rap A+B acaba não curtindo. Mas no geral, minha criação é livre, não produzo para agradar ninguém, produzo seguindo meus instintos, e se soa legal pra mim, já é vitória!
Submundo do Som - Mano, cê tá com dois discos na rua né? O "Queime o Coração de Gelo", de 2016 e o "Nova Inquisição", de 2017, como foi gravar esses dois álbuns e o que esses dois registros representam na carreira do Siloque?
Siloque - Sim, sim, “Queime o Coração de Gelo” eu considero meu “Dia 1”, foi tipo como um “prólogo” de um livro, foi feito enquanto eu estava “desenferrujando”. Pra mim foi um grande marco, pois não tinha intenções de voltar pra valer no mundo da música, mas alguns amigos me incentivaram a criar um crowdfunding (catarse.me) para levantar fundos para a gravação desse disco. E o que aconteceu, é que muita gente abraçou a causa e eu consegui atingir os R$ 2.300,00 pretendidos pelo financiamento coletivo. Isso pra mim foi uma injeção de ânimo e de incentivo, pois eu pude perceber que muita gente acreditava na minha causa e desde então tenho trabalhado incessantemente.
“Queime o Coração de Gelo” tinha uma vibe mais positiva e musicalmente mais crua, já “Nova Inquisição” é um trampo mais elaborado, mais técnico, mais melódico, mais sombrio, mais político e mais combativo, e posso dizer que esse EP é a “menina dos meus olhos”. Apesar da aceitação ter sido menor do que do meu primeiro disco, eu gosto bem mais dele, pois sob minha ótica evolui bastante em todos os aspectos e realmente esse disco me deixou totalmente satisfeito em todos os quesitos. Esse foi produzido um pouco mais em esquema de guerrilha, já que todas as gravações saíram do meu próprio bolso. A princípio só ia lançar virtualmente, pois estava totalmente quebrado, então resolvi tentar fazer uma pré-venda para levantar a grana pra fazer o físico, e novamente foi sucesso, pois consegui vendi uns 70 cd’s em esquema de pré-venda, e com essa grana consegui fazer a cópia física.
Isso sem contar a arte foda que o Muriel Chiata fez à lápis para a capa, a gravação/mix/master tinindo de Franco Torrezan, as participações de Laura Camarini, Leo Machion, Nobre Sam, Buda e do próprio Franco, os Lyric Videos de Luis Pedro Bet, os clipes feito pela AU Filmes. Um trabalho colaborativo, feito com muita coletividade e que no fim das contas saiu 10/10.
Discos do Siloque "Queime o Coração de Gelo" e "Nova Inquisição"
Submundo do Som - Tem também a faixa "Cheios de Nada" numa conexão Brasil x Moçambique, que contou com o rapper africano Rei Bravo, como foi essa parada mano?
Siloque - Esse foi outro grande marco pra mim, conheci Rei Bravo através do meu mano Buda, que já havia gravado um som pesadíssimo em parceria com ele. Buda, mano de muitos anos, apresentou um som meu pro Rei Bravo e alguns dias depois recebi o convite dele pra participar de “Cheios de Nada”. Fiquei felizão, pois é realmente satisfatório saber que seu som, feito de coração, atravessou continentes. E o resultado, é um dos melhores raps que já participei, modéstia a parte. Rei Bravo é um mano humilde, sangue bom e dono de uma voz belíssima, e manda melódicos de deixar qualquer um boquiaberto (Só ouvir esse som e entender o que estou querendo dizer). Espero fazer mais parcerias com Rei Bravo em breve.
Liryc Video do single "Cheios de Nada", de Siloque e Rei Bravo
Submundo do Som - O Siloque é um dos artistas que está participando da coletânea V.A. - O Rap Que Vem do Interior, da Dz9 Records, como é estar nesse trampo participando desse projeto?
Siloque - Sensacional! Projeto visionário e foda demais, agrega valor ao rap nacional e toda a cena #019, carente de colaborações artísticas como essa! Vou chegar com o som “Alienígena”, num beat insano feito pelo idealizador do projeto,o Danilo Amâncio, e pode se preparar que estamos chegando com uns 30 pés na porta, levando em conta todos os envolvidos nesse projeto (risos).
