Salve! O Submundo do Som trocou uma ideia com a banda Asfixia Social que traz uma mistura muita loka de punk rock, reggae, metal, rap, dub, funk, jazz e hardcore e se preparam para lançar o seu terceiro álbum "Sistema de Soma: A Quebrada Constrói", falamos sobre esse projeto, sobre o documentário "O Sepulcro do Gato Preto" e o tour da banda pelo território cubano, o que originou o DVD Cuba Punk. Conversamos sobre algumas questões sociais e os manos mandaram um papo reto que você confere aí:
Submundo do Som - Quem é a banda Asfixia Social? Qual a trajetória dos manos até aqui? Se apresentem ai pra galera
Asfixia Social - Salve! O Asfixia Social é uma banda do ABC/Zona
Sul de São Paulo, formada por Kaneda Mukhtar (voz/metais), Rafael Santos
(guitarra/voz), Leonardo Oliveira (baixo/voz) e Rodrigo Silva (bateria). A
gente se juntou há 11 anos atrás pra fazer um som que expressasse nossas ideias
sobre questões sociais, culturais e políticas, assim como nossas influências
musicais numa mistura de tudo aquilo que ouvíamos e coisas que fomos
adicionando ao nosso Sistema de Soma! Isso é o Asfixia Social!
Submundo do Som - O Nome Asfixia Social, de onde veio?
Asfixia Social - No dia 12 de junho de 2000, Sandro do Nascimento e Geísa Firmo Gonçalves
foram mortos na situação de sequestro do ônibus 174. Ela, professora,
passageira, levou um tiro. Sandro, sequestrador, sobrevivente do Massacre da
Candelária (1993), foi asfixiado no camburão. Essa palavra (“asfixia”) ficou
marcada, e desses fatos e dos problemas que cada integrante vivia na época,
fazendo uma leitura das nossas quebradas, surgiu a expressão “Asfixia Social”.
Submundo do Som - Quais são as influências da banda? De que fonte vocês bebem e o que da vivência de vocês a banda coloca no som?
Asfixia Social - Influências: KRS One, Nação Zumbi, Motorhead, Luiz Gonzaga, The Clash,
Elza Soares, Ratos de Porão, Bnegão & Seletores de Frequência, Black
Sabbath, Clara Nunes, Dead Kennedys, Garotos Podres, Chico Buarque, Cólera,
Elomar Figueira Mello, Suicidal Tendencies, Lenine, Nomadic Massive, MV Bill,
GOG. #rapfunkdubcoreskajazzpunkraggaemetal Tocamos tudo que gostamos de tocar e
cantamos as ideias que acreditamos fazer bem pras pessoas que vivem ao nosso
redor.
Submundo do Som -
O estilo da banda é o crossover entre o rock, rap, ska, hardcore né?
Como é trabalhar nesse caldeirão musical?
Submundo do Som - E a turnê por Cuba, como foi o rolê por lá? Como surgiu a
oportunidade de ir pra lá e o que vocês trouxeram na bagagem pra somar com o
som do Asfixia Social?
Asfixia Social - Foi foda! Tínhamos ido pra lá com um grupo de teatro (XPTO) em 2014, e
deixamos nosso som por onde passamos. A galera curtiu e surgiu a oportunidade
de voltar em 2015 pra fazer uma turnê, tocando num dos lugares mais importantes
de lá (Fabrica de Arte Cubano, em Havana). Emendamos uma turnê de dez shows em
outras cidades, como Trinidad e Sancti Spiritus, passando por lugares
totalmente inusitados. Na bagagem, trouxemos a vivência de um país de terceiro
mundo muito bem resolvido com relação a sua identidade cultural, que consegue
driblar os problemas sociais sem apelar pra violência. O registro da tour tá no
DVD Cuba Punk – Asfixia Social: https:
Submundo do Som - Cuba é um caso a parte, e que divide opiniões. Qual a opinião dos cubanos do movimento punk em relação ao governo cubano? Vocês trocaram ideias sobre isso ou perceberam algum posicionamento contrário ou favorável?
Asfixia Social - O pessoal do rock em geral, em Cuba, é uma “minoria da minoria”. Todos
praticamente se conhecem, existem algumas tretas e divergências como aqui e
inclusive com relação à política. Mas a maioria luta pra ter instrumentos
minimamente tocáveis, criam seus próprios pedais, arrumam suas caixas de som,
ensaiam em lugares improvisados, e principalmente têm vontade de protestar
contra um governo que disponibiliza direitos sociais mas não deixa de ser uma
ditadura, limitando a relação do cubano com o resto do mundo. Isso é o que mais
amarga as opiniões dos cubanos com relação à Revolução e o que faz com que eles
não tenham muita clareza do que é a realidade em outros países.
