O Furto, é uma banda que
se você não conhece ta vacilando! O F.UR.T.O. é um projeto de Marcelo
Yuka, ele mesmo, o cara que deu identidade a O Rappa, ex-baterista e
ex-letrista da banda carioca. Yuka põem no F.UR.T.O. todo seu sentimento
e poesia, num trabalho belíssimo de muita melodia e com aquela coisa de
questão social característica do Marcelo.
Apesar
de apenas um disco, o Sangueaudiência de 2005, lançado pela Sony BMG, a
banda é referência pela qualidade do som e letra que a obra carrega. A
sigla F.UR.T.O. prova a que questão social está no nome da banda: Frente
Urbana de Trabalhos Organizados, bandeira que que Marcelo Yuka defendia
desde O Rappa, é possível ver Falcão com a camiseta do O F.UR.T.O no
clipe da música Me Deixa.
O
disco é carregado de participações especiais também, como a do parceiro
carioca de longa data B.Negão (Planet Hemp, The Funk Fuckers, Turbo
Trio, e Seletores de Frequência) na faixa “Gente de Lá”, tem também
presença internacional com o parisiense Manu Chao em “Todos de Baixo do
Mesmo Sombreiro”, a conhecidíssima e queridíssima da MPB Marisa Monte
deixa seu dom na canção “Desterro”. A música “Verbos a flor da Pele” é
uma linda poesia em homenagem ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra, onde teve participação de um dos integrantes o João Pedro
Stédile.
Sangueaudiência
começa com a faixa Terrorismo Cultural: “um atentado, contra golpe
contra tudo que já se foi falado, jurado, esperado e prometido como
solução”, iniciando numa pegada rock n roll, beirando a psicodélica
porém sem as cordas. A próxima canção é Ego City: “Comprando de quase
tudo, do orgulho à cocaína, de dólares a meninas. Passando em frente à
réplica da Estátua da Liberdade, que nos prende ao consumo siliconizado e
farpado urgente que diz bem-vindo a Ego City”. Amém Calibre 12 é
porrada nos ouvidos: “Porque só bandido pobre morre cedo, só bandido
pobre morre cedo e nunca é tão cedo pra morrer pobre só, mas é tarde
demais para explicar”. Já Mental Combate se apresenta em tom mais
moderado, mas de igual crítica social: “Nós intimidados somos as ruas
que choraram na maior favela do Brasil, onde o soro caseiro é um abraço
de mãe”. Manu Chao entra em cena na faixa Todos de Baixa do mesmo
Sombreiro, cantando em espanhol, a música denuncia as ditaduras
militares e lembra da lenda de Che Guevara: “Do AI 5 ao 11 de Setembro
chileno, do Sendero Luminoso, aos filhos encapuzados de Sandino, depois
de tantos planos tramados...”
Flores
nas Encostas do Cimento, é uma baita poesia musica pelo O F.UR.TO, em
um lirismo sem igual que fala sobre clarear tormentos: “Antes que o
samba vire só um ruído de fundo, eu vou tocar mais alto para ouvir meu
coração, porque não existe enredo do inferno que me tire a emoção”. Em
seguida Cidades, canção que lembra o Hip Hop fala: “Quando a arte se
torna maior que a criação, muitos a chamam de obra. Quando a obra se
torna maior que o homem, ela se chama cidade. B.Negão vem reforçar a
poesia de Yuka em Gente de Lá, música que inicia com dialogo real de
traficantes, com áudio captado através de rádio amador nos morros do Rio
de Janeiro: “...Comemorei na rua um título com alguém que só tinha a
mesma camisa que eu. Contei minha vida pro cara da cerveja ao lado e no
sábado encontrei alguém que me conhecia muito bem, mas eu não sabia o
nome de quem. Mas há um cheiro de pneu queimado no ar...”
Coisas
Tão Simples é a próxima música do disco, e essa narra um estereótipo
pesado do local, melodia lindíssima: “Mães de leite lutando para
alimentar a sua crença, como páginas de um livro xerocado à força, mas
quando o básico do mundo fica raro é que vemos melhor nossas paixões”.
