Em 1999 os pernambucanos da banda de hardcore Sheik Tosado, liderada pelo China, lançam o disco Som de Caráter Urbano e de Salão, o
único álbum do grupo. O Sheik Tosado foi criado em 96, e continha
China, na voz, Bruno Ximarú na guitarra, Hugo Carranca, no baixo, Chicão
na bateria, e o Gustavo da Lua e Oroska fazendo a percussão.
O nome Sheik Tosado veio devido a um cachorro, de nome Sheik, que não curtia os dias de tosa. Em 98 a banda tocou no Abril Pro Rock, o que levou a assinarem contrato com a gravadora Trama, que levou a lançarem o disco em 99.
O
nome Som de Caráter Urbano e de Salão é a descrição para o frevo, ritmo
genuinamente pernambucano, no dicionário da língua portuguesa. O álbum é
de punk rock e abre com a faixa “Toda Casa Tem Um Pouco De África” que fala sobre a influência dos escravos provindos da África na cultura pernambucana:
“Tradições desvirtuadas
Samba que sai da bocada
O morro está lotado de orixás
Casa de sangue e suor
As referências raciais
São fotos publicadas em jornais”
Samba que sai da bocada
O morro está lotado de orixás
Casa de sangue e suor
As referências raciais
São fotos publicadas em jornais”
A música seguinte é “Esquenta Barracão”,
numa letra, que apesar de ser hardcore, fala sobre a paixão do samba
verdadeiro, e traz alternação de tons na música, hora mais calma, hora
mais agressiva:
“Suor pelo rosto esquecendo o desgosto
Roda animada e eu quero é sambar
a vida inteira só faço implorar
Só que no samba quem manda sou eu
Abre logo essa roda que eu quero é sambar”
Roda animada e eu quero é sambar
a vida inteira só faço implorar
Só que no samba quem manda sou eu
Abre logo essa roda que eu quero é sambar”

A faixa três é a “La Ursa”
que mescla o punk com o Hip Hop pra falar de um personagem do folclore
de Pernambuco, La Ursa teve origem europeia, com os domadores de ursos,
que faziam com que o animal dançasse para que o dono passasse o chapéu e
ganhasse uma grana. No nordeste, o urso passou a ser uma máscara de
papel machê, e as crianças indo de casa em casa pedindo dinheiro e
cantando:
“Que La Ursa quer dinheiro
e quem não dá é pirangueiro
e quem não dá é pirangueiro
Vamos parar de La Ursa
que eu já tô de saco cheio
saco cheio, saco cheio.”
que eu já tô de saco cheio
saco cheio, saco cheio.”
A música quatro leva o nome da banda, “Sheik Tosado”, que como a própria letra diz, é a mistura de punk rock, hardcore e capoeira da pesada na batida do ganzá:
“Esse é o rock com pandeiro
É o pandeiro envenenado
É o som da nova banda
Esse é o Sheik Tosado”
É o pandeiro envenenado
É o som da nova banda
Esse é o Sheik Tosado”
A faixa seguinte é “Malé” um hardcore que lembra dos escravos, mais precisamente do episódio da revolta dos males:
“Misturaram o seu ódio
o seu medo e sua coragem
invadiram aquele espaço
querendo o deles conquistar”
o seu medo e sua coragem
invadiram aquele espaço
querendo o deles conquistar”
A canção seis é “Hardcore Brasileiro é o Frevo”,
com bateria ritmada, pique escola de samba, e guitarras de fundo que
roubam a cena, a letra que dá nome ao álbum vai na definição do frevo
nos dicionários e mostra que não há distância entre o hardcore e o ritmo
pernambucano, no dicionário e nem na harmonia:
“Som de caráter urbano e de salão
Frevo passando e destroçando a multidão
Frevo passando e destroçando a multidão
Pra quem vem de fora o som é ligeiro
Batuque forte é o hardcore brasileiro.
Batuque forte é o hardcore brasileiro.
Hardcore brasileiro é o FREVO.”
Próxima música é “Repente Envenenado”, som de grande sucesso da banda e que abraça a estética do manguebit, tanto em vídeo clipe como em construção de letra e transmissão da ideia. Chico Science tinha uma treta com Ariano Suassuna,
o qual não aceitava a mistura do maracatu com o rock, pensamento que
era chamado de armorial, e nesse repente envenenado pelas guitarras e
baixo e influência do hip hop, Sheik Tosado compra a briga:
“Se o meu canto é forte dou um eco no país
Brasil swing, sangue por aqui
Conceito armorial
A vida se torna algo experimental
Brasil swing, sangue por aqui
Conceito armorial
A vida se torna algo experimental
Dentro do click e sem sair do tempo
Fazendo batuque, sampleando o que não penso
Palavras vulgares de uma língua chula
Corrupção, contravenção, desfalque, entretenimento”
Fazendo batuque, sampleando o que não penso
Palavras vulgares de uma língua chula
Corrupção, contravenção, desfalque, entretenimento”
Em seguida o instrumental “Baleia”
referência ao personagem canino do romance “Vidas Secas”, de Graciliano
Ramos. A bateria segue no mesmo compasso e do início ao fim, enquanto a
guitarra vem surgindo timidamente até roubar a cena.
A penúltima música é “Vinheta para Jackson” (do Pandeiro), uma homenagem ao paraibano que também fazia suas fusões, mesclando samba com forró:
“Hoje tem pandeiro, tem baque virado
tem Sheik Tosado pra você dançar, mas...
hoje tem pandeiro, tem Sheik Tosado
tem baque virado pra você dançar...
tem Sheik Tosado pra você dançar, mas...
hoje tem pandeiro, tem Sheik Tosado
tem baque virado pra você dançar...
É, a vida parou o pandeiro, parou o pandeiro de Jackson”
E fechando o disco “Zum Zum Zum Pancada” que fala da pancada na cabeça que é um samba bem feito, referenciando o clássico de Jorge Ben:
“Alto que fala
do alto falante
samba noise
esquenta o barracão
do alto falante
samba noise
esquenta o barracão
Zum, Zum, Zum Pancada
Pancada na cabeça”
Pancada na cabeça”
Com
duração próxima de 30 minutos o filho único da banda é um ótimo que tem
produção por Carlo Bartolini que já produziu gigantes como Irá!
Pavilhão 9, Paralamas do Sucesso, e também teve participação de Pupilo,
da Nação Zumbi, na produção.

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