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Garotos Podres e as Canções de Resistência

Jeff Ferreira
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No dia 26 de abril de 2018 a banda Garotos Podres lançou o EP Canções da Resistência, com apenas duas faixas "Grândola (Vila Morena)" e "Aos Fuzilados da CSN", esse álbum foi disponibilizado para download a partir das 0h20.

Aqui a própria banda explica o por que da data e do horário escolhidos, além de do porque das músicas escolhidas, se liga:

Sem saber da trama que se desenrolava, o locutor do programa “Limite” da Rádio Renascença (Lisboa) irradiava tranquilamente os anúncios publicitários. Entretanto, na “técnica” do estúdio, um homem da equipe se mostrava extremamente impaciente. Seu nome era Manuel Tomás, e tinha uma missão: transmitir a música “Grândola Vila Morena” entre 00:20 e 00:22 hs do dia 25 de Abril de 1974.

Exatamente às 00:20 minutos, Manuel Tomás dá um pequeno safanão nas mãos do técnico de estúdio, com o intuito de provocar o arranque da bobina de uma gravação feita por outro locutor, Leite de Vasconcelos, que declamou a primeira quadra da canção “Grândola, Vila Morena”. Ato contínuo, foi irradiada esta canção, onde se ouviu a inconfundível voz de Zeca Afonso.

Sintonizados na Rádio Renascença, centenas de insurgentes espalhados por diversos pontos de Portugal aguardavam a irradiação desta música. Já estavam todos em prontidão. A primeira senha já havia sido irradiada através da rádio Emissores Associadas de Lisboa, através da música “E Depois do Adeus”, de Paulo de Carvalho, às 22:55 do dia 24 de abril.

“Grândola, Vila Morena” foi ao ar pela rádio Renascença às 00:20 hs do dia 25 de Abril de 1974. Ela foi escolhida com a “segunda senha”. A “senha” que colocou em marcha a Revolução dos Cravos , que pôs fim à 48 anos de Ditadura Salazarista, a mais longa “noite fascista” da Europa.

Grandola, Vila Morena: origem da música


Em 17 de maio de 1964, Zeca Afonso foi convidado para as festividades do 52º Aniversário da Coletividade Musical Fraternidade Operária Grandolense (SMFOG), na Vila de Grandola, Distrito de Setúbal. Impressionado com o ambiente fraterno e solidário dos trabalhadores desta sociedade, Zeca Afonso os descreveu através dos versos de “Grândola, Vila Morena”.

Mais tarde esta canção foi gravada na França no final de 1971, e incluída como a quinta faixa do álbum “Cantigas do Maio”, que estreou em Santiago de Compostela (capital da Galiza) em 10 de maio de 1972.

Proscrito pela Ditadura Fascista, Zeca Afonso teve várias músicas proibidas pelo regime, sob a acusação de “fazer reverência ao comunismo”. É por este motivo que a liderança revolucionária escolheu “Grândola, Vila Morena” como a senha que marcaria o início da Revolução. Para que não pairasse nenhuma dúvida de que a Revolução realmente estava em marcha.

“Grandola, Vila Morena” e o Brasil

Em 1974 o Brasil vivia um dos períodos mais nefastos de sua história: a Ditadura Militar. A fúria assassina dos órgãos de repressão se abatia sobre todo aquele que ousasse defender a emancipação dos trabalhadores e/ou a democracia. Como nos tempos da Alemanha nazista, milhares de brasileiros foram torturados ou abatidos nos Centros de Tortura instalados em diversas Instalações Militares do país.

A queda da Ditadura Fascista em Portugal trouxe aos brasileiros a solidária alegria. Para muitos, a Revolução dos Cravos – mesmo que ocorrida do outro lado do oceano – era como uma fresta de luz para aqueles que viviam na mais completa escuridão das masmorras.

Estes ventos que sopravam de Portugal trouxe a muitos brasileiros os sonhos de fraterna esperança. Sob a sua influência, alguns artistas brasileiros responderam aos apelos que vinham de além mar. Em homenagem à Revolução dos Cravos, Chico Buarque gravou “Tanto Mar”. Nara Leão gravou uma versão de “Grândola, Vila Morena”, ainda em 1974, lançada no compacto “A Senha do Novo Portugal” (lançado em Portugal, mas inédito no Brasil).

Em 1986 a banda paulistana 365 gravou uma primorosa versão de “Grândola, Vila Morena” na compilação “Não São Paulo – II” (Baratos Afins, 1986), e no álbum de estréia (365, Continental, 1987).

