Muito
se fala sobre a cena do rock, que está enfraquecida, que o estilo tá
morto e coisas do tipo, sempre pensei comigo que quem diz essas bobagens
é por não tá ligado, não procura coisas boas pros ouvidos, e provando o
que eu digo da capital paulista vem a banda Dária, que recentemente lançou seu EP Por Nois Memo.
Formada por Marcos André na guitarra, Pedro Victor na bateria, Felipe Amorim no baixo e Guilherme Fahl
nos vocais o grupo vem do Jardim Angela, bairro muito conhecido nos
versos dos Racionais MCs, no extremo sul da zona sul, mas a banda tem um
pé na Bahia, de onde vem 50% dos manos do Daria, mais precisamente da
cidade de Teixeira Freitas.
Dária
é uma daquelas bandas que fazem uma mistura bem loka, jogando num
liquidificador o punk rock, hardcore, ska, rap e o que mais vier na
cabeça, lembrando bandas importantíssimas do rock nacional como
Raimundos, Charlie Brown Jr, Tihuana, De Menos Crime e Planet Hemp, mas
com identidade própria e muita atitude.

O EP de sete faixas começa logo com um som “Sinistro”
que vem numa onda mais pra cima, contratando com a faixa anterior, o
clima aqui é de descontração, numa letra que fala sobre curtição e o
poder que é estar cercado de sangue bom num rolê daqueles:
“Segura a onda / e deixa o povo pular / enquanto pula chega os
“Pula” / eu quero ver no que vai dar / os muleque já ta reunido / sente a fumaça, cheiro do perigo”
Seguindo temos a faixa 2, “Um Brinde”,
que segue com os instrumentais em brasa, pois o ritmo é acelerado,
porém a levada de Guilherme Fahl é mais relex para relatar os valores
invertidos desse brasilsão, ao passo que deseja isolar-se desse caos
curtindo uma brisa no litoral. A música é um paralelo entre as coisas
ruins do Brasil como corrupção e alienação da população, com as coisas
belas do pais, como as odas do mar e brisa suave na cara:
“Agora
é só nós dois / vamos fazer história / que a positividade esteja junto
com os irmão /dia a dia, lado a lado tamo junto na missão / aquelas
horas que vem e os manos fortalecem / levanta a mão pro céu ajoelha e
agradece”
A música três é “Policia”,
os riffs de guitarra, o peso do baixo e paulada da bateria vem como
plano de fundo pra letra que aborda os canalhas de farda, que promovem a
matança nos guetos, em serviço de elites, os policiais que se sentem
reis, pois tem uma arma e aval pra puxar o gatilho:
“No
lugar certo, na hora errada / cotidiano é violento e acontece na
quebrada / são três horas da madruga / na rua comigo as estrelas e a lua
/ não, não eu olhe pra frente estava lá / aqueles pé de breque que eles
só pensam em atrasar / Vai, mão na cabeça / a essas horas na quebrada
eu que sou a realeza / Vixi / Com ódio no olhar / a máquina mortífera
que veio para aniquilar!”
“Viva o Momento”
é a faixa seguinte, que já inicia numa balada punk, daquelas que até as
baratas batem cabeça enquanto o som sai das caixas, e até o momento do
EP a música mais “romântica” do Dária:
“As
fases da vida difícil de controlar / mas é lutando um dia sei que vou
chegar / te levo pro lual se quiser colar comigo / pra outro lugar a
gente dá um sumiço / o mundo dos lokos é assim é intenso / te ganho na
madruga é fazer tudo o que penso”
A quinta faixa é “Progresso”
numa pegada punk rock e vocal acelerado no bom estilo rap com marcantes
viradas de bateria, a letra versa sobre a quebrada e como a visão da
área não é bela, ao passo que a banda deseja o progresso aos que vivem
nessa situação de pânico e calamidade:
“Na
madrugada ouço tiros polícia mata em vão / uma criança chorando e não
vai ter perdão / eu vi um beco e vejo corpos no chão / na madrugada ouço
tiros polícia mata em vão”
Com groove gostoso de se ouvir vem a música “Pra Viajar”,
com um baixo marcante e variações de flow do Guilherme Fahl, a bateria
rouba a cena no refrão enquanto que os ótimos riffs de guitarra cadencia
a faixa, destaque para o solo no final da track), ótimo a vibe:
“Zé
povinho é mato, tamo até saindo fora / sampa é acelerado mas a mente é
mil por hora / é só seguir sua cabeça que te leva em algum lugar / tem
uns maluco na cidade querendo te encontrar / eu vou me achando em cada
esquina uma visão / alguns tropeços no caminho me mostram a direção”
E fechando o disco, o clima é tenso em “Fiquei Doce”,
é rock underground, sujo e gangsta, numa letra inspiradora sobre um
pião na noite em sampa, com todas suas tretas e armadilhas. Uma ótima
canção com riffs de guitarra mil grau e direito a backing vocal no corô:
“Nós somos Dária!”
“O
salve foi mandado quem quiser pode colar / o doce já repartido
preparado pra dropar / foi pra mente subiu, começou a delirar / quem não
aguenta a pressão 1/4 faz viajar / eu sou da rua ta ligado rapá”
Gravado no estúdio Mecanix,
em Butatã, o disco segue como um grito de autoafirmação de jovens
periféricos que trombam com as mazelas promovidas pelo sistema
constantemente. Dária é uma
banda que não se rotula, evidentemente sua base tá no bom e velho rock
n’ roll, rebelde, porém com causa, mas dizer que a banda é assim ou
assado querendo enquadrar o estilo dos malucos em alguma vertente é
perca de tempo, Dária é atitude rock e segue as influências de tudo que gostam, e que consequentemente nós gostamos.
É maneiro ver as influências referências de muita banda boa materializado nos instrumentos e vocal do Dária,
mas como dito no início desse release, Daria é som competente, é
autoral, é uma puta banda com uma puta atitude, e identidade própria,
extremamente eficaz na mensagem e com qualidade decair o queixo. Não
será surpresa se daqui alguns poucos anos ouvirmos a seguinte frase:
“Aquela banda é da hora, faz um som loko, misturado, tipo Dária!”. E
viva o rock n’roll “tipo Dária”!
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