Submundo do Som - Em relação a estrutura da ilha? Os brasileiros também têm opiniões
divididas, de um lado romantismo da revolução de Fidel, e de outro o destrato
que as elites têm, subjugando o pais. A verdade é que os brasileiros não
conhecem fisicamente Cuba, mas o que vocês viram lá que vale a pena
ser compartilhado e que nos ajuda a ter uma visão mais profunda quanto a
estrutura cubana?
Asfixia Social - Primeiro a gente tem que analisar que Cuba, antes da revolução, era um
país subjulgado aos interesses dos Estados Unidos (praticamente um casino e um
puteiro à serviço dos EUA), desigual, com forte repressão a quem se opusesse à
Fulgencio Batista, e a luta travada pela revolução de Fidel e Guevara garantiu
pouco a pouco acesso à direitos sociais básicos para todos. Na nossa visão esse
é o lado positivo, as conquistas sociais que fazem do cubano um povo altamente
educado, culto e satisfeito pessoalmente. Porém, desestabilizado pelo embargo
econômico, pela corrupção e uma elite que usou a revolução como forma de se
estabelecer ainda mais intocável, a insatisfação do povo cubano é nítida e
crescente à medida que o poder econômico do cidadão é baixo, o acesso ao
mercado de consumo e informação é praticamente controlado pelo Estado e as
pessoas não conhecem a realidade do mundo. O mais curioso disso tudo é observar
a ausência de violência no país, que nos leva a crer que a garantia de direitos
básicos – como educação, saúde, cultura – eleva a sociedade a um estado
civilizatório mais próximo do desejável. É muito diferente de todo o resto da
América Latina e, se podemos chamar a atenção pra algo, é isso.
Submundo do Som -
São 10 anos desde o "A Guerra Tá Na Sua Porta, Não Só Em
Bagdá", de 2008, para o "Sistema de Soma: A Quebrada
Constrói" que será lançado em 2018, com o "Da Rua Pra Rua" entre
um e outro, o que vocês acham que mudou, se é que mudou, nesses 10 anos na
carreira e musicalidade do Asfixia Social?
Asfixia Social - Em uma década acontece muita coisa, sobretudo quando você é jovem.
Pessoalmente, a gente passou por fases difíceis e soubemos sair bem delas,
inclusive nos fortalecendo como grupo e amadurecendo nossa forma de expressão.
Esses três discos retratam nossa vivência, em uma sociedade que infelizmente
não avançou muito pra solucionar problemas existentes 10 anos atrás.
Submundo do Som -
Como foi lançar em vinil o disco "Da Rua para Rua"? A
banda é amante das bolachas? Pretender fazer mais álbuns nesse formato? O
lançamento foi na Alemanha mano?
Asfixia Social - Ter um álbum prensado é uma grande satisfação, em CD, vinil, em vídeo. O
vinil porém tem o apelo visual do encarte, por ser maior e valorizar a arte
gráfica. Lançar o “Da Rua pra Rua” em vinil na Alemanha trouxe um certo
prestígio pro álbum, mas pensamos nos novos discos em novos formatos, assim
como em novos territórios.
Submundo do Som -
E como foi trabalhar com dois monstros da nossa música, o BNegão e
Os Seletores de Frequência e o Z'África Brasil?
Bnegão e os caras do Z'África se tornaram amigos, pelos quais temos
muito respeito. Já tivemos outras oportunidades de trabalhar juntos em outras
áreas, e trazê-los pro disco “Da Rua pra Rua” foi bastante gratificante e
verdadeiro das partes. Tem tudo a ver com o som!
Submundo do Som - Conta um pouco do filme "Sepulcro do Gato Preto" e da
ligação desse projeto com o Asfixia Social.