Submundo do Som - O Danilo Amâncio é o idealizador da coletânea V.A. - O Rap Que Vem do Interior, e também o beatmaker da faixa do Siloque, como foi trampar com ele e com a Dz9 Records?
Siloque - Foi e está sendo massa demais. Nos entendemos bem e já estamos até planejando uma outra track colaborativa.
Submundo do Som - E como que o Siloque vai chegar na coletanea V.A. - O Rap Que Vem do Interior? O que você pode adiantar da track?
Siloque - Posso adiantar que vou chegar sem modos e sem respeito pelo bem estar público.
Submundo do Som - E qual a importância de ter um selo como a Dz9 Records que se preocupa com a música brasileira alternativa, principalmente aqui no interior, na cena 019?
Siloque - É de suma importância, pois se no interior surgissem mais pessoas pensantes e ativas como o Danilo e se houvesse mais colaboração mútua e respeito, como tem sido nesse projeto, nossa cena já estaria anos-luz à frete. É muita panela e pouco “compromisso”, se é que você me entende.
Submundo do Som - O Siloque é um rapper do interior de São Paulo, atualmente em Jaguariúna, mas veio de Águas de São Pedro, e rodou por muitas outras cidades na carreira, como você vê a cena, não só do rap, mas da música em geral no interior de sampa? As festas, as casas de shows, as produções, a imprensa, a cena no geral?
Siloque - Sinto falta do fim dos anos 90, começo dos anos 2000, onde o rap era bem mais “protesto” e menos farra e marca de roupa. É inegável que a cena ta muito mais forte, mas ao mesmo tempo está bem mais “inóspita”, muito trabalho ruim sendo colocado na rua, muita panelinha, muito moleque pagando de malandro, muito auto-tune e pouco conteúdo. Lógico que tem muito trampo foda saindo todos os dias também, mas a “golden era” do rap nacional pra mim foi em um tempo em que somente os MC’s se intitulavam MC’s, e não todo e qualquer fã de rap.
Submundo do Som - E como você analisa a música hoje no Brasil? Num contexto geral e também afunilando um pouco, falando mais do rap?
Siloque - Musica brasileira sempre foi um vasto leque apetitoso e criativo, e hoje não é diferente, a diferença é que hoje temos que garimpar um pouco mais para achar o ouro. E sempre é bom buscar o que não está no hype. De música brasileira atual gostou muito de Pein, Ras, Tássia Reis, Guilherme Coio, Synestesia Rap, Bússola das Rimas, Spixo, Guizão, Teagacê, K’ment, Larinu, Banda Loma, Beermudas, Victor Xamã, Atentado Napalm, Síntese, Amiri.
Submundo do Som - E o que tá falta pra cena do rap, e da música alternativa no geral? Na sua visão que atitudes faltam pra cena ser firmeza pra todo mundo?
Siloque - Duas coisas: União e abandonar o ego inflado.
Submundo do Som - 2018 e o rap chega como um dos ritmos mais ouvidos, mas as mensagens estão cada vez mais em segundo plano (quando não, esclusas das letras). O aumento do número de MC's trouxe um folego novo para o rap, mas é uma geração que não vem pesada na caneta, em criticas sociais, denuncia e protesto, como veio os lendários grupos dos anos 90. Na sua visão mano, a que se deve esse fato? Tem espaço pra um som pique anos 90 nos dias de hoje?
Siloque - Muitos estão pela moda, pra ser popular. Os verdadeiros sempre vão resistir, tem muita molecada fogo de palha que no primeiro perrengue abandona o barco, e é nessa hora que a gente diferencia os verdadeiros dos que tão por “moda”, pra “pegar mulher”, pelo “hype”. Ainda bem que também tem bastante moleque novo consciente, inteligente, engajado, cheio de boa ideia levando o rap a sério, mantendo o patamar.