A Democracia no Brasil sempre foi o interstício entre uma e outra Ditadura. O Golpe Fascista de 2016 inegavelmente marca uma nova ruptura no processo democrático no Brasil. Desta forma, nós dos Garotos Podres, engajados no processo de Resistência, fizemos esta modesta versão de “Grândola, Vila Morena”. Gravamos esta música porque acreditamos que ela continua a ser a senha de luta de todos aqueles que tem sede de justiça. “Grandola Vila Morena” é muito mais do que uma música portuguesa. Ao simbolizar os perenes e universais valores daqueles que lutam por uma sociedade fraterna, solidária, igualitária e democrática, “Grandola, Vila Morena” é uma música universal:

Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
O povo é quem mais ordena
Dentro de ti, ó cidade
Dentro de ti, ó cidade
O povo é quem mais ordena
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada esquina, um amigo
Em cada rosto, igualdade
Grândola, vila morena
Terra da fraternidade
Terra da fraternidade
Grândola, vila morena
Em cada rosto, igualdade
O povo é quem mais ordena
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade
Jurei ter por companheira
Grândola, a tua vontade
Grândola a tua vontade
Jurei ter por companheira
À sombra duma azinheira
Que já não sabia a idade

Aos Fuzilados da CSN

Desde o dia 07 de novembro de 1988 os operários da Companhia Siderúrgica Nacional – CSN – estavam em greve. As principais reivindicações dos trabalhadores era a readmissão dos trabalhadores demitidos por perseguição política, melhores condições de trabalho e reajuste salarial.

No dia 09 de novembro de 1988 os facínoras criminosos dos órgãos de repressão (Exército e Polícia Militar) invadiram a Usina em Volta Redonda – RJ e massacraram os operários. Dezenas de operários foram feridos e três mártires tombaram diante da fúria assassina do aparato repressivo. Os nomes dos que tombaram:

Carlos Augusto Barroso, 19 anos, morto por esmagamento de crânio.
William Fernandes Leite, 22 anos, morto com um tiro no pescoço.
Valmir Freitas Monteiro, 27 anos, morto com um tiro pelas costas.

Eram tempos de “Transição Democrática” da “Nova República” do Zé Sarney. Estes acontecimentos revelam o caráter autoritário e repressivo da sociedade brasileira mesmo nos períodos de aparente “normalidade democrática”. Esta tragédia revela os limites da assim chamada “Democracia Burguesa”. Diante do secular massacre contra os trabalhadores, entendemos que a luta pela democracia não pode estar dissociada da luta pela emancipação de todos os oprimidos, e pela construção do Poder Popular.

Esta música foi originalmente gravada em 1992 e lançada em 1993 como a 9º faixa do álbum “Canções Para Ninar” dos Garotos Podres (Radical Records/1993). Regravamos esta música pois julgamos que – mesmo depois de 25 anos – ela, infelizmente, continua atual.

Na época dos acontecimentos, Mao e alguns amigos de faculdade compuseram uma letra que, foi musicada em um velho violão quebrado do Centro Acadêmico da FATEC-SP (que tinha somente 4 cordas).

Esta canção é uma reverência não apenas à estes três camaradas, mas à todos os mártires da Classe Operária.

"Aos que habitam
Cortiços e favelas
e mesmo que acordados
pelas sirenes das fábricas
não deixam de sonhar
de ter esperanças
pois o futuro
vos pertence
Pois o futuro vos pertence! (coro)
Pois o futuro vos pertence! (coro)
Aos que carregam rosas
Sem temer machucar as mãos
pois seu sangue não é azul
nem verde do Dólar
mas vermelho
da fúria amordaçada
de um grito de liberdade
preso na garganta
Fuzilados da CSN
assassinados no campo
torturados no DEOPS
espancados na greve
A cada passo desta marcha
Camponeses e operários
tombam homens fuzilados
Mas por mais rosas que os poderosos matem
nunca conseguirão deter
a Primavera!
Pois o futuro vos pertence! (coro)
Pois o futuro vos pertence! (coro)
Dedicamos esta música à memória de:
Carlos Augusto Barroso
William Fernandes Leite
Valmir Freitas Monteiro"

Curtiu a história desse EP, e das faixas que o compõe? siga a banda Garotos Podres nas redes sociais e absorva suas letras, pois são lições de vida e resistência em forma de canção! Valeu!!!

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