Nunca
Tem Fim, nunca tem fim! É o coro para O Rappa, os veteranos da musica
brasileira, com mais de 20 anos de estrada lançam em 15 de agosto de
2013 o nono disco da banda. Depois de 5 anos sem lançar nada de inédito,
coube a Tom Saboia produzir a parada. Com capa desenhada por Mike
Deodato Jr, onde pela primeira vez em 20 anos a banda é representada na
capa de um CD.
Logo
no início do disco a voz distorcida do Falcão em cima das levadas de
guitarra de Xandão, e efeitos eletrônicos: “O caminho não está pronto,
mas é preciso procurar sempre mais...”, é a música O Horizonte é Logo
Ali, em seguida Auto Reverse, que arrebentou nos autos falantes do
Brasil em 2014, uma poesia simples e pura:
“Que pulsa no peito
Que sente e não julga
Que tira do sério
E acende um na cidade
E não dá pra explicar
Aí que tá o mistério, meu irmão”
Que sente e não julga
Que tira do sério
E acende um na cidade
E não dá pra explicar
Aí que tá o mistério, meu irmão”
Vale
citar, mano, que o clipe dessa música está repleto de histórias de
superação, como a de Michel do Passinho, vencedor da disputa do
passinho, e rei do equilíbrio sem ter os membros superiores, e também a
história de Dexter, rapper paulista, passou um perrengue na prisão, e
que de trás da muralha continuou sua batalha no rap (Mandela brasileiro,
é você amigo, como citou o poeta G.O.G.). A terceira faixa é uma oração
mais swingada Boa Noite Xangô, onde Falcão numa vibe (Ohh Viiibee!)
canta animadamente: “Sigo a multidão, não sou ninguém. Depois que te
encontrei, alguma coisa me fez tão bem...Soou feliz, soou feliz”. O CD
muda drasticamente de tom, e fica mais sério e sombrio na canção Cruz de
Tecido, que traz um tema diferente de qualquer outra canção nacional,
numa levada mais rap, voltando a critica social do grupo, a música fala
sobre o acidente da TAM em São Paulo, no aeroporto de Congonhas, onde
199 pessoas faleceram na tragédia.
“Olhos em pânico refletem as chamas
Que cruzam o céu da avenida
De encontro a estrutura de aço e concreto
Muitas almas perdidas
Que cruzam o céu da avenida
De encontro a estrutura de aço e concreto
Muitas almas perdidas
A música chama atenção da nação
Chocando a sociedade
No plantão que conta a triste verdade”
Chocando a sociedade
No plantão que conta a triste verdade”
A
música Fronteira (D.U.C.A.) conta a história das pessoas que atravessam
fronteiras entre países carregando drogas para traficantes, os chamados
mulas, o trecho forte da canção é: “Não existe nada melhor nesse mundo,
do que ser livre, é a frase de um amigo meu que pegou 11 anos por causa
de um deslize”. A cereja do bolo, e uma das músicas mais tocadas nas
rádios em 2014/2015 é a sexta canção do Nunca Tem Fim, música que
Marcelo Falcão escreveu para sua tia, onde fala insistententemente de
fé:
“Te mostro um trecho, uma passagem de um livro antigo
Pra te provar e mostrar que a vida é linda
Dura, sofrida, carente em qualquer continente
Mas boa de se viver em qualquer lugar
É
Pra te provar e mostrar que a vida é linda
Dura, sofrida, carente em qualquer continente
Mas boa de se viver em qualquer lugar
É
Volte a brilhar, volte a brilhar
Um vinho, um pão e uma reza
Uma lua e um sol, sua vida, portas abertas”
Um vinho, um pão e uma reza
Uma lua e um sol, sua vida, portas abertas”
Próximo
som é uma pegada pesada de guitarra mesclada com metais em Doutor, Sim
Senhor! Letra que fala das mazelas sociais: “Criaturas não visíveis no
cenário urbano em situação estatua no cotidiano, o ar quente desespera
quem está lá fora
O ar frio perdulário dentro, dentro...Imagem que passa de fora da vitrine, dos que não tem lugar ou assento...”. Sequencia Terminal, aos sons de metais a voz poética de Falcão declama: “Hora de cuidar como todo dia, porque o mundo não acabou e nem deveria, por que dar um final ao lixo da cidade terminal? Fumaça só uma brisa Deus do céu, passou, passou!”
O ar frio perdulário dentro, dentro...Imagem que passa de fora da vitrine, dos que não tem lugar ou assento...”. Sequencia Terminal, aos sons de metais a voz poética de Falcão declama: “Hora de cuidar como todo dia, porque o mundo não acabou e nem deveria, por que dar um final ao lixo da cidade terminal? Fumaça só uma brisa Deus do céu, passou, passou!”
A
Vida Rasteja mantem o clima poético do CD, trazendo mais classe ao CD,
novamente a faixa é declamada: “A máquina desgovernada, consome a
vontade de ficar na paz, orgasmo de raiva, e a vida aqui vale muito
mais...Videogame de adulto besta não é bom pra cabeça e pelas crianças
você pode ver, ao mesmo tempo, tanta beleza, a vida rasteja”
O
disco se encerra com uma última faixa que é na verdade duas músicas: Um
dia Lindo, que conta com versos incidentais de Praia e Sol, música de
Bebeto, além da participação mais que especial de Edi Rock, rapper dos
Racionais MC’s (essa não é a primeira dobradinha entre O Rappa e
Racionais MC’s, Falcão e Edi Rock já se juntaram com Alexandre do
Natiruts para a música “Abrem-se os caminhos”, onde o refrão diz: “os
reggaeman e os vida loka, juntos para todo mundo ver, que a união é o
que faz a força...”, e quem é da época da MTV já deve ter deparado com
algum especial da emissora, onde o vocalista do Rappa cantava Diário de
um Detento logo após Todas as Comunidades do Engenho Novo). Voltando a
última faixa do Nunca Tem Fim, é bem animada, no estilo samba rock e
soul, anos 70/80, com direito a um um lalalá lalalá de fundo em cima dos
baixos distorcidos de Lauro Faria, e de forte letra: E quem não tem
escolhas não sabe o que fazer, pois se perdeu na sombra de escolhas de
um outro proceder, bomba relógio, molecada nas ruas sem ler e escrever,
como um cara perdido na rua vivendo no mundo sem um porquê”, e segue na
mesma batida os versos de Praia e Sol na Voz de Marcelo Falcão: “Praia e
sol, Maracanã, futebol...”
O
CD Nunca Tem Fim entra na lista dos melhores discos nacional do
Submundo do Som, afinal a grande mídia não vai dar esse reconhecimento,
mas quem tem ouvido que ouça: O Rappa, Doutor, Sim Senhor!
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