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Synestesia canta a V.I.D.A. em belíssimo EP

Jeff Ferreira
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O ano de 2018 já chegou com novidades logo no primeiro dia, o grupo de Jaguariúna, interior de São Paulo, lançou nas plataformas digitais o seu primeiro EP intitulado V.I.D.A. (Viagem Instável Doce e Amarga).

O grupo formado por Beiço, Leozera e Anauê chega com o registro de oito faixas e bate pesado em temas do cotidiano como as conquistas, desavenças, a hipocrisia reinante na sociedade atual, as neuras do dia a dia e a busca incessante por paz.

O disco abre com a faixa “Motivo” que versa sobre a vida, os aprendizados nos tropeços, a importância de ter fé e seguir na correria ao lado das amizades verdadeiras. A faixa contém sample de Racionais MC’s com Vida Loka parte 1:

“Vida me dá / força para aprender/ força para me manter em pé obrigado família e aliados / vamos seguindo sempre na fé”

A segunda música é “Neuras”, que chega com um piano marcante num beat envolvente, nessa faixa que fala sobre os demônios internos e cruzes que cada indivíduo carrega, e as pessoas ao redor não entendem e preferem julgar, tendo como plano de fundo o enredo de um mano com problemas com o alcoolismo:

“Nem dá dois passos e já se cansa / põe de lado seus projetos do passado / nada se alcança / enquanto isso ele descansa / no banco da praça / livre de cobrança, já viu tanta farsa / mas hoje ele veio desinfetar a carcaça / fumaça faça feito febre que não passa / desgraça, sem graça / igual brasa / arde quando desce a cachaça”

Na track 3 o grupo chega com “Desavença”, que se inicia com uma sirene que alerta que vem pedrada aí, a linha do baixo ajuda a deixar o clima tenso, em seguida uma guitarra rouba a cena e joga um underground de peso para o ouvinte, depois do refrão há uma virada de beat, deixando a música com um clima mais gangsta, enquanto a letra pede pra tomar cuidado com os falsos aliados e as armadilhas que essa vida nos impõe:

“Por que as vezes para te levar até o topo, o fundo do poço quantas vezes você tentou, e no fim nada mudou, ou ganhou na parcela, vai estilo cobra cega, 600 no nike só para ir pra festa, pra atiçar as tiriça que só olham pro cifrão, se pá nem inspira, só respira ambição”


Videoclipe da faixa Desavença

A faixa seguinte é “Verdade” num boombap “sujo”, estilo os grandes clássicos dos anos 90 do rap nacional, com sample dos Racionais, de Capitulo 4 Versículo 3, a letra fala da realidade muitos que buscam status e se esquecem de coisa simples da vida:

“Pode juntar no mundo todo, os tênis mais loko / das vitrines mais pika / jamais vão valer mais que o pé sujo do pivete descalço / que na rua dribla e trinca / hoje a beira do abismo vejo vários alinhados / e os vejo quando olho para os lados”

Hipocrisia” é a música cinco, aqui o Synestesia chega num trap, mostrando a sintoniza do grupo com as tendências do rap mundial. A letra fala do julgamento que a sociedade faz aos políticos corruptos, e com razão, mas que se comportam de maneira igual ao permitir a corrupção e atos menores, mas que não deixam de ser errado. A mensagem da track é que se queremos um Brasil justo temos que fazer a nossa parte também:

“Mas pera aí! Nos preparamos também /é fácil não aceitar propina enquanto ninguém propõe / a pressão do jogo e a oportunidade, podem dar fim aos seus princípios / depois do começo não tem mais volta, então não se jogue no precipício / a maioria se apoia em contradições e brechas / embriagues ao volante/ no radar desacelera / aluno cola na prova / Achado que não foi roubado / o erro inaceitável, que foi passado um pano”

Seguindo tem a música “Paz”, que já começa com o sample do RZO, Paz Interior, e fala sobre a inversão de valores da sociedade moderna que segue na corrida desenfreada por fama e grana e que perde valores fundamentais intrínsecos ás família:

“É isso mesmo patrício / o mundão tá loko, e o que eu e você tem a ver com isso? / Isso é o abandono de um ente querido, / que por grana se perde por xana, na balança morre, / corre pra não ficar com a cara esticada, perigo em Bangkok, / headshot, pow! Toma por que quer ser o que não é /camarão que dorme é levado pela maré”

Na penúltima faixa temos um beat puxado para o reggae, no ragga rap “Conquista”, que tem um flow mais cantado, mostrando a diversificação do grupo e trazendo as good vibes dos rastafári para uma faixa gostosa de se ouvir e que prega a paz, citando exemplos pessoais dos MC’s para seguir sem desavença e com fé em Deus:

“Seja racional / se a causa é justa vamos trocar até o final / mas nunca desperdice sua vida ou sua paz por um motivo banal / jamais, jamais, jamais desperdice sua vida ou sua paz por um motivo banal / Quanto mais eu quero mais eu busco / e muito mais eu cresço / independente da corrida / deixa pra lá o desespero”

Fechando o disco vem a canção “Takeiteasy” onde o grupo baixa os BPM em um song love, numa pegada de jazz suave, com derramar do drink nas taças, ajudando a criar o clima da noite em Jaguariúna, e a dificuldade de arrumar uma boa companhia para morar no coração de um bom malandro:

“Quem dera fosse assim com ela, que a loucura e a espontaneidade, eu sou careta e cautela, mas não vou hesitar, atravesso a cidade, só por uma dose de serenidade que só ela traz, e uma gota de inocência num gole de maldade”

O Sysnestesia Rap apresenta um ótimo trampo, concebido e produzido em 2017 e lançado em 2018, o grupo vem com rimas de protesto e denúncia, seguindo os pilares do rap nacional tradicional, porém o grupo faz parte da nova geração de rappers e segue conectado com as tendências de produções, métricas, beats e . Fugindo um pouco da egotrip da cena do RAP BR de 2017, onde muitos MC’s rimavam sobre chegar no topo, ou sobre como é estar lá, o Synestesia veio na contramão numa parada mais introspectiva versando sobre a V.I.D.A que o grupo leva e vê em sua correria, os títulos das letras remetem a preocupação que os rappers, os jovens rappers do grupo, têm com o mundo que os cerca.

Um excelente trabalho de rap vindo de Jaguariúna, a terra da festa do peão, quebrando assim um dos estereótipos do município, de que aqui só rola sertanejo. O álbum foi mixado, masterizado na MilGrauTape Studio e teve sua arte de capa confeccionada por Mário Izzo, Anauê e Beiço. Confere aí:


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