Paradoxo, outra canção forte, tanto em letra como na musicalidade, que
fala dos paradoxos da vida, principalmente do lado mais desfavorecido:
“Olhos negros de olhar azul ao lado dela
Mãe demais para ser jovem
Mãe demais para ser jovem
No país do paradoxo o ilegal
Transmitido ainda não é cultural
Pois a maioria de nós como povo
Ainda possui poucas virtudes para o mal
Transmitido ainda não é cultural
Pois a maioria de nós como povo
Ainda possui poucas virtudes para o mal
Pois a maioria de nós como povo
Ainda possui poucas virtudes para o mal
Ainda possui poucas virtudes para o mal
Eu sou um misto de ossadas indigentes
Ao lado do cadáver de Tim Lopes
Com fliperama violento de boteco
Informação para desviciar os olhos
Ao lado do cadáver de Tim Lopes
Com fliperama violento de boteco
Informação para desviciar os olhos
Versus a verdade como um bem caro demais
Narco-deputados e um religioso ex-viciado
Equações de um desastre previsível”
Narco-deputados e um religioso ex-viciado
Equações de um desastre previsível”
A
faixa Caio para Dentro de Mim, mostra os fantasmas de Yuka, em relação
ao seu “acidente”, quando o músico, ainda no papel de baterista do O
Rappa foi baleado, durante um assalto, o que o deixa paraplégico: “...Só
aos poucos me traz a minha lucidez, passado o tempo do baque. Superar,
me religar com voz que vem de dentro e grita, que depois de tanto tempo,
sangue, sirenes, quartos surdos enfim todas as transformações e é ela
que cresce pra eu continuar a ser quem sou que o filme da vida passou e
eu fiquei pra ver o fim...”. Sombra Liquida é a faixa que mais gosto,
sou suspeito pra falar dela, por isso... Vamos pular esse poema, e lê-lo
na integra no final desse artigo!
Marissa
Monte aparece para agraciar a música Desterro, que fala em âmbito
internacional das diferenças sociais: “Turcos na Alemanha. Um Palestino
servindo café em Israel. Afro-asiáticos nas ruas de Seatle. E mesmo
assim ainda é difícil Vê um beijo multiracial em Hollywood...O mundo
migra e dá de cara com fronteiras, as chaves são as mesmas...”. A Canção
Não se Preocupe Comigo, é a mais swingada do álbum, é faixa mais rock
n’ roll, não em atitute, mas em estilo musical propriamente dito: “O sal
da lágrima fica no gosto que é o costume da língua... em duas falas
diferentes. Mães de Acari na praça de Maio e outras tantas por
ai...Entre o conflito e a indecisão...entre o conflito e a
indecisão...”.
O
emblemático álbum, e um dos melhores da música e poesia brasileira, sem
exagero nenhum, chega ao fim com a música Verbos a Flor da Pele, que
homenageia o MST e traz participação de um dos integrantes do movimento
que discurta no final da faixa, fechando assim o disco, a música
belíssima que diz: “Latifundiário escravagista ou os dois ao mesmo
tempo, de norte a sul como pragas, alastrando a fome que acampa em
quilombos ambulantes”.
A
banda de Yuka é formada pelo próprio maluco que além das letras, foi
responsável pelos samplers, percussão eletrônica, baixo sintetizado e
programação de bateria, e vocal toca sua bateria eletrônica, do recife
veio o conhecido Garnizé (Faces do Subúrbio), na bateria e percussão, e o
Jam da Silva na percussão (Orquestra Santa Massa do Dj Dolores). O
vocal ficou por conta de Mauricio Pacheco, que também vez guitarra e
teclados em Sangueaudiência. Antes de O F.UR.TO, Mauricio Pacheco era
membro da banda Mulheres Q Dizem Sim, de samba rock, e foi fundador do
Stereo Maracanã.