Asfixia Social - Fomos tocar em Perus, em 2012, uma quebrada na zona noroeste de São
Paulo. Antes do show, tiramos umas fotos na fábrica de Cimento Perus, ali perto
do centro cultural Quilombaque. Posteriormente passamos a conhecer a história
da greve de 7 anos que foi travada na fábrica, e assim surgiu o filme “O Sepulcro
do Gato Preto”, que retrata nossa ida à Perus e ao bairro de Gato Preto, em
Cajamar, contando a história de descaso com o Patrimônio Histórico e Cultural
da região e o despejo de muita gente de suas casas, num crime contra famílias
ali estabelecidas há décadas e que escancara o quanto o dinheiro no Brasil
atropela e compra agentes e legisladores. Assistam ao filme:
Submundo do Som -
Na música "Matar os Ka$$abs", de
2012, o último ano do governo de Gilberto Kassab na prefeitura da cidade
de São Paulo, retrata os anos do então prefeito na administração pública e
faz um apelo para que o mesmo não volte, ou que ninguém da laia dele. Aqui vão
as perguntas, o fato de citar o nome trouxe algum tipo de problema para a
banda? Com a saída dele, ficou mais fácil para o Asfixia Social
trabalhar em sampa?
Asfixia Social - Não trouxe problemas pra banda. Infelizmente, inclusive, as redes sociais
censuraram a música praticamente em todas as publicações. Mas fazemos questão
de relembrar que Gilberto Kassab foi presidente do Conselho Regional dos
Corretores de Imóveis e entrou na prefeitura pra defender interesses muito
específicos relacionados ao setor imobiliário, interesses que não convergem com
os anseios da maior parte da população. Esperamos que o povo fique atento a
esse tipo de político lobista e patrocinado por grandes corporações.
Submundo do Som -
As letras da banda são carregadas de lutas e criticas sociais, o
que faz o som do Asfixia Social um som politico. E falando de politica, qual a
visão do grupo com o cenário caótico e polarizado que estamos vivendo no
Brasil?
Asfixia Social - Política vem antes de tudo. Política é o dia-a-dia de todo mundo. O
simples fato de ter uma banda e poder se expressar, denota que a política
vigente foi uma conquista dos que vieram antes de nós. Em outros tempos isso
não era possível. O embate contra quem quer regresso é necessário, e precisamos
refletir com cuidado e estudar a história pra que direitos que foram conquistas
a duras penas não sejam jogados na lata de lixo. A polarização baseada num
jornalismo oportunista e irresponsável não é interessante, pois não estão sendo
discutidos projetos de Estado, e sim simpatias e antipatias ideológicas.
Precisamos discutir políticas públicas, e a partir dessas discussões sérias,
pensar nos próximos passos.
Submundo do Som -
Quais são as armas para combater o fascismo e o racismo que vem em
grande ascensão em nosso pais?
Asfixia Social - Informação. Informação de boa procedência e o hábito de revisitar a história,
de ter um pouco mais de filtro e senso crítico pra saber quem está por trás de
tanta informação na atualidade. Quais os interesses de quem está por trás das
informações difundidas?
Submundo do Som -
Cara, vou dar uma missão para banda: O que vocês indicam de
bandas (de ska, hardcore, hip hop do Brasil), tanto os já consagrados na
cena underground como as novidades que estão surgindo? E também indicações da
cena cubana para que possamos ampliar nossos horizontes musicais.
Asfixia Social - Em Cuba, escutamos bastante os amigos do La Invaxión al Occidente (rap)
e Arrabio (hardcore). Aqui no Brasil, acho justo conhecerem as bandas que se
apresentam com a gente nos shows, principalmente no Festival Da Rua pra Rua
(tem uma lista em www.daruaprarua.com.br)
e em projetos como a Frente dos Artistas pela Luta em Movimentos Sociais –
FALEMOS. Tem muita banda boa em atividade!
Submundo do Som -
Quais os sonhos que o Asfixia Social ainda deseja realizar?
Asfixia Social - Apresentar nosso novo Livro-Disco “Sistema de Soma” para o maior número
de pessoas. Isso é importante! Quem estiver afim de pensar e sonhar isso com a
gente, chega junto!
Submundo do Som -
Qual a mensagem que a banda deixa para as minas e manos
que estão acompanhando essa troca de ideia?
Asfixia Social - Nosso prazer em fazer um som é ver a família cada vez maior, cada vez
mais consciente, tendo a oportunidade de conhecer e apresentar gente nova nesse
ambiente, propor discussões, ideias, e principalmente em ver essas ideias se
propagando por meio da arte original do nosso lugar! As injustiças existem
porque nossa voz e ação não são suficientes sozinhos! Se quiser fortalecer com
a gente, seja bem-vindo! Somos gratos!
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