É
uma arte, é fazer referência, é homenagear, é apresentar, na sua
música, um outro artista para o teu ouvinte. Mas o que é o sample? O que
fazer um sample ou samplear?
A
parada remete ao início da cultura hip hop, lá no final dos anos 70 com
um cara chamado Clive Campbell, um jamaicano também conhecido como DJ
Kool Herc, nas festas que aconteciam nos guetos do Bronx rolavam muito
Funk/Soul Music, é a galera colava pra dançar, Herc percebeu que o ápice
de cada música era o momento que rolava só o instrumental, então
decidiu tocar dois discos iguais simultâneamente para isolar só o
instrumental, ou seja, enquanto o primeiro disco tocava, por exemplo 30
segundos de uma batida, o segundo disco estava a posto para que quando o
primeiro disco acabasse de tocar os 30 segundos esse segundo entrava em
ação, é o primeiro voltava para revezar com o segundo criando um loop
infinito, que ficou conhecido como “break”, daí veio a dança break e os
b.boys.
A
origem do sample se deu dessa forma, a palavra que vem do inglês e
significa “amostra”, resume bem a sua finalidade, pegar amostras de
discos afim de criar um novo instrumental. Logo em seguida Grandmaster
Flash introduziu o scratch, o arranhar do vinil voltando o disco para
repetir uma frase, palavra ou
efeito, mas antes disso gerando um ruído (agradável). É comum o scratch
anteceder ou suceder o sample. Com o instrumental isolado, tendo uma
batida para si os MC’s começaram a rimar com esse plano de fundo, daí
veio o rap.
A
essência do rap, que consiste no MC e DJ, era um jeito de fazer música
sem ter uma banda com bateria, teclado, baixo ou guitarra, pois esses
elementos já estão no sample.

“Quando
pedem para eu tocar um set de hip hop, tem pop, rock, jazz, blues,
funk, disco, R&B. Toco breaks de 20 gêneros diferentes. Isso é hip
hop. Essa era a ferramenta que existia nos anos 70: para estar no topo,
tínhamos de ter os discos” — Lembra Grandmaster Flash.
Os
primeiros grupos de rap brasileiro usavam o instrumental criado,
através de samples, dos grupos de New York, como por exemplo Miele com o
“O Melô do Tagarela”, considerado o primeiro rap gravado no Brasil, de
1980 usou o instrumental de “Rapper’s Deligth do Sugarhill Gang, outro
exemplo é o de Ndee Naldinho, na época com a alcunha de Ndee Rap que
usou o instrumental de Chubb Rock em “DJ Innovator” para criar o “Melô
da Lagartixa”.
O
rap brasileiro foi evoluindo, é a arte do sample também, agora ou invés
de simplesmente pegar emprestado um instrumental, os DJs começaram a
criar suas batidas através dos seus samples, como por exemplo KL Jay,
dos Racionais MC’s, na música “Homem na Estrada” que usou sample de Tim
Maia, “Ela Partiu”, mas outro trabalho foi bem mais complexo, o
“Capítulo 4, Versículo 3", também dos Racionais fez com que KL Jay
utilizasse cinco samples diferentes, para criar a batida usou “Express”
de Tom Scott & L.A. e a linha de baixo de “Peixe and Vanity” da Ohio
Players, antes da música começar, logo após as estatísticas narradas
por Primo Preto há uma introdução que foi retirada de “Slippin' Into
Darkness” do grupo War, ali nos 1 minuto e 55 segundos, no refrão,
quando ouvimos “Aleluia” é a voz de Sade com sample retirado do instante
2:52 dá canção “Pearls”, e quando Brown cita “Filha da puta, pá, pá,
pá…” é um sample retirado do grupo brasileiro MRN do rap “Eles não sabem
nada”, do instante 2:22.
E
vários rappers da música nacional viveram de samples como Thaide em
“Senhor Tempo Bom” que teve sample de “Jean Kinigt” de Mr Big Stuff, RZO
na música “Paz Interior” que tem sample de Adriana Evans na música
“Love is all Arround”, Marcelo D2 em “Baseado em Fatos Reais”, com duas
amostras, a primeira de Zimbo Trio com “Bebe" e outra com The Mohawks
com “The Champ”.
GOG,
conhecido como poeta, é um artista que muito valoriza a música nacional
e assim usou muito sample brasileiro como por exemplo a faixa “Foi
somente onda" sampleado dá música “Onda” do Cassiano, ou “Quando o Pai
se Vai” com sample de “Como” do Paulo Diniz, ainda tem “Rua sem nome,
barraco sem número” com amostra de Paulo Sérgio em “Ninguém pode proibir
que eu te ame” e do finado Sabotage com “Um Bom Lugar” e “África
Tática” com Casa das Máquinas em “Liberdade Espacial”, isso para citar
alguns samples do mestre GOG.
E
não é só o rap ou movimento hip hop que utiliza a arte de samplear, o
rock também, por exemplo Os Paralamas do Sucesso, na música “Óculos”
pegaram o momento 1:09 de “Hands Off…She’s Mine” de The Beat. Os
Engenheiros do Hawaii usaram o “Hino dá Independência do Brasil” em “Era
um Garoto…”, Skank em “É Proibido Fumar” usou sample de Henry Mancini”,
Chico Science e Nação Zumbi em “Samba Makossa” usaram sample de Don
Cherry em Brown Rice, o Charlie Brown Jr usou em “Não uso sapatos”
sample de Fugazi em “Waiting Room”, O Rappa em “Miséria S/A” usou sample
de Remarc em “Sound Murderer”.
Outros
estilos, como o reggae do Cidade Negra, “Querem o Meu Sangue” foi
sampleado de Jimmy Cliff em “The Harder They Come”, na MPB, Gilberto Gil
sampleou Jonh Willians em “Wild Singals" para compor “Ê Menina”, usou
sample de Jonh Willians, em Wild Signals,de 1977.
O
sample é um artifício muito importante é magnífico, se bem utilizado,
mas tem que funcionar como uma referência bibliográfica, não só na
questão do original ser citado, mas o trecho sampleado não pode ter mais
evidência que a música (nova) toda. Como próprio nome diz, sample é uma
pequena amostra, e através dela que conhecemos músicos, que são
apresentados nas obras dos artistas que admiramos.
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