Submundo do Som - 2018 também é um ano tenso para o Brasil, temos uma extrema direita avançando e ocupando brechas no governo, ao passo que o pensamento fascista toma conta da nossa população, principalmente a menos abastada. O Siloque é um rapper que sempre colocou o dedo na ferida sobre esse assunto, e seu pensamento é claro em suas músicas, principalmente no último trampo, o Nova Inquisição, mas na sua visão, qual o papel do hip hop, principalmente dos MC's (letristas) em tempos como esse?
Siloque - Nosso papel é a conscientização do povo e de todas as minorias descriminalizadas que sempre foram vítimas desse estado brutal, desonesto e injusto. Temos um problema muito serio no Brasil, que é o conservador pobre, e isso tudo é reflexo da (falta de) educação, cultura e informação. Tem pobre pedindo por ditadura, e isso me parte o coração, pois se ditadura fosse bom, depois de 21 anos de chumbo, o Brasil teria se levantado e estaria numa melhor, inclusive, sem pobre pedindo por intervenção militar. São dias sombrios e o que não falta é massa de manobra. O povo precisa acordar, por está numa inércia tóxica e não percebe que está cada vez mais sendo mandado pro buraco.
Submundo do Som - A escola do Siloque vai além do rap, tem um pegada de punk rock e hardcore também né? Conta um pouco pra nós sobre isso.
Siloque - O Punk e o Hardcore sempre estiveram presentes em minha vida, antes mesmo do Hip Hop. Garotos Podres, Cólera, Ratos de Porão, The Exploited, Dead Kennedys, Bad Religion e incontáveis outras bandas estão há mais de 20 anos no meu repertório e garanto que nunca mais vão sair. Mas meu gosto musical vai bem além de rap e punk rock.
Siloque do punk ao rap
Submundo do Som - Recentemente você lançou a música "Gigantes" um love song finíssimo, com letra e melodia belíssimas e produção de primeira, como foi fazer esse som, e o que ele significa pra carreira do Siloque?
Siloque - Foi um dos trampos mais desafiadores pra mim, levei quase um ano pra conseguir escrever as últimas oito linhas da letra, porém foi gratificante, pois foi algo novo e eu curti muito o resultado final. O beat é de outro maníaco por música lá de BH, o beatmaker Caio Dias Lima.
Liryc video do single "Gigantes"
Submundo do Som - O Silas é um amante do vinil, e já que nosso papo aqui é sobre música, o que cê pode indicar pros manos que tá procurando um som da hora e diferente pra curtir?
Siloque - Vou citar alguns artistas que não tem saído da minha vitrola: Café Preto, Harry Belafonte, Agnostic Front, Nação Zumbi, Dag Nasty, Led Zeppelin, Racionais, Dusty Springfield e menção honrosa a Run the Jewels, Sleep, Tássia Reis e Fleetwood Mac, que não tenho em vinil, mas tem sempre rolado por aqui também.
Submundo do Som - Além da faixa na coletânea V.A. - O Rap Que Vem do Interior, o que mais o Siloque tá preparando de novidade, e que pode adiantar pra nós?
Siloque - Estou trabalhando em parceria com Flavvour Beats no meu novo EP, que também é meu primeiro trampo conceitual, chamado “Guia Prático de Como Fazer Inimigos”, sem dúvidas, meu trampo mais combativo, mais sujo, mais pesado e mais underground. Fui convidado também para participar de um cypher pesadíssimo que está a caminho, e vai contar com cinco monstros das rimas, sendo um deles um renomado rapper da atualidade, estamos chegando cuspindo fogo, só aguardem!
Submundo do Som - Pra rapaziada que tá conferindo esse bate papo, pra quem curte o trampo do Siloque, que mensagem você deixa?
Siloque - Obrigado a todo mundo que acompanha meu trampo, que me apóia, que ouve meu som bem alto, que compartilha meus vídeos, que mostra pros amigos, a todos que vestem a camisa e lutam por causas nobres. Tenho feito ótimos amigos que mesmo de longe sei que os corações batem em sintonia. Um salve a todos os outsiders, pensadores, artistas, lutadores, almas livres e a toda resistência! Seja o que você quiser.
Submundo do Som - E pra quem quiser acompanhar o Siloque, trocar uma ideia, mandar um salve ou uma critica, saber mais sobre as novidades, quais os canais de comunicação?
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Vc é Zica mano !!
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