Tá afim de ouvir uma obra linda? O poeta do rap nacional está de trampo novo e com título bem sugestivo Mumm-Ra High Tech, que remete ao personagem milenar, antagonista na série Thundercats. E é assim que GOG,
o rolo compressor, de carreira milenar, se define: um dinossauro do
rap, porém sempre atualizado, tanto em letra, lírica e produção musical.
E é nesse álbum de apenas nove faixas, pensando para vinil, que ‘GêóGê’
traz sua contemporaneidade com letras que falam o gueto, universo
periférico, sobre a cena do rap, violência policial, caos político,
esquizofrenia midiática e, é claro, sempre sendo porta voz dos negros e
negras do nosso mundão.
O
disco é o de número 11 na carreira do rapper de Brasília, e foi feito
financiamento coletivo, uma forma do público ajudar o artista a
idealizar seus projetos.
O disco abre com “Universo Gueto”, produzida por DJ Caíque,
que traça um paralelo entre as quebradas do Brasil com as raízes
africanas. Também registra a atual cena do rap: “Tem embalo no RAP,
tirando quem embalou o RAP”.
“África um continente, com grande contingente
De gente inteligente, cada país uma artéria
Curte Fela
CUT
Afrobeat
Origem: Nigéria
Rap nacional é coisa séria”
De gente inteligente, cada país uma artéria
Curte Fela
CUT
Afrobeat
Origem: Nigéria
Rap nacional é coisa séria”
A faixa dois do álbum é “Relógio do MC”,
GOG lembra que o rap é DJ e MC e que a missão dessa dupla é muito mais
do que simplesmente divertir, com sample’s que remetem aos bailes black,
a faixa foi produzida por Leo LP:
“O caminho é longo sim, tem fim DJ.
Então grita ai, quero ouvir, cheguei.
Riscos todos correm para verem sua performance.
Romance, beats, gritos, envolvem-se.
Pretos, guetos, esqueletos de todas as etnias,
balanço, avanço, asfixia da telegenia,
África todo dia, teria africania,
mono, estéreo, estéril sem monotonia,
risco do disco é grafia, caligrafia.”
A música seguinte é “Control S dor”,
também produzida por DJ Caíque, como a letra sugere “é a favela nas
teclas do computador”, GOG fala de 'Salvador' usando as teclas do PC:
“Digitei no impulso, já com teclado em curso
Aplicativo Trava, Ampliei o Zoom
Todos Amigos, Amigos em Comum
Alt lá, Messenger pra cada um”
Aplicativo Trava, Ampliei o Zoom
Todos Amigos, Amigos em Comum
Alt lá, Messenger pra cada um”
“NegrAtividade”, produzida por Leo LP, uma track que mescla o rap com o trap, numa letra tensa que denuncia o racismo no Brasil:
“Me chamam negim,
cabelo pixaim,
planejam meu fim,
futuro feio pra mim,
soco no meu rim,
couro, tamborim”
A track cinco é a “Complô Corporação”, também produzida por Leo LP, e contém depoimentos do documentário “Mães de Maio — Um Grito por Justiça”.
A letra retrata uma família que perde um membro, a omissão da morte
para com os filhos e depois o choque que a progenitora tem ao descobrir
que é mais uma 'Mãe de Maio’:
“A pouco tempo ouvi falar em África,
um folheto num balcão de uma gráfica,
pensei que fosse oração naquele santinho,
levei pra ler a luz de vela no quartinho,
pra não acordar as crianças no colchão
chorei quietinha quando li a anotação.
Fui a reunião, forte emoção,
veio o desmaio,
ao saber que eu era mais uma das mães de maio”
“Microfone Mudo”, traz participação do Afro Ragga do grupo MOVNI,
de Brasília, o mesmo também produziu a faixa. GOG faz um reflexo sobre
ser negro e traça um paralelo sobre sua carreira e como a mídia só
procura os artistas negros e periféricos quando convém:
“Boné bordô que a mãe bordou,
já desbotou suas cores.
Dolores Duran, Durango Kid,
embala as noites do meu bem,
na kit o sofá-cama, um laptop e mais ninguém”
A canção sete é a “Escrevo Demais”, onde GOG da um panorama da periferia, mostrando a visão de vários personagens. Música produzida por DJ Caíque:
“Paz que nunca chega, desisto dessa paz
Babilônia em coma, abortou sonhos reais
Policial lança seu hit, desde outros carnavais
Olhos, ai ardem demais, oh o gás!”
Babilônia em coma, abortou sonhos reais
Policial lança seu hit, desde outros carnavais
Olhos, ai ardem demais, oh o gás!”
A faixa seguinte é “Sopa”,
com produção de Leo LP. GOG fez “Brasil com P", depois “Próxima Parte” e
por fim “Ponto Phinal”, todas com palavras que começam com a letra P,
depois escreveu “Dia D”, com todas palavras começadas com a letra D.
“Sopa” literalmente é uma sopa de letrinhas, nessa o poeta vai de A a Z,
se liga num trecho:
“Fome fez franquia, fiz figa, fiz freela.
Formei facu filosofia, GOG, guru, guia
Homem honrar hombridade, hilário
Há honraria, honrar instinto igualitário
Jogar jogo julgando, jogral,
Homem honrar hombridade, hilário
Há honraria, honrar instinto igualitário
Jogar jogo julgando, jogral,
jaula jogaram Jamal”
E fechando o disco, a faixa que dá nome ao álbum “Mumm-Ra High Tech”,
que também tem produção do DJ Caíque, onde GOG relembra suas origens,
quando começou no Hip Hop, o que faz tempo, mas ainda está na ativa,
cada dia se atualizando mais e mais, um verdadeiro ser milenar, um
Mumm-Ra High Tech:
“Usei fralda de pano, não estudei no Plano.
Aprendi a falar véio, (véio), aprendi a falar mano,
tomei banho nos canos, que rompia,
sou tão antigo que o rap era só periferia”
O
disco foi feito através do financiamento coletivo, e toda captação de
voz, edição, mixagem e masterização feitas pelo Leo LP. Trata-se do
décimo primeiro álbum do GOG, e como a caminhada é longo o poeta tem
muita coisa pra falar, com batidas contemporâneas, que busca conversar
com a nova geração, mas sem perder a essência do hip hop de Brasília, do
rap do GOG, Mumm-Rá High Tech é uma linda e apaixonante obra de arte como selo ISO 9000 do Gueto.
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