E como prometido, vamos ver a poesia de Sombra Liquida:
O suor das costas que se apresenta
Como poesia trêmula de pai pra filho
E quando meu esforço quase não me convence
Como poesia trêmula de pai pra filho
E quando meu esforço quase não me convence
Privatizando a corrente sanguínea
E ela me persegue mais rápida
Que o nosso entendimento
E ela me persegue mais rápida
Que o nosso entendimento
Tão lenta quanto nosso perdão
Visto de cima, meu bairro é torto e glorioso
E se parece com o que nos transformamos em nossa fuga
Visto de cima, meu bairro é torto e glorioso
E se parece com o que nos transformamos em nossa fuga
Porque a sombra líquida, se te ganha
Te escurece os olhos, faz a honestidade vulnerável
E aí fica fácil nos tornar quem odiamos
Te escurece os olhos, faz a honestidade vulnerável
E aí fica fácil nos tornar quem odiamos
Sob o céu vermelho das traçantes
O mesmo passado que nos caça nos salvou
E pouco antes do meu futuro enfatizar em convulsão
O mesmo passado que nos caça nos salvou
E pouco antes do meu futuro enfatizar em convulsão
Eu entendi que caminhar para o fim do túnel
É ouvir um silêncio sem permissão
Essa é minha busca e minha intenção
É ouvir um silêncio sem permissão
Essa é minha busca e minha intenção
Porque lá em casa
Mesmo quando não tinha trabalho
Só tinha trabalhador
Mesmo quando não tinha trabalho
Só tinha trabalhador
Dados Técnicos do Sangueaudiência:
Gravadora: Sony BMG
Produção: Chico Neves • Marcelo Yuka • Maurício Pacheco
Projeto Gráfico: Não Consta
Duração: 74 min
Gênero: Rock
Idioma: Português
Produção: Chico Neves • Marcelo Yuka • Maurício Pacheco
Projeto Gráfico: Não Consta
Duração: 74 min
Gênero: Rock
Idioma: Português
01 Terrorismo Cultural (Marcelo Yuka) 4:44
02 Ego City (Marcelo Yuka) 4:38
03 Amém Calibre 12 (Marcelo Yuka) 4:28
04 Mental Combate (Marcelo Yuka) 5:36
05 Todos Debaixo do Mesmo Sombrero (Marcelo Yuka) 5:21
06 Flores Nas Encostas de Cimento (Marcelo Yuka) 5:06
07 Cidades (Marcelo Yuka) 5:27
08 Gente de Lá (Marcelo Yuka) 4:54
09 Coisas Tão Simples (Marcelo Yuka) 4:08
10 Paradoxo (Marcelo Yuka) 4:17
11 Caio Pra Dentro de Mim (Marcelo Yuka) 4:33
12 Sombra Líquida (Marcelo Yuka) 4:54
13 Desterro (Marcelo Yuka) 4:36
14 Não Se Preocupe Comigo (Marcelo Yuka) 4:44
15 Verbos À Flor da Pele (Marcelo Yuka) 7:32
02 Ego City (Marcelo Yuka) 4:38
03 Amém Calibre 12 (Marcelo Yuka) 4:28
04 Mental Combate (Marcelo Yuka) 5:36
05 Todos Debaixo do Mesmo Sombrero (Marcelo Yuka) 5:21
06 Flores Nas Encostas de Cimento (Marcelo Yuka) 5:06
07 Cidades (Marcelo Yuka) 5:27
08 Gente de Lá (Marcelo Yuka) 4:54
09 Coisas Tão Simples (Marcelo Yuka) 4:08
10 Paradoxo (Marcelo Yuka) 4:17
11 Caio Pra Dentro de Mim (Marcelo Yuka) 4:33
12 Sombra Líquida (Marcelo Yuka) 4:54
13 Desterro (Marcelo Yuka) 4:36
14 Não Se Preocupe Comigo (Marcelo Yuka) 4:44
15 Verbos À Flor da Pele (Marcelo Yuka) 7:32
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